A VOZ DO DONO
Alexandre Martins (*)
José Serra é o candidato à presidência da República que desfrutou de maior espaço na imprensa no período que antecedeu o programa eleitoral no rádio e na TV, iniciado na terça-feira, 20/8, e, diz a imprensa, apostará todas as suas fichas nos horários gratuitos, onde também gozará a vantagem de mais tempo de exposição. Entretanto, Serra foi alvo de críticas diretas dos jornais diários ? por meio de editoriais e artigos assinados. A crítica ao tucano se refere ao fato de ele não assumir sua candidatura como governista.
Outros candidatos também receberam puxões de orelhas dos periódicos. Ciro Gomes, por exemplo, foi chamado de fascista pelo Estado de S.Paulo por apresentar propostas um tanto peculiares, como, por exemplo, a de destituir o Congresso e convocar novas eleições presidenciais quando (e se) o país estiver atolado em crises. Mas nenhuma candidatura foi tão criticada quanto a de Serra, devido ao comportamento atípico do ex-ministro como candidato pelo partido do presidente da República.
O mesmo Estado de S.Paulo que uniu Ciro a Mussolini passou uma verdadeira descompostura em Serra ao afirmar que este cometia erros estratégicos primários na campanha por não faturar os votos dos eleitores que aprovam o governo de FHC; por criar uma situação estranha numa campanha eleitoral em que o governo não tem candidato; e, pior, fazer o jogo da oposição (criticar o governo FHC) numa área em que esta conta com argumentos, credibilidade e coerência nos discursos.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo (segunda-feira, 19/8), o professor José Augusto Guilhon Albuquerque resume o sentimento dos editoriais: "(…)o candidato do governo está sendo levado a fingir que é oposição pela total falta de familiaridade dos ?marqueteiros? com a natureza do processo político nacional. É hora de Serra deixar claro de que lado está(…)".
O fato é que Serra ? durante o período compreendido de janeiro a agosto ? foi o candidato que contou com o maior espaço na imprensa e não soube se aproveitar disso. A partir da terça-feira (20/8), data do início do horário eleitoral no rádio e TV, o presidenciável terá mais uma chance de se adaptar ao discurso governista e cumprir seu papel com coerência. Caso contrário, Serra ele corre sério risco de não ir para o segundo turno das eleições.
(*) Jornalista, diretor de pesquisas do Instituto Brasileiro de Estudos da Comunicação (IBEC)
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