Dois toques

Para atenuar o impacto das estatísticas elaboradas pelo Dieese, O Liberal anunciou na sua manchete de primeira página da edição do dia 3: "Pará tem mais emprego, mas perde nos salários". A segunda parte da oração é correta. A primeira, não.

É fato que o número de postos de trabalho no Pará, 252.470, é quase 90% maior do que o do Amazonas, de 142.419. Mas enquanto o Pará tinha 5,5 milhões de habitantes em 1996, a população do Amazonas era de 2,3 milhões. Ou seja: há um emprego para cada 27 habitantes no Pará. No Amazonas, a relação é de um emprego para cada 12 habitantes.

Em termos nominais, o Pará, com uma população 120% maior, tem mais emprego, como seria de se esperar. Em termos nominais, a relação se inverte e o Amazonas fica na frente. Conclusão: o problema do desemprego é maior no Pará. Mas quem ler O Liberal não ficará sabendo disso.

A Província do Pará, um título jornalístico com o peso de 125 anos, está sofrendo as dores da paixão no melhor estilo Assis Chateaubriand, seu dono durante o período mais longo de sua história: em meio a muita confusão e barulho. O jornal parou de circular pela quarta vez e agora o retorno parece mais difícil do que nunca.

O antecessor Gengis Freire e o sucessor, Miguel Arraes [homônimo do ex-governandor de Pernambuco], não se entendem. Quase todo o ativo da empresa está penhorado. Os bens foram levados a leilão pela justiça do trabalho, mas ninguém se interessou em arrematá-los. Vão voltar à hasta pública. O enredo começa a apontar para um cadáver insepulto.

Miguel Arraes promete, porém, que no próximo domingo A Província voltará a circular, em edição semanal, impressa em Brasília, e em 12 de dezembro ele irá inaugurar a nova sede do jornal, no prédio onde funcionou a Gráfica Falangola, provavelmente com impressora própria e condições de restabelecer a periodicidade diária, desligando-se do passado atribulado da empresa e iniciando vida nova.

Seria o renascer das cinzas para um jornal que já foi a melhor escola de jornalismo do Pará.