BUDAPESTE, SOS PLURALISMO
Alberto Dines
Chico Buarque é um artista sério, esmerado, sua nova ficção deve ser tão boa, compenetrada e séria como as anteriores. Não está em questão a qualidade de Budapeste nem o talento do autor. Muito menos a qualidade da editora Companhia das Letras, que nestes 20 anos de existência colocou-se entre as mais inovadoras do país.
Pretende-se discutir aqui a agressividade do marketing editorial vigente no Brasil para os grandes lançamentos. A Companhia das Letras começou-o, os outros a imitaram e agora o sistema ganhou foros de violência. Pior de tudo: a mídia está sendo tutelada e gosta, não reclama, até pede mais. Submeteu-se a uma excrescência chamada pool e acha que está certa. Não está.
É inaceitável este pacto entre os maiores veículos brasileiros para publicar no mesmo fim de semana as matérias que vão constituir o lançamento de uma nova obra literária. Isto é pura jogada comercial ? válida para a editora, inválida para a imprensa imperiosamente pluralista.
Teoricamente livre de injunções, comprometida com a diversidade e a independência, a imprensa não pode submeter-se a qualquer tipo de embargo. Sobretudo quando coletivo, corporativo. Este não serve ao leitor porque depois desta monumental barragem de loas nenhum crítico, resenhista ou ensaísta ousará escrever qualquer coisa que contradiga os veredictos dos monstros da literatura contratados pela editora para consagrar o editado.
Para formar juízos e decidir que comprará o livro, o público precisa ser trabalhado sem prepotência. E, depois de comprar, ao lê-lo, precisa ser orientado. O crítico é uma espécie de guia. Parece que às editoras não interessa esse tipo de orientação porque depois do carnaval lançador, nenhum jornal ou revista estará disposto a investir mais papel e mais dinheiro para retomar um assunto badalado ad nauseam.
Saturação é isso: fazer barulho, não deixar tempo nem espaço para pensar e discutir. O trágico é que isto se faz em nome da cultura.