Salvação ou selvageria; esclarecimento e liberdade econômica ou promoção de ilusório descompromisso com lucros. Essas são as formas discrepantes e mais atuais de se enxergar o jornalismo eletrônico.
De acordo com matéria de Felicity Barringer e Alex Kuczynski [The New York Times, 12/6/00], jornalistas da “antiga mídia” não conseguiram conter um discreto entusiasmo sádico na semana passada. Os abalos do Nasdaq em abril fizeram tremer tardiamente sítios jornalísticos. A Salon.com e a CBS.com estão fora do ar. O novo APBNews.com demitiu sua equipe, mantendo apenas profissionais não-remunerados.
Analistas de nova mídia já se movimentam para explicar o fenômeno e fazer previsões. “Ninguém deve se surpreender se o jornalismo online firmar-se como indústria”, disse Peter Petrusky, diretor de nova mídia da PrinceWaterhouseCoopers (PwC). “Para isso basta desenvolver emissões diversas de receita”.
Mark Mooradian, analista de internet da Jupiter Communications, disse que os acontecimentos da semana passada representam postura mais cautelosa dos investidores. “Acima de tudo, é prova de que a disponibilidade de capital está rareando”, disse ele. “Se quiserem reduzir substancialmente seus níveis de perda (dinheiro ‘volátil’), eles precisam diminuir custos”.
Segundo a análise de Mooradian, muitos sítios de jornalismo eletrônico investiram deliberadamente em marketing, imaginando que haveria uma segunda leva de financiamento provindo de capitais de risco. Agora, para o analista, “essa ‘janela’ foi fechada”.
Nessas horas é bom ser um peixe fora d’água. O Inside.com, novo sítio de notícias da mídia do editor Kurt Andersen, está sendo fartamente financiado. A questão é até quando, pois que dispõe de matérias caras e originais, enquanto outros sítios, como o MediaNews.com e o Moreover.com, têm mais – por menos – a oferecer.
A concorrência no meio, fez com que se adotasse um “jogo de agregações”. A AOL, por exemplo, oferece notícias da Bloomberg News e da Reuters. Pesquisas concluíram que em muitas comunidades cessa-se mais as notícias oferecidas pela AOL do que pelo serviço online do jornal local.
Imitando cada vez mais o modelo televisivo, os websites têm procurado atrair maiores audiências para vendê-las aos anunciantes, os quais aderem crescentemente ao business, investindo cerca de 900 milhões de dólares em propaganda em 1997 e, em 1999, mais de 4,5 bilhões de dólares. Em 1999, porém, apenas 8% do total de investimentos foram destinados a sítios noticiosos, enquanto portais receberam 38%.
É cedo ainda para dizer quem está ganhando: os velhos jornalistas puritanos ou os novos apóstatas. Vale, no entanto, ouvir o que tem a dizer quem sentiu na carne o baque da semana passada. Ken Layne, colunista do Online Journalism Review escreveu: “Presenciei outro desastre da nova economia e pergunto ‘como fomos parar aqui, fazendo algo tão nauseantemente estúpido’?”
tutti buona gente.com – Alberto Dines