AFEGANISTÃO
A imprensa do Afeganistão renasce após anos de regime talibã. Jornalistas exilados ou aposentados involuntariamente voltam à atividade para alimentar uma população faminta de informação. Pelo menos 87 publicações já existem no país. "Nossa missão é ser como uma luz que mostra o caminho da democracia ao povo afegão", metaforiza Mohammad Fahim Dashty, editor-chefe de um semanário de Cabul fechado duas vezes: no regime dos mujahedin, no começo dos anos 90, e outra no governo talibã, quando Dashty teve de fugir para o exterior.
Contudo, como o Afeganistão está em situação muito complicada devido aos longos anos de guerra e à profunda miséria, a imprensa também encontra dificuldades, entre elas a descrença da população, acostumada à mídia estatal. O governo interino de Hamid Karzai acabou com o monopólio do Estado nos meios de comunicação, mas não há dinheiro para investir no ramo. O alto índice de analfabetismo condena a maioria das pessoas a se informar pelo rádio. Somente com apoio do Centro Báltico de Mídia, sediado na Dinamarca, foi possível criar um novo programa, A voz do Afeganistão, que imediatamente se tornou favorito do público.
Os jornais não conseguem se custear com o preço de capa. Assim, as publicações têm de trabalhar no vermelho ou se associar a alguém que as financie, o que acaba com sua independência editorial.
O governo reconhece que a imprensa livre é peça-chave da democracia, e tenta estimular a criação de veículos. Mas tropeça em velhos hábitos. Numa coletiva de Karzai, um repórter ? que era o único afegão que teve permissão para estar presente ? tentou perguntar ao presidente se ele havia discutido com Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, questões fronteiriças. Karzai nem deixou que o repórter terminasse de falar, e a TV Cabul o demitiu no mesmo dia. Felizmente, foi recontratado. "O incidente irritou muita gente na imprensa local", comenta Dashty. "Primeiro não deixaram que os jornalistas afegãos entrassem no palácio. Depois não permitiram perguntas, porque sabemos que Musharraf apoiava o Talibã e é fonte de desgraça para nós."
INDONÉSIA
Os jornalistas da Indonésia temem que a liberdade de imprensa de que gozam esteja acabando, apenas quatro anos após ser instituída com o fim da ditadura de Suharto. O último sinal neste sentido foi a negação de renovação do visto do correspondente australiano Lindsay Murdoch.
O repórter se indispôs com o governo por revelar em artigo de 1999 um plano militar de separação de crianças dos pais no Timor Leste, que lutava pela independência. Também gerou conflito ao denunciar que soldados indonésios mataram um bebê com água fervente na província separatista de Aceh. Apesar da lei que proíbe a censura, de 1999, a presidenta Megawati Sukarnoputri (filha de Sukarno, líder da independência indonésia), recriou o Ministério da Informação e Comunicação, que na era Suharto controlava a imprensa. Também está sendo preparada lei que permite a funcionários públicos de baixo escalão tornar informações do governo confidenciais segundo seus próprios critérios.
O Comitê de Proteção aos Jornalistas, sediado em Nova York, afirma que os jornalistas indonésios que cobrem assuntos regionais ou políticos têm sido ameaçados e atacados de modo crescente nos últimos meses. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Marty Natalegawa, nega esta alegação: "Queremos a maior liberdade de imprensa. Nenhum de nós pensa em voltar ao passado."
Na época de Suharto, como relata Ian Timberlake [San Francisco Chronicle, 21/5/02], os jornais só podiam funcionar com licença do governo que custava centenas de milhares de dólares. A única associação de jornalistas permitida estava sob controle do regime. O sucessor de Suharto, B. J. Habibie, introduziu um período de liberdade política e livre expressão, acabando com a caríssima licença, o que fez o mercado ser inundado por centenas de publicações. Hoje, há sérios problemas com a imprensa marrom, que freqüentemente cria escândalos com reportagens sobre crimes e revelações sobre a vida sexual de políticos.
BANGLADESH
Organizações de defesa da imprensa exigiram medidas enérgicas do primeiro-ministro de Bangladesh, Begum Khaleda Zia, para punir os responsáveis pela onda de ataques a repórteres no país. "O governo precisa acabar com a impunidade dos que atacam jornalistas fisicamente, incluindo seus próprios correligionários", diz carta conjunta dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e do Centro para Desenvolvimento, Jornalismo e Comunicação de Bangladesh.
Integrantes do Partido Nacionalista de Bangladesh (PNB), da situação, seriam os autores da maioria das agressões, que normalmente ocorrem com profissionais que fazem algum tipo de crítica ou investigação da coalizão governista entre o PNB e o Jamaat-i-Islam. Segundo o sítio OneWorld.net, nas últimas semanas houve pelo menos oito incidentes. Jahangir Alam Akash, correspondente do Daink Sangbad, em Rajshahi, por exemplo, foi apedrejado, mas a polícia não quis registrar sua queixa.
Desde o começo de maio, filiados ao PNB invadiram um clube de imprensa em Motbaria, alvejaram bancas que vendiam jornais oposicionistas e ameaçaram de morte seis repórteres de Bagerhat. As duas entidades denunciam que, desde a chegada de Zia ao poder, em outubro de 2001, mais de 80 jornalistas e fotógrafos sofreram ataques da coalizão governista. "É sempre a mesma coisa", reclama Mainul Islam Khan, do Centro, "um jornalista escreve algo crítico ao PNB e apanha de seus ativistas que geralmente são funcionários do partido em tempo integral".
O governo do país asiático, que é o terceiro maior do mundo e tem maioria islâmica, acaba de proibir a transmissão de oito canais de satélite alegando "infiltração cultural": os canais musicais MTV e Channel V, HBO, MGM, Hallmark, AXN, Star Movies e Star World. Segundo a BBC [19/5/02], as operadoras de TV a cabo também deixaram de transmitir alguns canais internacionais, como a italiana RAI, a espanhola TVE e a russa PTP.