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INTERNET EM CRISE?
"Sem dinheiro fácil, internet muda de face no Brasil", copyright Valor Econômico, 15/01/01
"Poucos escaparam ao rolo compressor que assolou a internet no ano 2000. De grandes provedores e seus enormes prejuíiacute;zos a negócios virtuais de fundo de quintal, ninguém escapou de escorregar da euforia absoluta para o inferno da contenção de gastos ou mesmo da falência.
O mundo (virtual) mudou de face, mas não morreu. Ainda há muito dinheiro – e boas idéias – para sustentar sua concretização. Há também gente que entendeu o recado, arregaçou as mangas e entrou em 2001 pronto para a briga virtual.
Os investidores aprenderam a lição, mas não perderam o fôlego. A Associação Brasileira de Capital de Risco diz que apenas os fundos teriam a soma de US$ 3,8 bilhões para alocar neste ano em todos os setores da economia, sendo que tecnologia é o foco central. Apenas nove empresas consultadas por Valor pretendem colocar mais de US$ 217 milhões na área.
Tudo para abocanhar um quinhão dos US$ 3 bilhões que o comércio eletrônico deverá movimentar no país em 2001, segundo o instituto de pesquisa IDC.
Há também muito dinheiro de empresas tradicionais para seus projetos na internet e grande companhias, como Oracle e Intel, gigantes tecnológicos, que vão usar seus fundos de investimentos próprios para continuar impulsionando o setor.
O fôlego pode ainda estar em alta, mas os donos do dinheiro fazem lá suas ressalvas. ‘Estamos muito cautelosos em relação a novos investimentos na internet e olhando com atenção para as telecomunicações’, diz Marco Rossi, diretor do UBS Capital, que investiu cerca de US$ 80 milhões em tecnologia no Brasil.
‘Os investidores já definiram as principais tendências’, afirma João Bustamante, analista do IDC. Uma das regras quase unânimes da fase da relação capital- internet é que o mundo de empresas puramente virtuais que começam do zero não vale mais o risco.
Os grandes investidores vão dar em 2001 preferência a negócios que tenham, pelo menos, alguns meses de vida e resultados para mostrar. ‘Ainda há espaço para as iniciantes, mas ele é muito menor’, afirma Sidney Chameh, diretor do banco Fator, que investiu US$ 10 milhões na rede e tem outros US$ 7,5 milhões reservados.
Para chamar atenção, empreendedores que estão partindo do zero vão ter que suar a camisa. ‘Embora não seja nosso foco, podemos investir em empresas novas, desde que tenham um grande diferencial, como uma tecnologia inédita’, afirma João Tavares, diretor da LatinTech, com um portfólio de US$ 50 milhões e cinco projetos de tecnologia.
Os donos do dinheiro também estão de olho em áreas em que vislumbram um grande potencial de crescimento. ‘Nosso interesse está na industria que circunda a internet, como as empresas de software’, afirma Luiz Castello Branco, diretor do BancBoston Capital. O fundo já investiu US$ 50 milhões no segmento e pretender colocar outros US$ 50 milhões neste ano.
Além dos softwares, os setores de telecomunicações e serviços prometem ser as vedetes do ano. Nove em cada dez gestores estão procurando negócios nesses campos. O braço de capital do Grupo Votorantim, por exemplo, vai dar preferência a essas áreas. ‘Pretendemos expandir nosso portfólio com infra-estrutura para transmissão de dados, seja em banda larga ou sem fio’, conta Artur Ribeiro Neto, diretor executivo do VV Capital. Na empreitada poderão ser gastos até US$ 60 milhões.
Para os analistas, outra definição do ano é que muitos fundos terão de gastar dinheiro e tempo para manter vivos os negócios em que já investiram.
E quanto mais dinheiro, maior a retração nos novos projetos. ‘O nosso foco neste ano será consolidar os projetos em que já investimos’, diz Gisele Everett, vice- presidente do CitiCorp Venture Capital para a América Latina, um dos maiores da região. Muitos fundos que investiram forte na rede estão tomando a mesma decisão.
Em 2001, haverá espaço ainda para negócios desconhecidos no país, como a área de instalação de torres de telecomunicações e para o retorno dos fundos mais tradicionais à flexibilidade, com apostas maiores nas companhias da velha economia. Setores como o de varejo e de logística podem sair beneficiados.
Como para todas as regras há exceções, o InternetCo, que já tem oito negócios no mundo virtual, não quer nada com o mundo dos tijolos, como as telecomunicações ou os serviços reais. Só pensam em investir nas pontocom puras.
‘Nós somos pessimistas com o passado da internet, não com o seu futuro’, brinca Pedro Mello, que se diz muito satisfeito com os US$ 10 milhões investidos na rede."
"Dimensão da quebradeira ainda é virtual no Brasil", copyright Valor Econômico, 15/01/01
"Era esperado. Todos os especialistas já diziam há tempos que as empresas pontocom iam sair do mapa às dezenas. Afinal, elas surgiram às centenas e atingiram um número que, segundo é estimado por alguns observadores do mercado, chega a mais de 3 mil. Ainda assim, a derrocada chama a atenção.
Desde o segundo semestre do ano passado, pelo menos 15 pontocom fecharam as portas. E esse é, provavelmente, um número muito conservador, já que os casos que se tornaram conhecidos são apenas os das empresas que receberam investimentos de algum porte e conseguiram tornar suas marcas relativamente conhecidas.
No mesmo período, pelo menos outras 17 empresas virtuais fizeram fortes ajustes em seus quadros de funcionários, com cortes que muitas vezes passaram dos 50%.
Apenas contando os dados revelados por 32 empresas numa pesquisa realizada pelo Valor, o número de demissões já passa de mil.
Em meio à carnificina, ganhou destaque o segmento de provedores gratuitos: dos 11 que começaram 2000, quem não quebrou mudou de foco. O iG e o Terra Livre foram os únicos que mantiveram o acesso gratuito.
Mais uma vez, o número do ajuste deve estar subavaliado, já que muitas empresas não divulgam seus cortes e não há nenhum levantamento no país para consolidar esses dados.
Nos Estados Unidos, onde as pesquisas são feitas por empresas especializadas, o horror pontocom pôde ser medido em toda a sua extensão. No primeiro semestre, as companhias do setor cortaram mais de 5 mil funcionários. No segundo, foram 36 mil, fazendo com que o total de vagas que sumiram saltasse para mais de 41 mil.
‘Os maiores responsáveis pela quebradeira foram a inabilidade gerencial dos administradores e a falta de visão do mercado’, diz Omar Tabach, da Ernest Young. Para Andrei Nestorov, da KPMG Consulting, muitos empreendimentos falharam por absoluta inviabilidade do modelo de negócio. Muito dinheiro foi colocado em segmentos saturados e na mão de empreendedores inexperientes. Exemplos? O Brasil já teve mais de dez sites de imóveis, 20 sites de saúde e 11 provedores gratuitos. Durante a euforia, investidores e empreendedores acreditaram que seus negócios seriam os vitoriosos. Ou engoliram a idéia de que o mercado cresceria para todos. Nada disso aconteceu.
Os erros mais freqüentes foram nos negócios baseados no binômio audiência e publicidade. ‘Eles não conseguiram um tamanho e um crescimento suficiente para ultrapassar a fase de prejuízo’, avalia Nestorov.
Outro ponto que atrapalhou os planos das empresas foi a falta de credibilidade dos projetos. Quando viram que as companhias não iam entregar o que tinham prometido, os investidores fecharam as torneiras e, sem recursos, as companhias acabaram fechando."
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