Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Diálogo de jornalistas palestinos e israelenses

ORIENTE MÉDIO

O prestigioso jornal britânico The Guardian organizou na semana retrasada o Diálogo de Editores do Oriente Médio, encontro em Londres entre jornalistas israelenses e palestinos para discutir as dificuldades de cobrir o conflito entre seus países.

No primeiro contato, apesar das diferenças políticas, já trocaram cartões de visita e e-mails. Atitude esperada em um ambiente onde jornalistas de um lado precisam estar em contato com colegas do outro lado para ter informações quando há necessidade. “O que há por trás do último discurso de Yasser Arafat?” “A versão do Exército sobre os eventos é correta?” É esse tipo de pergunta, segundo Brian Whitaker [The Guardian, 15/9/03], que jornalistas palestinos e israelenses fizeram uns aos outros.

Um aspecto intrigante que surgiu do diálogo foi o grau de entrosamento ? em um nível estritamente profissional ? entre jornalistas dos dois lados, apesar da acidez do conflito entre seus povos. Também ficou claro durante o encontro que medidas de segurança implantadas com a Intifada palestina, há três anos, afetaram a qualidade das reportagens. “É mais difícil ter acesso ao outro lado”, disse um jornalista.

Os jornalistas palestinos disseram que ainda conseguem visitar áreas palestinas e reportar do local, embora as viagens exijam certo esforço para serem organizadas. Já os palestinos falaram muito de objetividade e da necessidade dos repórteres serem observadores “neutros” ? uma aspiração poucas vezes refletida em suas publicações.

O sítio HonestReporting.com publicou uma nota em 15/9 afirmando que as agências Associated Press e Reuters selecionam partes de notícias que questionam a política israelense, mas evita partes que a justifiquem.

Jornalistas da AP e da Reuters cobrindo o Oriente Médio precisam responder a uma pergunta espinhosa todos os dias: Dada a gama de fatos noticiáveis que emergem constantemente, o que eu deveria pescar para construir minha reportagem?

A escolha desses jornalistas repercutirá em dezenas de milhares de jornais, rádios e emissoras de TV do mundo todo. O que eles deixarem de fora será igualmente ignorado pelo público. É assim, segundo o Honest Reporting, que a mídia tem o poder de modelar a opinião pública.

Na semana retrasada, essas decisões acerca de três tópicos importantes revelaram um comportamento “curioso” das agências, segundo o sítio.

As três escolhas

Em primeiro lugar, está o tratamento dado às restrições feitas por Israel aos palestinos. Tanto a Reuters quanto a AP publicaram artigos em 8/9 alardeando um novo relatório da Anistia Internacional que condenava, entre outras práticas das Forças de Defesa de Israel (FDI), o uso israelense de detenção administrativa contra palestinos engajados em organizações terroristas. Ao mesmo tempo, ambas as agências deixaram de divulgar uma declaração do governo de Israel de que os perpetradores palestinos do duplo ataque terrorista, ocorrido em 9/9 em Tsrifin (7 mortos e 30 feridos) e em um café em Jerusalém (8 mortos, 50 feridos), haviam sido, seis meses antes, libertados pela detenção administrativa em uma prisão israelense.

O segundo ponto de conflito diz respeito a Arafat e à paz. Em 13/9, a Reuters e a AP desenharam Yasser Arafat como um amante da paz em estado de sítio. A manchete da AP era “Arafat estimula Israel a retomar negociações de paz”, enquanto a Reuters citou Arafat dizendo: “Eu apelo ao povo israelense, juntos podemos fazer a paz”. No mesmo dia, homens mascarados e armados do movimento Fatah, do próprio Arafat, invadiram a estação de TV al-Arabiya em Ramallah, mantendo os funcionários na alça de mira e destruindo equipamentos como forma de intimidar o trabalho que têm feito sobre a Autoridade Palestina. Arafat reconheceu seu envolvimento e pediu desculpas à emissora. Nem a AP, nem a Reuters noticiaram.

A terceira escolha dos jornalistas das agências foi relacionada a estudantes palestinos. Ambas as agências reportaram grandes aglomerações de estudantes em Ramallah em manifestação de apoio a Yasser Arafat, em 13/9. A AP ainda disse que as crianças gritavam: “Com nossas almas e nosso sangue defendemos Abu Ammar [nome de guerra de Arafat]”, enquanto o líder palestino “acenava e jogava beijos de uma janela”. O que as agências não disseram foi noticiado no Jerusalem Post: As crianças também gritavam ? e aparentemente isso não interessou à AP e à Reuters ? “Estou preparado para enfrentar os judeus e matá-los onde quer que seja” e “Na escola eles nos falam para libertar a Palestina… Precisamos tramar ataques suicidas porque os judeus estão nos matando.”