Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Descubra o gancho do título

PICADEIRO

O Observatório propõe um jogo ao leitor.

Leia atentamente a entrevista abaixo, publicada na Folha de S. Paulo de domingo, e encontre ? se puder ? a frase do governador Geraldo Alckmin de onde foi tirado o título "Lula pode decepcionar, afirma Alckmin".

Respostas para <obsimp@ig.com.br>. (M.C.)


"Tucano diz que pretende imprimir marca própria ao mandato e que fará oposição fiscalizadora ao governo petista

Lula pode decepcionar, afirma Alckmin

José Alberto Bombig, Julia Duailibi, Liege Albuquerque

Reeleito com cerca de 12 milhões de votos para comandar o principal Estado do país, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), 49, teme que a expectativa formada em torno de Luiz Inácio Lula da Silva se transforme em frustração caso o petista não consiga cumprir suas promessas de campanha, como a manutenção de baixas taxas de inflação.

Desde o último domingo, logo após o resultado das urnas, o tucano tem dito que ajudará o presidente eleito do Brasil, Lula, no que for de interesse do país e de São Paulo e chega a repetir o bordão petista de que ?a esperança venceu o medo? na eleição nacional.

?Não tenho pretensão em ser vitrine. São Paulo tem de trabalhar. Quero que o presidente Lula vá bem. Isso é bom para todo mundo?, afirmou. Mas deixa claro que fará uma oposição fiscalizadora e crítica ao governo do petista. Com a reeleição, além de se legitimar como um dos presidenciáveis do partido em 2006, o seu governo é estrategicamente importante para os planos futuros do PSDB: é agora a maior ?vitrine? tucana.

Com seu estilo sóbrio, Alckmin afirma que, primeiro, quer imprimir sua marca ao mandato que se inicia em 1? de janeiro, pois herdou, em março do ano passado, o governo de Mário Covas.

Nesta semana, se reúne com a dire&ccediccedil;ão do PSDB e com o tucano Aécio Neves, o governador eleito de Minas Gerais, que também se reafirmou como uma das principais lideranças do partido, para planejar o futuro da sigla.

Na última quinta-feira, Alckmin recebeu a Folha no Palácio dos Bandeirantes:

Folha ? O sr. acha que existe risco de frustração com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva?

Geraldo Alckmin ? Acho que esse risco existe, mas o presidente eleito tem transmitido mensagens de realismo, não criando uma expectativa que não possa ser transformada em realidade. Qual é a mensagem? Manter inflação e as contas públicas sob controle.

Essa é uma exigência de qualquer governo. Mensagem importante nesse sentido. A outra é o combate à fome, que é correto e exequível. Não é nada absurdo. Aliás o que pode ser discutido é a forma como fazê-lo.

Folha ? Mas o sr. acha que Lula está se projetando como uma figura quase messiânica?

Alckmin ? Na realidade, quem é eleito com a maioria dos votos, perseverança, origem, trajetória de vida, cria uma expectativa grande. Não acho que isso seja ruim porque, na realidade, governo é confiança.

Folha ? O sr. tem medo de um governo petista?

Alckmin ? Não tenho medo de ninguém que o povo elege.

Folha ? O sr. consolida-se no cenário nacional como uma liderança do partido cotada para disputar a Presidência. Aliados, no entanto, avaliam que o sr. deveria projetar mais o seu nome nacionalmente.

Alckmin ? Durante a campanha, disse que queria ser um modelo de que a reeleição é possível entre padrões éticos. Acho que consegui. Hoje a minha pretensão é fazer uma nova política, sem esse sectarismo partidário, uma coisa mais ampla. E preocupado exclusivamente em fazer um bom governo. Esse é o caminho. Para isso eu fui eleito. Não fui eleito para ser eleito no futuro.

Folha ? Mas há tucanos ?alckmistas? trabalhando pelo nome do sr. em 2006.

Alckmin ? Acho que dentro dessa nova política não cabe personalismo. Não quero criar nem ?geraldistas? nem ?alckmistas?. Não é essa a lógica. Essa é uma política que não é adequada. Nós temos de fazer um bom governo para o povo de São Paulo, cumprindo um papel social-democrata. Esse é o caminho. Não criar personalismo. Aliás, deveríamos fazer o contrário: reforma política com cláusula de barreira.

Folha ? Estrategicamente, São Paulo, o principal Estado do país, deve ser a principal vitrine da oposição a Lula?

Alckmin ? Não tenho pretensão em ser vitrine. São Paulo tem de trabalhar. Eu quero que o presidente Lula vá bem. Isso é bom para todo mundo.

Folha ? O sr. acha que o PT vai querer que o sr. vá bem?

Alckmin ? Eu não sei. Eu vou trabalhar para São Paulo.

Folha ? O candidato do PSDB, José Serra, enfrentou traição dentro do partido, como a do governador eleito Aécio Neves, que deu palanque a Lula em Minas?

Alckmin ? Em política não se obriga, se conquista.

Folha- Então Serra não conquistou?

Alckmin ? Eleição se ganha e se perde. Acho que devemos aprender com as vitórias e com as derrotas. O PSDB é um grande partido, com quadros, história e princípios éticos. O que precisa é amassar mais barro, comer poeira. É se inserir mais nos movimentos populares, até para ser melhor intérprete das vontades sociais. Serra é um dos melhores quadros do PSDB. Eleição também é momento, sentimento de mudança. Serra fez uma boa campanha, foi para o segundo turno. Acho que será… O Brasil não pode abrir mão de quadros dessa estatura.

Folha ? O sr. acha que ele será candidato de novo em 2006?

Alckmin ? Está muito cedo para falar em 2006.

Folha ? Mas em 2006 o sr. não pode se reeleger mais. O que fará?

Alckmin ? Minha mulher dá graças a Deus que eu não vou poder me reeleger (risos). Vamos cumprir nosso dever hoje. O futuro trará a sua própria aflição.

Folha ? E 2004? A Prefeitura de São Paulo, hoje com o PT, tem uma importância fundamental para os planos políticos dos tucanos.

Alckmin ? Sou contra antecipar a sucessão. Agora é trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Folha ? O sr. acha que o PSDB está mudando de cara? Deixando um pouco o lado mais ideológico de seus fundadores e seguindo um caminho mais pragmático, representado pelo sr. e outros nomes que chegam ao poder?

Alckmin ? Eu sou a oitava ficha de filiação do partido. Não são incompatíveis. Acho que devemos ter bons formuladores, acadêmicos. Acho que as coisas se completam. Mas, se você não tiver rumo, direção, também não adianta.

Folha ? Como o sr. se definiria?

Alckmin ? Acho que entre as duas coisas. O PSDB é um bom partido. Perder eleição faz parte do processo democrático. É uma tarefa também do partido formar novos quadros, trazer novos quadros, dar oportunidade para muita gente boa que quer contribuir para a vida pública

Folha ? Como vai ser sua relação com o PT?

Alckmin ? Na segunda-feira, a prefeita Marta Suplicy me telefonou e eu falei para ela: ?Vamos trabalhar juntos?.

Folha ? O sr. já marcou uma reunião com o Lula?

Alckmin ? Eu telefonei para o presidente eleito, o Lula. Ele foi simpático. Foi uma boa conversa. Claro que, uma conversa com o presidente, é ele quem deve convidar. Ele pretende periodicamente conversar com os governadores, manter um canal de diálogo permanente.

Folha ? Como o sr. acha que deve ser o governo dele?

Alckmin ? Vejo com esperança. O Lula é depositário de uma enorme esperança da população. A esperança venceu o medo, isso é muito positivo. O eleitorado está muito maduro. Elegeu o presidente do PT e os governadores de outros partidos.

Folha ? Como se manter na oposição e cooperar com o governo?

Alckmin ? Esse é um diferencial importante que o PSDB deve colocar. Na democracia, quem ganha a eleição governa, quem perde fiscaliza. Isso é bom, é positivo. Agora, a oposição que os tucanos devem fazer é no sentido de ajudar o país, não de prejudicar. Quando você faz uma crítica, quando enfoca um problema sobre outro ângulo, você está ajudando inclusive a quem governa. É de Santo Agostinho: ?Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem?.

Folha ? O sr. se reelegeu falando em um governo com a sua marca. O que muda em relação a Covas?

Alckmin ? Os princípios não mudam. Austeridade, respeito ao dinheiro público e investimento na área social. Uma coisa é assumir o governo na metade, pelo falecimento do titular, com projetos em andamento e equipe formada. Nós demos continuidade. Agora tenho legitimidade popular e a perspectiva dos quatro anos. Priorizarei o desenvolvimento."