Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

E.R.

ARTIGO 222

"Capital estrangeiro vem aí", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 15/11/01

"Pelo tamanho dos cortes já realizados por várias empresas, e pelos cortes que, tudo faz crer, estão a caminho – particularmente na Gazeta Mercantil e na Editora Abril – não é exagero afirmar que o mercado da Comunicação entrou em recessão. Esta é a leitura linear do atual quadro, provocado pela queda na publicidade no segundo semestre e uma previsão de agravamento desse quadro no primeiro semestre de 2002.

Uma leitura mais refinada e sutil, no entanto, nos aponta para uma outra causa, uma causa que aporta na provável aprovação, pelo Congresso Nacional, da participação do capital estrangeiro nos veículos de Comunicação, hoje proibido por lei. Como essa aprovação é tida como certa, tal o lobby que tem sido feito em Brasília, agora com o beneplácito da Globo, sairão na frente aquelas empresas que, já consolidadas e reconhecidas, mostrarem-se mais atraentes no quesito rentabilidade. Ou, de forma figurada, estiverem mais esbeltas para os olhares dos grupos internacionais.

Com a aprovação da lei permitindo a entrada do capital estrangeiro na mídia, o mercado editorial brasileiro tem tudo para viver um novo boom, pois não há grupo de comunicação disposto a injeitar as prováveis ofertas que virão. Aliás, quem tem acompanhado mais de perto o assunto afirma que não há grupo hoje no País que já não tenha um parceiro de fora amarrado – com contratos de gaveta ou acordos já encaminhados.

A questão é que os investidores internacionais antes de olhar o negócio olham sua rentabilidade e o retorno que terão. Não adianta ter um faturamento exuberante se a performance em termos de rentabilidade for pífia. E é aí que aparece a questão das demissões. Muitos grupos ainda não atingiram uma rentabilidade atraente aos olhares externos e precisam fazer isso rapidamente para não serem pegos no contrapé, quando a lei for aprovada. E esta seria uma das razões (não explícitas) da onda de demissões verificadas na imprensa brasileira. Que a lei vai ser aprovada, parece não haver dúvida, pois a pressão das empresas e de suas entidades representativas em Brasília é muito.

A questão é saber se o país, o mercado, os profissionais e as famílias dos desempregados merecem ser tratadados de forma tão desumana e apenas sob a fria ótica dos números. A quem demitiu, Jornalistas&Cia recomenda a leitura do artigo de Sthepen Kanitz na edição da revista Veja (semana de 10 a 16/11), que está nas bancas. Ele reflete com brilhantismo a ignorância que é a prática da demissão como fator de prevenção a uma crise."