PROVÃO
Victor Gentilli
Temperamento, modo de fazer política, jeito de ser. O ministro Cristovam Buarque, da Educação, talvez se assemelhe mais a Fernando Henrique Cardoso do que a Lula. Seu jeito de fazer política é leve, agradável, sem conflitos. Tensões, contradições, o ministro sempre procura se manter afastado destes problemas; parece que busca, e quase sempre consegue, apenas agradar. Algumas vezes, mesmo com opiniões diversas, chega a concordar com o interlocutor (ou fingir fazê-lo), seja ele quem for. Para quem faz jornalismo, o ministro sempre oferece boas frases; nem sempre boa informação.
Até o momento, por enquanto, vem funcionando. No episódio, de algum tempo atrás, em que arriscou informar que necessitava de mais recursos, levou um puxão de orelhas do presidente Lula: "O apressado come cru". Cristovam não se recolheu propriamente, mas mudou de assunto. Aliás, assuntos não faltam. O ministro não gosta de conflitos, mas administra controvérsias. Vejamos: na semana passada, às vésperas do Provão, apoiou proposta da Câmara pela qual ex-alunos de universidades federais que obtenham renda superior a determinado valor "paguem" ao MEC, em retribuição pelo ensino público a que tiveram direito.
No dia seguinte, a proposta ganhou espaços generosos nos jornais. Não deixaram de se apresentar, claro, aqueles que concordam e aqueles que discordam do (aparente) balão de ensaio do ministro. Jornais e jornalistas nem perceberam que o assunto central, o Provão, que seria aplicado no fim de semana, era o "verdadeiro" assunto jornalístico e ficara em segundo plano.
O presidente da UNE reuniu-se com o ministro, semana passada. Pediu o fim do Provão. Saiu todo satisfeito da reunião. Nos jornais do dia seguinte, todos encontravam sua frase predileta. O ministro garantia que o Provão continuaria, mas com mudanças que o aperfeiçoariam. Repetiu o que já dissera antes: agradou quem defende o Provão; agradou quem combate o Provão. Novidade? Nenhuma.
Nos jornais, o ministro sempre se sai bem. Virtude do ministro? Nem tanto. Talvez muito mais vacilo dos jornais, que comem mosca e nem se dão conta disso. Quando, lá se vão dois meses, o MEC promoveu o seminário "Avaliar para quê?", nenhum jornal percebeu que, na verdade, o MEC colocava o atual sistema de avaliação em xeque. Na semana passada, quando o ministro atendeu o presidente da UNE, este falou abertamente: "Queremos uma avaliação mais completa, que olhe para todos os ângulos do ensino superior, para a pesquisa, a extensão". Nem o ministro nem a imprensa observaram que essa avaliação existe ? chama-se Avaliação das Condições de Ensino ? e não está sendo colocado em prática o mutirão previsto para avaliar os cursos de Jornalismo porque uma entidade de instituições privadas de ensino, conhecida por suas polêmicas e por seus lobbies, conseguiu liminar na Justiça e o MEC não tem apetite para enfrentar a disputa judicial, agindo preguiçosamente.
Os fatos
1) Há uma comissão, designada pelo ministro, com atribuição de avaliar o sistema de avaliação do MEC (Provão incluído) e propor mudanças;
2) Esta comissão é formada, quase que exclusivamente, por pessoas que combateram historicamente o Provão e têm uma visão diferente de avaliação da que predominou até agora;
3) O comando do Provão está a cargo da Diretoria de Estatísticas e Avaliação do Ensino Superior;
4) No sítio do Inep há um artigo de seu presidente, Otaviano Helene, sobre o sistema de avaliação. Ele aponta tudo o que entende como problemas do Provão, mas não menciona mudanças ou aperfeiçoamento. A leitura dá a entender que o Provão será extinto.
Pois bem. O professor Dilvo Ristoff foi convidado, aceitou e vai assumir o cargo de diretor do DAES. Será o quarto ocupante da cadeira neste ano.
A informação não está nem no sítio do Inep nem nos jornais. Foi publicada pelo Universidade Aberta, laboratório experimental de jornalismo online da Universidade Federal de Santa Catarina. Docente da UFSC, Ristoff deve se afastar da direção do Centro de Comunicação e Expressão, onde o Curso de Jornalismo está alojado. Ninguém desmentiu. Ninguém viu a notícia que estava ali.
* * Muito boa, interessante e instigante a prova do Provão deste ano. Questões bem formuladas. Mas parece que ninguém mais quer saber disso. Veja abaixo remissão para as questões do Provão
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