MARANHÃO
Sebastião Jorge (*)
São Luís, a capital manhense, converteu-se numa cidade de jornais. Há mais jornais, sem dúvida, que leitores. São 14 ao todo. Não é pouco para uma cidade pobre e que quase não ler, como de resto o Brasil.
Os nossos jornalistas demonstram não se conformar em só escrever, pois querem também provar o gosto de ser patrões, experimentar o sabor de uma fatia do poder, se é que, hoje, esse meio de comunicação ainda dá poder. A não ser para alguns.
Não é fácil manter um jornal, não apenas pelo alto custo, como pelas implicações políticas. Ainda mais agora que o intimidam com a aprovação da Lei da Mordaça e a polêmica sobre critérios para arbitrar o valor em dinheiro da condenação por crimes de injúria, difamação e calúnia. Presentemente uma sentença pode fechar a empresa.
Antes essas folhas eram oferecidas com esperteza pelos gritos alegres dos jornaleiros. O marketing de simples se transformava em inteligente. Havia uma sirene de som alto e estridente na porta da empresa, anunciando o produto-notícia. Era colocado ainda um quadro com recortes dos principais fatos do dia, em lugares estratégicos, como jeito de chamar a atenção. Atualmente o destino da venda fica por conta dos maços de jornais colocados à disposição dos donos das bancas. Geralmente a vendagem é um mistério e a circulação, "segredo de Estado". O silêncio é a arma do negócio. O Instituto de Verificação e Circulação (IVC) é ignorado.
Para se editar um jornal é preciso coragem. Os problemas são muitos. Fechar as páginas com horário marcado é um suplício, apesar de que, hoje, o jornal de domingo circula na véspera. Acontece nas melhores famílias. A última edição do Le Monde, que circula às 12 horas, traz a data do dia seguinte. A pressão do relógio mexe com os nervos. Há quem ignore essas questões e se entregue a esse estranho prazer.
A tecnologia moderna facilitou o trabalho com a introdução do off set, da informática e da internet. Há cerca de 30 anos quase tudo era feito manualmente. As mudanças se deram muito rápidas. Quem não mudou dançou. Mesmo assim, fazer jornal tem problemas peculiares e sem entendê-los na raiz e desdobramentos, fica difícil. Culpa da globalização que exige um arsenal de conhecimentos.
Vida pós-eleição
Os jornais são entregues nas bancas de revistas e aos jornaleiros que preferem fazer ponto, a dar o clássico grito dos gazeteiros, anunciando as principais manchetes. Quatorze jornais são editados em São Luís. Não sabemos se a maioria preenche as necessidades do leitor menos exigente. Colocados à venda e quem os adquirir, a todos, daria uma salada exótica e cheia de surpresas. A diferença? No condimento e na escolha dos ingredientes. Só o paladar do leitor é capaz de arbitrar o gosto. Eis a relação dos títulos: O Estado do Maranhão, O Imparcial e Jornal Pequeno (são os mais antigos); Debate, Tribuna do Nordeste, Atos e Fatos, Hoje, A Hora, Diário da Manhã, Folha do Maranhão, Jornal do Município, Correio dos Municípios e Jornal da Baixada.
Ah, sim, ia esquecendo-me do último jornal que chegou para se incorporar à família: O 4°
Poder. É isso mesmo, o 4°
Poder, como quis Edmund Burke, no final do século 18, ao denunciar a influência "perniciosa" da imprensa na vida política da França. Depois da Revolução Francesa, Burke erguendo os olhos à Galeria da Imprensa da Câmara dos Comuns, disse: "Ali, senta-se o Quarto Poder, e é o mais importante de todos eles". O que foi um desabafo se transformou numa afirma&ccccedil;ão.
Número igual de jornais no Maranhão só no século passado, precisamente em 1915, quando havia, coincidência, 14 periódicos. Ei-los: O Ateniense, Bello Horizonte, O Cinema, O Estudante, O Guri, O Sabiá, Os Simples, A Vontade. Todos de cunho literário e alguns ligados a entidades literárias. Quanto aos outros eram noticiosos, sem desprezar o lado cultural, ou editados por órgãos de classe, como: A Tarde (de Antônio Lobo, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras), Echo do Norte (não tem nada com o jornal de título idêntico de João Lisboa, de 1834), O Estado, A Rua, São Luís e O Caixeiro.
O fenômeno se repete por esta época e tem explicação: ano eleitoral. Os jornais aparecem para apoiar certos candidatos, que geralmente, eleitos ou não, deixam de dar prosseguimento às atividades. Cumprida a missão se despedem do leitor, para depois se esquecer do eleitor.
A presença de jornais é saudável na democracia, desde que sem o fantasma da censura. A divergência de idéias é o que alimenta e reforça os princípios democráticos. Sem liberdade para informar, pensar e publicar, a imprensa perde o sentido do seu papel, como agente intermediário entre o público e o privado.
Ninguém que se iluda: sem estrutura econômica e financeira, é difícil conseguir independência, instrumento indispensável para um trabalho que dignifique a filosofia libertária que faz parte da história do jornal. Quanto ao mais, desejo a todos vida longa, pós-eleição. Bem verdade que muitos chegaram antes da temporada eleitoral, mas os princípios que move um jornal permanecem.
Os melhores ficarão. O árbitro supremo do jornal é o leitor e não o eleitor.
(*) Professor universitário, jornalista, advogado e escritor