CASO BENEDITA
Clóvis Luz da Silva (*)
A imprensa brasileira tem dado um espaço ao mesmo tempo generoso (na quantidade) e suspeito (nas entrelinhas) ao fato de Benedita da Silva ter ido a Buenos Aires, segundo ela, em viagem oficial, mas, segundo a imprensa, para fins particulares, qual seja, participar de um encontro de líderes de igrejas evangélicas.
Se Benedita da Silva realmente usou a viagem supostamente oficial para tratar de assuntos pessoais, aliás, pessoalíssimos, já que se tratou de evento religioso, que dizia respeito às suas convicções espirituais, ela deve ser punida por isso, sim, dentro dos rigores da lei. A minha ressalva é que, aparentemente, o fato de ser uma mulher, negra, ex-favelada e evangélica o centro do "escândalo" está se revelando como o único elemento que justifica a sede da mídia pelo episódio.
Em Roma com o papa
Não tenho lembrança de tamanho destaque na imprensa a uma viagem supostamente oficial que tenha escondido interesses pessoais do viajante. Foi a primeira vez que isso aconteceu no país? Pobre Benedita.
Talvez, se fosse uma outra autoridade do governo federal que tivesse ido a Roma ver o papa, e depois participasse de uma missa na Basílica de São Pedro, tendo usado recursos oficiais para a viagem, o fato não tivesse tanta repercussão. E provavelmente não veríamos um senador que pensa com as vísceras, no caso o amazonense Arthur Virgílio, do PSDB, processando dita autoridade. O senador Magno Malta, evangélico, asseverou que o interesse da mídia pelo caso pode esconder uma velada perseguição aos evangélicos… Será? Daí a suspeição desse destaque todo na imprensa.
(*) Estudante de Letras da Universidade Federal do Pará, Ananindeua, PA