DEPOIMENTO / ANA ARRUDA
Registrado por Victor Gentilli
Jornalista, escritora, professora. Em maio deste ano, Ana Arruda Callado surpreendeu-se com um convite para integrar a Comissão de Especialistas de Ensino de Comunicação, tarefa de que vem dando conta, desde então, com uma disposição impressionante e um enorme carinho pelos estudantes.
Depois de muitos anos como professora na UFRJ, Ana Arruda agora retorna à PUC-RJ como professora de Jornalismo. No final de outubro, foi convidada a fazer parte de mais um órgão do Estado que cuida do ensino de Jornalismo no Brasil – a comissão que define os parâmetros e critérios para o provão de Jornalismo.
Entusiasmada com as novas tarefas, Ana Arruda deu o seguinte depoimento ao Observatório da Imprensa:
"Vejo o provão como algo necessário. Antigamente, os médicos só se formavam com uma tese. Daí serem chamados de doutores. Hoje, batalhamos pelos trabalhos finais – projetos experimentais e monografias – dos alunos de Jornalismo. Mas, como saber se as escolas estão fazendo essas coisas direito? Daí ser boa a idéia do provão.
"Se os futuros jornalistas são os que mais boicotam o provão, isso tem um lado muito positivo. Jornalista tem que ser crítico, e o que vem do governo é sempre algo de que devemos desconfiar. Mas o boicote também mostra que o pessoal ainda não entendeu, ou não acreditou, na vontade de melhorar os cursos. Como alunos de universidades federais, por exemplo, podem acreditar que o governo quer melhorar os cursos, quando eles vêem a falta de verbas, o corte de bolsas e todo o descalabro que existe em muitas delas? Vemos, aqui e acolá, universidades particulares crescendo, ganhando o mercado, se aparelhando, enquanto as federais estão decadentes. Os melhores professores estão migrando…
"Enfim, o provão tem que ir se provando útil, para ganhar os estudantes para a batalha pela melhoria do ensino. É trabalho para a comissão.
"Quanto à prova propriamente dita, não ouso dar opinião. Tenho que ver com cuidado, porque sei que é gente competente que a elabora. Mas, decididamente acho que as duas comissões devem se entrosar. Não são ambas de especialistas em ensino de jornalismo? Mas, atenção. Acho a palavra integração forte. Cada uma tem sua tarefa. Os objetivos comuns é que devem ser discutidos.
"O ensino de Jornalismo no Brasil ainda é novo. Pense em como é ruim o ensino de Direito, o mais velho de todos. E o de Medicina, tão velho quanto, é bom? Acho que estamos em um bom momento de reflexões. E estas têm que ser permanentes. Não vamos nunca chegar a um optimum em matéria de como ensinar uma atividade tão importante, tão vasta e tão sujeita às mudanças tecnológicas como o Jornalismo. A cada momento é preciso repensar currículos, métodos de ensino, atividade laboratorial, relação disciplinas teóricas/disciplinas práticas. De qualquer maneira, posso afirmar que, com essa montanha de disciplinas ministradas separadamente, sem ligação umas com as outras, como em geral acontece, é difícil ajudar a formar um profissional que pense de maneira concatenada, como tem que ser o bom jornalista. Ainda existe o ensino de Técnicas de Redação separado do de Técnicas de Reportagem, por exemplo. Pode???"
Diretório Acadêmico – próximo texto