MÍDIA NO IRAQUE
Guerra e imprensa, Thierry Ogier e Verónica Goyzueta (orgs.), 120 pp., Summus Editorial, São Paulo, 2003; R$ 18,90; <www.gruposummus.com.br/summus/>
[do release da editora]
A Summus Editorial lançou, em 1? de dezembro, o livro Guerra e Imprensa organizado pelos jornalistas Thierry Ogier e Verónica Goyzueta. O livro reúne ensaios de doze jornalistas, membros da Associação de Correspondentes Estrangeiros de São Paulo (ACE-SP), sobre a cobertura jornalística da Guerra do Iraque, oferecendo um panorama instigante da mídia nacional e internacional, com destaque para as grandes redes de televisão, como BBC, CNN e al-Jazira, e para o comportamento dos profissionais da imprensa antes, durante e depois do ataques das forças inglesa e norte-americana.
Os ensaios apresentados em Guerra e Imprensa vão além da cobertura da Guerra do Iraque e trazem questionamentos que abrangem o jornalismo como um todo e o papel desempenhado pela imprensa no mundo contemporâneo. Prefaciado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, o livro traz comentários e informações que alimentam o debate sobre o jornalismo atual e seus rumos: censura e autocensura, imagens da guerra, manipulação e overdose de informação, a guerra como entretenimento, propaganda e guerra, além da busca incessante da objetividade perseguida por alguns órgãos da imprensa. "Queremos contribuir para esse debate, tendo como tema a ética jornalística, além de refletir a diversidade das coberturas, os diferentes pontos de vista da mídia, seja ela americana, árabe ou brasileira", explica Verónica Goyzueta, presidente da ACE-SP.
A diversidade cultural dos jornalistas enriquece a abordagem proposta pelos organizadores de Guerra e Imprensa. "Nós refletimos não apenas a cobertura da guerra no Brasil, mas também em nossos países de origem", diz o francês Thierry Ogier. " Pedimos para os autores liberdade total na produção dos artigos. Nossa intenção é apresentar um trabalho de pesquisa jornalística que contribua pra o debate sobre a cobertura da mídia" conclui.
Entre os doze jornalistas convidados para o livro, há correspondentes da Alemanha, Inglaterra, América Latina, Líbano, Estados Unidos e França. Além de retratar a própria visão da cobertura jornalística, cada autor faz uma importante contextualização dos fatos relacionados à guerra e da ação de seus protagonistas. Stephen Civic, por exemplo, explica as conseqüências do media management (gerenciamento das relações com a mídia) realizado pelos chamados spin doctors, assessores políticos ? geralmente funcionários públicos ? contratados para divulgar interpretações favoráveis ao governo de Tony Blair na mídia. "Várias polêmicas surgiram durante a guerra no que se refere à cobertura da mídia. Enquanto as hostilidades prosseguiam, a opinião pública era favorável à guerra. Depois do fim do conflito, novas perguntas foram colocadas pela mídia (…) principalmente em torno das informações que o serviço secreto britânico havia apresentado como provas de que o Iraque possuia armas de destruição em massa", conta o jornalista.
Chantal Rayes analisa o comportamento da al-Jazira e faz ligações de sua cobertura "pró-Sadam" às necessidades mercadológicas de uma mídia voltada para a cultura árabe. "A Al-Jazeera foi pega no contrapelo. A emissora fez uma cobertura populista, grudada à reação da rua árabe. Ela explorou permanentemente o tema da agressão, sem mencionar a repressão sofrida anteriormente pelo povo iraquiano", revela o historiador libanês Samir Kassir à jornalista.
A manipulação das informações exemplificada ao longo de todo o livro aparece também no artigo do jornalista Tom Gibb, que resgata sua experiência na cobertura da guerrilha em El Salvador durante os anos 80, como correspondente da BBC. "A estratégia pública dos Estados Unidos era tirar o apoio às guerrilhas por meio da realização de eleições e da construção da democracia ? enquanto fortalecia o exército para se defender contra as guerrilhas. Na prática, foi uma história sórdida na qual morreram entre 1% e 2% da população"
Críticas à pratica de incorporação de jornalistas às forças em combate, à falta de conhecimento sobre as armas e a guerra e suas conseqüências para os civis, à assimilação da linguagem de um dos lados em conflito e ao jornalismo espetáculo dividem a cena com o fato novo da Internet, que em muitos artigos aparece como o grande canal para o outro lado da guerra. "Jornalistas free lancers colocavam suas crônicas no ar em páginas pessoais. Eles formaram uma verdadeira rede de enlaces com outras páginas similares: criticar a guerra e mostrar o que realmente estava acontecendo no Iraque", comenta Verônica Goyzueta.
Organizadores e autores
Verônica Goyzueta ? Jornalista peruana, formada pela UnB. É presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de São Paulo (ACE-SP), correspondente no Brasil da agência de notícias Dow Jones e da revista América Economia. Em Brasília foi correspondente da agência de notícias Notimex (México). Mora há onze anos no Brasil.
Thierry Ogier ? Jornalista autônomo, radicado no Brasil. Vice-presidente da Associação de Correspondentes de São Paulo (ACE-SP), nasceu em Grenoble (França) e formou-se em Ciências Políticas pelo Institut d?Etudes Politiques de Grenoble e em Jornalismo, pela Ecole Supérieure de Journalisme de Lille. Após um breve estágio na Radio France Internationale, trabalhou na rádio BBC World Service, onde passou pelos serviços BBC Europe, BBC Afrique e Network Africa. Foi correspondente no Oeste da África, com base em Abidjan, Costa do Marfim. Atualmente, colabora com o diário francês Les Echos, The Economist Intelligence Unit e outros meios de comunicação.
Autores dos artigos
Carlos Tundera ? Argentino, escreveu para os jornais La Vanguardia e El País (Espanha) é atualmente editor do site <www.cafecrit.com.ar>
Chantal Rayes ? Libanesa, é correspondente dos diários Libération (França), Le Soir (Bélgica) e Le Temps (Suiça).
John Kolodziejski ? Inglês, atualmente é consultor de negócios para o Brasil, no site <www.Brazuk.com>
Kenneth Rapoza ? Americano, é correspondente para o The World Press Review e repórter do The Boston Globe.
Kieran Gartlan ? Irlandês, criador e editor-chefe do site <www.gringoe.com>, trabalha para a Dow Jones Newswire e Platts Energy Wire.
Sol Biderman ? Americano, é colaborador da Time Magazine e já colaborou para Associated Press e The New York Times.
Stephen Cviic ? Inglês, é repórter e apresentador da rádio BBC.
Thomas Milz ? Alemão, é correspondente da revista online <www.caiman.de>
Tom Gibb ? Britânico, foi correspondente em El Salvador por oito anos, onde trabalhou para The Washington Post, National Public Radio e The London Times. É correspondente da BBC de Londres.
Tom Murphy ? Americano, trabalhou na UPI e Knitght-Rider. Atualmente serve vários clientes no Brasil e no exterior como free lancer.