RESPONSABILIDADE E ÉTICA
O desempenho da imprensa americana no 11 de setembro foi impecável: rádio, TV e mídia impressa estiveram à altura da situação, na opinião de H.D.S. Greenway [Boston Globe, 5/7/02], e o público respondeu aumentando índices de audiência e de circulação de jornais e revistas. Mas a performance da mídia noticiosa antes dos atentados merece reparos. Como exemplo, ele cita os vários avisos ? ignorados por jornais e emissoras ? de agências de segurança sobre o risco de ataques terroristas: o release da comissão Hart-Rudman em 1999 sequer foi mencionado pelo New York Times, afirma.
Segundo o autor, foi nos anos 90 que a cobertura internacional quase desapareceu da imprensa americana. Em 1972, a seção de internacional representava 10% do conteúdo dos jornais, e encolheu para menos de 2% na última década. O mesmo de repetiu nos grandes canais de rede aberta: nos anos 80, 40% dos telejornais era dedicado a notícias estrangeiras, porcentagem que caiu para 12% dez anos depois. Alguns jornalistas dizem que a mídia não se interessa mais em estimular o debate do qual a democracia depende, e lembram que a Primeira Emenda não implica apenas liberdades, mas também obrigações.
Esta "renúncia à responsabilidade" poderia ser explicada pelo fim da propriedade familiar de meios de comunicação ? substituída pelo controle de grandes corporações ? a luta por margens maiores de lucro ou mesmo pelo desinteresse pelo mundo pós-Guerra Fria. Leonard Downie e Robert Kaiser, autores de "The News about the News", acreditam que "muitos dos que conduzem a mídia noticiosa da nação entenderam cinicamente ou ignoraram a necessidade de um bom jornalismo, e se esquivam da responsabilidade de fornecê-lo". A prova disso estaria "na superficialidade, na obsessão por celebridades e no apelo aos anunciantes que se insinuou na reportagem da última década".
Nesta guerra contra o terror, a imprensa tem um papel vital a cumprir, alerta Greenway. Ou acontecerá o que James Hoge, editor de Foreign Affairs, previu: "As relações internacionais permanecerão nas mãos de uma pequena elite informada, com o consentimento tácito de um público relativamente indiferente".
No dia 12 de setembro, John Smierciak, fotojornalista do Chicago Tribune, partiu com o grupo de bombeiros da cidade que ajudaria nas buscas nos destroços do World Trade Center. Quando chegaram, o fotógrafo insistiu em ser apresentado aos bombeiros de Nova York para esclarecer quem era e o que estava fazendo. Por fim, para não ser confundido com o pessoal do resgate, recusou equipamentos de proteção, e passou a registrar o trabalho no ground zero.
Horas mais tarde, ao aceitar a camiseta limpa que um bombeiro lhe ofereceu, Smierciak não imaginou que as iniciais estampadas ? CFD (Departamento de Bombeiros de Chicago) ? seriam um problema. Depois de ter enviado as fotos ao jornal, soube que decidiram não publicá-las, pois julgaram que ele pode ter sido confundido com um bombeiro, o que seria antiético mesmo que ninguém tenha notado. William Parker, editor de fotografia, revela que nunca viu as imagens, apenas baseou sua recusa no fato de que o fotógrafo pode não ter sido visto como um jornalista.
Don Wycliff [Chicago Tribune, 4/7/02] conta que o caso surgiu depois que uma situação semelhante foi relatada por Ken Auletta no New York Times. Segundo ele, o repórter C.J. Chivers, ex-fuzileiro naval, vestiu a antiga camisa e alistou-se como voluntário por duas semanas. O editor de cidade do Times, Jonathan Landman, defende Chivers, dizendo que ele realmente atuou como voluntário, e que as matérias que escreveu não foram enganadoras nem tiraram vantagem do fato de ter acesso ao ground zero.