NOTAS DE UM LEITOR
Luiz Weis
Nenhum jornal brasileiro deu o devido destaque à primorosa reportagem investigativa do jornalista David Barboza, que cobre economia agrícola para o Times, sobre as alegadas manobras das duas maiores empresas sementeiras do mundo ? Monsanto e Pioneer ? para criar um cartel de preços para as suas sementes geneticamente modificadas (GM) de soja e milho, nos anos 90. O assunto está na Justiça americana. A matéria saiu na terça, 6, e foi tratada em poucas palavras pelos jornais da terra.
Nada que envolva a Monsanto deveria ser alheio à mídia brasileira ? pelo óbvio fato de estar a sua subsidiária no olho do furacão sobre o futuro dos transgênicos no país. O poder da gigantesca multinacional é invocado pelo pessoal que quer um Brasil "livre de transgênicos" como um dos principais argumentos de sua causa. (A isso o deputado Aldo Rebelo, do PC do B, líder do governo na Câmara e relator do projeto do governo sobre o assunto, chamou "síndrome do colonizado" em artigo na Folha de quinta-feira.)
Decerto não seria o caso de transcrever na íntegra as 2.007 palavras do furo de Barboza. (Por sinal, ele voltou à carga na sexta com outra denúncia: o juiz federal de Chicago que deverá decidir o caso dos preços supostamente maceteados das sementes GM deixou de revelar que em 1997 e 1998 figurou como advogado da Monsanto em um processo que tratava de alguns dos mesmos assuntos do atual.)
Mas, considerando, quanto mais não seja, o desperdício de espaço nos jornais brasileiros ? um entre uma penca de exemplos é a página inteira que o Estado deu domingo a uma matéria do Washington Post sobre o comportamento de Neil Bush, irmão do próprio ?, a discrição com que se deu por aqui a reportagem de Barboza foi uma grande bobeada editorial.