Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Dito e feito

ELEIÇÕES 2002

Cláudio Weber Abramo (*)

Pronto. Estamos em plena campanha eleitoral. A prova está nos jornais. Outro dia, o ministro José Serra lançou-se na disputa presidencial. Discutirem-se os seguintes assuntos: 1) o slogan do candidato, dissecado de cá e de lá; 2) e quem será o publicitário que cuidará desse particular malho ? perdão, da campanha.

Não é raro que editorialistas e colunistas deplorem o crescente baixo nível das campanhas eleitorais. Mas a imprensa colabora valentemente para isso, ao dedicar laudas e laudas ao marketing dos candidatos e pouquíssima atenção aos programas em jogo. Um tanto como o autor de novela tirada do ar e que, por isso, reclamava do baixo nível do público. Mas desde quando novela edifica seja o que for?

Esse assunto dos marqueteiros e dos reclames de campanha é outro daqueles que me convencem que não entendo mesmo nada desse negócio de jornalismo. Por qualquer ângulo que se examine a questão, é impossível descobrir um argumento que justificasse reservar espaços tão descomunais para o que não passa de uma contrafação da política.

Talvez contribua para o fenômeno o cinismo tão comum em redações. Jornalista não fica indignado, pois indignar-se é tomar partido, e isso é sinal de falta de profissionalismo. Cedo o jornalista assume aquela atitude blasé do nihilista de fechamento. E o que mais apropriado para um cínico do que cultivar o vazio da mercadologia?

A imprensa é considerada um dos pilares das sociedades abertas. É uma responsabilidade pesada. Normalmente, se esperaria que épocas eleitorais representassem uma oportunidade para que a imprensa se dedicasse redobradamente a exercê-la. Não parece que enfiar goela abaixo do leitor bobageiras sobre fazedores de reclames caminhe nessa direção.

(*) Secretário-geral da Transparência Brasil <http://www.transparencia.org.br>. E-mail: <cwabramo@uol.com.br>