QUALIDADE NA TV
INDENIZAÇÕES
"Vítimas de incêndio querem indenização milionária", copyright Revista Consultor Jurídico, 7/03/01
"Três vítimas do incêndio ocorrido durante a gravação do programa da Xuxa entraram na Justiça contra a TV Globo. O pedido de indenização por danos materiais feito por cada uma das vítimas é de 10.800 salários mínimos, cerca de R$ 1,6 milhão.
O advogado João Tancredo representa Marcus Vinícius Ventura, 7 anos, sua mãe Kátia Ventura e o passista profissional Reinaldo Alves. O garoto ainda está internado na clínica São Vicente, na zona sul do Rio de Janeiro. Kátia Ventura saiu do emprego para dar assistência integral ao filho e o passista ficou impossibilitado de trabalhar no carnaval."
"Record é condenada a indenizar empresa em Goiás", copyright Revista Consultor Jurídico, 12/03/01
"A TV Goyá, Rede Record em Goiás, foi condenada a pagar indenização por danos materiais e morais a Selene Maria da Silva Leopoldina, pessoa jurídica. O motivo foi uso indevido de criação publicitária, sem autorização, sem pagamento de comissão e desvio de clientela, além de concorrência desleal.
A decisão foi do juiz Luiz Eduardo de Sousa, da 4? Vara Cível de Goiânia. Os danos morais foram arbitrados em R$ 30.049, equivalentes a 199 salários mínimos. Os danos materiais (decorrentes de danos emergentes e lucros cessantes), ainda serão arbitrados na liquidação da sentença.
A Record negou que tenha veiculado, de forma maldosa, a publicidade de seu cliente (Motel Thaynan), como alegou a defesa.
A prova documental deixou o juiz convicto quanto à autoria da peça publicitária. Segundo a decisão, a Record tinha conhecimento da criação pelo acordo firmado em contrato para veiculação do material, cuja cópia foi utilizada pela emissora para negociar a divulgação diretamente com o proprietário do motel, sem dar conhecimento ou pagar comissão de direito à autora.
A movimentação comercial entre as partes ficou em cerca de R$ 30 mil, representando prejuízos materiais passíveis de indenização. Luiz Eduardo alertou para o desgosto e aflição que o ato ilícito da Record acarretou para a autora, ?ao ver subtraído seu trabalho e perder a segurança de que os direitos decorrentes da intelectualidade terão a devida proteção legal?.
?Não existe no âmago do indivíduo um sentimento tão forte como o da inutilidade, ou no dizer popular ser passado para trás?, afirmou."
O CHATO
"Teoria geral da chatice", copyright no. (www.no.com.br), 9/03/01
"Um filme publicitário do programa Perfil 2000, comandado por Otávio Mesquita, está em cartaz em alguns cinemas pelo país afora. Exibida em meio ao trailer, a peça mostra o apresentador com a boca amordaçada. Ao fundo, a voz de um locutor esclarece que ele está impedido de falar porque é o entrevistador mais mala do Brasil – e pode querer contar o final do filme. A propaganda é a rendição de Mesquita ao fato inegável de que ele é um dos mais rematados chatos da televisão brasileira há pelo menos duas décadas. Como todo mala sem alça, passou anos se achando um cara legal. Mas agora, diante das evidências, capitulou. E resolveu transformar sua chatice em marketing. ?Já tenho tempo de estrada suficiente para brincar com isso?, diz ele.
Nas últimas semanas, Mesquita tem sido um mala vitorioso. Na terça-feira de Carnaval, por exemplo, deu à Rede TV, pela primeira vez, a liderança no Ibope. Transmitiu ao vivo a entrada do Gala Gay, a maior concentração de Consuelos, Natalies e Veroniques do país. Diante das câmeras, beliscou peitos e traseiros siliconados dos travecas, soltou algumas de suas clássicas barbaridades – como ?ai que peitinho lindo, meu amor? — e durante mais de quinze minutos alcançou oito pontos na audiência, na frente da Rede Globo (com seis pontos) e do SBT (quatro pontos). Por quase duas horas, o programa ficou em segundo lugar. No dia anterior, o Perfil exibira cenas onde Mesquita aparecia misturado a um batalhão de pessoas ajudando Sílvio Santos a subir em um carro alegórico da Tradição. Com uma mão no microfone e outra no traseiro do dono do SBT, lá estava ele. As imagens foram exibidas com o comentário: ?Peguei no baú do homem! Peguei!?
Filho de um corretor de imóveis e de uma recepcionista, Otávio Mesquita, 41 anos, lutou bravamente para alcançar o posto de um dos maiores representantes da chatice televisiva do país. Como nas clássicas histórias do gênero, debutou na televisão substituindo um repórter que faltou ao trabalho – justamente na cobertura do gala Gay. Há vinte anos, mostra em seu programa uma sucessão de barbaridades, inventa tiradas sem graça, coloca os entrevistados em situações constrangedoras e deixa o espectador, em casa, quase descrente de tudo aquilo. Sempre presente nas listas dos piores da tv, Mesquita rebate as críticas garantindo que a longevidade de seu programa é a prova de que o povo gosta. Em entrevista a No., o apresentador teoriza sobre os tipos de chatice, diz que é um chato do tipo mala (e não do tipo maçante) critica os críticos, defende que não existe pergunta idiota e diz que quer ser chato até morrer. ?Pago meu champanhe e meu carro importado com a minha chatice?.
Você é chato pra caramba, hein?
Chato como?
Chato. Cacete.
Ah, esse chato aí eu não sou, não! Eu sou bem humorado, não tenho medo de fazer perguntas diretas e tento divertir o telespectador que acompanha o Perfil há vinte anos. Faço um programa de entrevistas diferente, falo para um cara que liga a televisão no meio da madrugada e não quer pensar, só quer ficar surpreso e dar risadas. Parto do princípio de que não existe pergunta idiota e não existe pessoas com as quais a gente não possa brincar. Não quero parecer inteligente. Só quero fazer um programa divertido. Se ser chato for isso, quero morrer chato.
Mas um dos sintomas mais conhecidos da chatice é que o portador não se acha chato.
Mas olha só: existe o chato que é o cara maçante, que dá no saco. Eu não sou assim. Eu faço perguntas diretas, brinco com as pessoas e às vezes deixo o espectador surpreso. Os intelectuais, os críticos, dizem que ficam constrangidos. Como não faço o programa para eles, não estou nem aí. Mas o importante é que ninguém – nem esses intelectuais – fica entediado. Quer dizer, não sou esse tipo de chato. Eu sou um chato do tipo mala.
E um chato do tipo teórico.
Isso mesmo. Tem o chato maçante. E há o mala. E o meu lado mala é quase um personagem. Eu entro na casa das pessoas e reviro os armários – o telespectador acha aquilo engraçado e me acha entrão. Mas em televisão as coisas são produzidas. O dono da casa me deixou entrar lá. Tudo o que é faço é muito consciente. Sou exigente com as minhas coisas – por isso eu ganho tanto dinheiro.
Você está muito rico?
Ganho meu dinheiro. Sou de origem humilde, meu pai era corretor e minha mãe foi recepcionista. Fui encontrando meu caminho na televisão. Hoje pago meu champanhe e meu carro importado com a minha chatice.
Você está sempre nas listas dos piores da televisão. Como lida com essas críticas?
Já fiquei muito incomodado com elas. Mas hoje tiro de letra. Até telefono para os críticos quando acho que eles escreveram coisas construtivas. Mas as duas décadas em que meu programa está no ar é a resposta aos intelectuais que não querem admitir que é disso que o povo gosta. Agora, às vezes eu perco a paciência. Por exemplo, na terça-feira de Carnaval fui cobrir o Gala Gay. Pela primeira vez a Rede TV! conseguiu o primeiro lugar no Ibope. Durante quase vinte minutos ficamos na frente da Rede Globo. Ainda assim, um crítico veio me malhar e dizer que eu paguei um mico porque perguntei a um travesti de se ele era operado e ele respondeu alguma coisa como: ?Ai, Otávio, mas você só faz pergunta idiota?! Então gravei um programa perguntando a esse intelectual o que ele gostaria que eu perguntasse a um traveco na porta do Gala Gay. Dei três opções: 1. Que livro você está lendo? 2. Qual é a sua opinião sobre as fitas divulgadas pelo procurador Luiz Francisco com as denúncias feitas pelo ACM? 3. Quais suas impressões em relação à saída do Ministro da Economia na Argentina?
Mas de qualquer forma não foi um mico?
Quando o travesti deu essa resposta, expliquei que a pergunta não é idiota. É o que as pessoas querem saber mesmo quando assistem de casa ao Gala Gay. Ele ficou meio sem graça. Depois, atrás das câmeras fui perguntar a ele – ou ela – porque tinha feito aquilo. O travesti começou a chorar, você acredita? E disse que falou aquilo porque alguém mandou. Me disse o nome da pessoa, que não vem ao caso. Quer dizer, ainda por cima foi uma situação plantada, que pode acontecer em qualquer programa.
Você é reconhecido como um chato nas ruas?
De uma maneira bacana. Ontem fui ao jogo do São Paulo no estádio do Morumbi. Fui no meu carro importado, com motorista. Na volta, fomos cercados por uma multidão de torcedores. Pensei que ia me ferrar. Mas abri o teto solar do carro, botei a cabeça para fora e comecei a brincar com eles. Os caras começaram a me aplaudir. Aí está a diferença da minha relação com o público.
Quem é o cara mais chato do Brasil?
O Nelson Rubens (apresentador do programa de fofocas TV Fama, também da Rede TV!). Esse é o chato no sentido chato mesmo. Nasceu chato."
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