Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Despreparados para o terror

JORNAIS

Se se confirmar o alerta do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, sobre a possibilidade de novo ataque terrorista no país, a maioria dos grandes jornais americanos não estará preparada para fazer a cobertura de eventos como os atentados de 11/9. "É tão amplo que fica difícil saber que caminho tomar", diz o editor do New York Times, Andrew Rosenthal. O principal problema naquela ocasião foi deslocar equipes para as áreas de desastre com tráfego aéreo interrompido.

"Tínhamos oito pessoas em Nova York e precisávamos de 40", recorda John Carrol, editor do Los Angeles Times. "Mesmo quando alugamos um avião, não pudemos usá-lo por vários dias porque todos os vôos estavam proibidos." A maioria dos editores ouvidos pela Editor & Publisher [27/5/02] admite que, mesmo sabendo da dificuldade de deslocamento em novo ataque, nenhuma medida de precaução foi tomada para contornar o problema. "Por natureza, a notícia é uma surpresa. Tem de se escolher as opções disponíveis na hora", diz Tom Fiedler, editor do Miami Herald, que em setembro enviou três repórteres de carro a Nova York. O jornal tem dois planos de emergência para acontecimentos especiais. Um é para furacões, e o outro para uma eventual saída de Fidel Castro do poder em Cuba.

A melhor articulação está nas redes de jornais, que, em setembro, aumentaram sua comunicação interna e podem operar melhor de forma coordenada em nova situação de emergência. É o caso do grupo Gannett, que engloba, entre outros, The Indianapolis Star e The Cincinnati Enquirer, e usou como base, em setembro, o Journal News, em White Plains, no estado de Nova York.

O Washington Post, por sua proximidade de importantes instituições governamentais na capital do país, é um dos poucos diários com mudanças significativas depois de setembro. Contudo, elas não aconteceram na redação. Os três pontos de impressão do jornal foram modificados de modo que cada um pode, eventualmente, produzir tudo sozinho.

DANIEL PEARL

O jornal alternativo Boston Phoenix planeja publicar as imagens do assassinato de Daniel Pearl, repórter do Wall Street Journal executado no Paquistão. Em maio, a CBS News transmitiu parte do vídeo gravado pelos terroristas islâmicos que o seqüestraram, no qual o jornalista admitia ser judeu. Pela primeira vez, no entanto, um veículo pretende mostrar as cenas da decapitação do jornalista.

O sítio do Phoenix oferece um link para o vídeo, o que dobrou o número de acessos diários para 40 mil. O publisher Stephen Mindich defende a decisão: "É uma coisa importante a que as pessoas devem ter acesso. Há uma diferença extraordinária entre ter uma descrição do que aconteceu e realmente vê-la." Em editorial na internet (6/6/02), intitulado "Liberdade para escolher", o jornal explica que divulga o link porque não cabe ao FBI decidir se devemos ou não assistir ao vídeo, mas a cada um de nós, já que o material tem o "mérito de nos lembrar, como o 11 de setembro fez, do que os terroristas antiamericanos são capazes". Para ele, não se sustenta a afirmação de que mostrar o vídeo é propagar a mensagem do inimigo. Em resposta à declaração de que exibir as imagens seria um desrespeito à família de Pearl, o jornal argumenta que a mídia "nunca deixou sentimentos de parentes pesarem na decisão" de mostrar as pessoas se jogando das torres gêmeas, no dia dos ataques.

Bob Steele, professor de Ética do Poynter Institute, acha que em alguns casos mostrar imagens detalhadas dos acontecimentos pode ajudar a contar a história. "Mas neste caso, não há mistério que possa ser resolvido com a divulgação de tais imagens, então o fim jornalístico escapa à minha compreensão."

Na opinião de Mindich, Pearl teria gostado de que as pessoas vissem o horror praticado pelos terroristas, e questiona se os outros veículos não a divulgaram por cortesia ao Wall Street Journal. Peter Johnson [USA Today, 5/6] perguntou se eles fariam o mesmo se alguém de outra profissão fosse executado de forma tão brutal. A resposta: "Isto é algo para as escolas de Jornalismo discutirem no futuro."