Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eduardo Ribeiro

CENTRAL INTERNACIONAL DE NOTÍCIAS

"Colegas brasileiros montam agência de notícias nos EUA", copyright Comunique-se, 12/6/02

"Quatro renomados colegas, três deles morando nos Estados Unidos, e um no Brasil somaram forças para montar uma agência de notícias, comprometida em cobrir os assuntos desprezados pelas grandes agências, mas que interessam diretamente aos veículos regionais do Brasil. E mais: propõem-se a fazer coberturas exclusivas sob encomenda. Como emprego e oportunidades de trabalho estão difíceis em qualquer lugar do mundo, buscar nichos de mercado é sempre uma boa pedida, embora traga consigo os riscos dos novos negócios.

Os autores da proeza são os jornalistas Antonio Tozzi, Luiz Fernando Magliocca e Chris Delboni e o conhecido cronista esportivo Cândido Garcia.

Diz Magliocca: ?Agências de notícias são as maiores responsáveis pelo fornecimento de informações. São fotógrafos, cinegrafistas e repórteres das grandes agências internacionais que estão na linha de frente dos principais eventos mundiais para abastecer veículos de todo o planeta com textos, áudio e imagens, reproduzidos nas mídias impressa e eletrônica dos cinco continentes. Entretanto, o gigantismo dessas empresas naturalmente leva à cobertura de eventos de grande envergadura, esquecendo-se de assuntos considerados ?insignificantes?. E é exatamente essa lacuna que a Central Internacional de Notícias (CIN) pretende preencher.?

Que a equipe equipe é experiente e de gabarito não se pode duvidar e tão pouco do conhecimento que tem dos Estados Unidos para gerar e fornecer material informativo de relevância para a mídia brasileira.

Magliocca, por exemplo, construiu boa parte de sua carreira no segmento de rádio, passando por praticamente todas as emissoras (Band, CBN, Jovem Pan) em cargos como repórter, programador, produtor e diretor artístico. Está desde 1998 nos Estados Unidos, residindo em Miami Beach, e é atualmente correspondente das revistas Chiques&Famosos e Sucesso CD e do site OFuxico, tendo também atuado como correspondente internacional da Rádio Trianon.

Tozzi, outro dos parceiros, no seu tempo de Brasil passou pelos principais veículos do Grupo Estado (Estadão, Jornal da Tarde e Rádio Eldorado) e também pelo segmento de assessorias, na Burson-Marsteller e ZDL. Está há seis anos nos Estados Unidos, período em que integrou as equipes de tevê da CBS Telenotícias e da PSN, do site Planeta Gol e do Florida Review, jornal feito para a colônia de brasileiros naquele estado norte-americano. Ele fica baseado em West Palm Beach, na Flórida.

Chris também tem um recomendado currículo, ela que já foi correspondente das rádios Bandeirantes e CBN, de O Globo, do portal iG, além de ter colaborado com várias publicações, entre elas Veja, IstoÉ Dinheiro, Marie Claire, Gula, Superinteressante e Claudia. Na Globo News foi correspondente de economia do programa Conta Corrente. Mora em Washington.DC.

Por fim, o experiente e renomado Cândido Garcia, que há mais de 40 anos agrega seu nome às mais importantes coberturas esportivas do planeta, fecha o quarteto, endossando, com seus 40 anos de experiência, este inovador projeto. Garcia faz a ponte com o Brasil, já que permanece sediado em São Paulo, onde atualmente trabalha como comentarista da Transamérica FM, na equipe de Éder Luiz. Ele foi de A Gazeta Esportiva e também atuou por muitos anos nas rádios Jovem Pan e Bandeirantes.

Para os profissionais da CIN, há um enorme potencial de notícias, calcado nas comunidades brasileiras que vivem nos Estados Unidos, no turismo e na presença de brasileiros nos mais diversos campos de atuação dentro do território norte-americano. São pesquisadores, cientistas, artistas, empresários, executivos e uma infinidade de compatriotas desenvolvendo excelentes trabalhos que, na maioria das vezes, são simplesmente ignorados pelo público. Até mesmo pelos correspondentes dos veículos brasileiros no Exterior que precisam ficar em cima dos grandes acordos políticos e econômicos que podem afetar o relacionamento diplomático e comercial.

Diz Magliocca: ?Viagens de políticos regionais e locais e delegações comerciais, por exemplo, não despertam interesse nos principais veículos brasileiros, mas são relevantes para a mídia regional. Ora, eles podem muito bem acertar parcerias e financiamentos internacionais, assinar contratos de exportações ou programas de intercâmbios. Como nem sempre os veículos locais podem enviar jornalistas, os profissionais da CIN estão aptos para acompanhar estes eventos?.

A CIN, segundo ele, também trabalha oferecendo pautas que podem enriquecer as edições das mídias impressa e eletrônica do Brasil, com material exclusivo, desenvolvido para atender o público, sempre de acordo com a visão de brasileiros na elaboração das notícias.

?Em tempo de globalização irreversível – diz – consideramos importante manter o nosso sotaque para não perdermos a identidade.?

Interessados em outras informações sobre o projeto podem manter contato com o próprio Magliocca através do e-mail magliocca1@aol.com ou pelos telefones (305) 534-6364 / 401-4866. O endereço é CIN – Central Internacional de Notícias, 1621 Bay Road Ste. 401, Miami Beach, FL 33139."

 

JORNAIS SEM REVISÃO

"Revisores fazem falta nas redações", copyright Comunique-se, 11/6/02

"A grande maioria dos jornais contemporâneos, especialmente em Minas Gerais, costuma cometer erros surpreendentes na linguagem. Não são poucas as vezes em que a falta de revisores se torna evidente a cada edição, onde concordâncias equivocadas e flexões pronominais incorretas são abundantes e nem todas corrigidas em tempo hábil. Isto ocorre, em parte, por causa da extinção, com o advento da informatização, de um profissional que há décadas era parte integrante e essencial de todas as redações e hoje tornou-se referência ou folclórica ou saudosa, no universo da Imprensa nacional e mundial. Trata-se do revisor, especialidade oficialmente extinta mas que, em várias publicações, já se pensa em ressucitá-la.

?Os jornais estão mal escritos por várias razões, desde a padronização da linguagem, atulhada de gírias e neologismos, até o progressivo desconhecimento da língua portuguesa, por descaso pela leitura e o menosprezo que se tem hoje pela palavra escrita?, comenta Ronald Pimenta, que foi revisor no Estado de Minas durante 39 anos e três outros no Hoje em Dia. Ele atribui também à implantação brusca da informática. Em quase todos os setores da atividade profissional, esta queda é evidente na qualidade dos textos dos jornais diários. ?Computador pode ser um instrumento muito útil mas as pessoas se esquecem que, por mais eficiente que possa ser, possui um gravíssima falha: não pensa?, acrescenta.

Ronald lembra que, pelo menos em Minas, todos os jornais acabaram há alguns anos com os setores de Revisão. ?No Estado de Minas, há alguns anos, chegaram a trabalhar até 30 profissionais nesta área, em três turnos seguidos?, destaca. Reconhece, porém, que, naquela época, os jornais eram menores, ?mas o rigor com os textos e a linguagem era bem mais acentuado. Havia um carinho maior e um grande respeito pela palavra e pela correção da linguagem?. Atualmente – Ronald exerce a função de uma espécie de ?secretário gráfico? no EM, corrigindo erros nos prints das páginas – confessa que é obrigado a lidar, a cada noite, com uma mescla de acentuações até infantis, muitas concord&acacirc;ncias malucas e uma certa mania de alguns jornalistas de ?usarem o verbo no singular enquanto o sujeito está no plural?.

Mas ele confessa que não há tempo disponível para uma verificação mais minuciosa da totalidade do material: ?Depois que inventaram a tal de ?dead-line? para o fechamento das páginas, por imposição industrial, o importante é cumprir horários. E muita coisa vai para a impressão do jeito que foi escrita originalmente. É impossível dar muita atenção a minúcias. Não se pode ler tudo em tão pouco tempo?. Ele e seu colega na função, Otacílio Lage, dão proridade à leitura de títulos e legendas, ?no máximo um lead de alguma matéria mais importante. O cronograma de fechamento, extremamente rígido, não permite mais que esta preocupação?. E ressalta: ?fico assustado, às vezes, quando vejo até alguns textos de anúncios, produzidos por agências conceituadas, atulhados de falhas de fazer corar uma professora primária. Mas o que se há de fazer? É publicado como chegou?.

?Em casos de dúvida, a solução é consultar o Manual de Redação do jornal. Se o que o repórter escreveu não violenta os preceitos ali contidos, o texto segue em frente?, prossegue Ronald, queixando-se também da ?falta de experiência e imaturidade? de alguns profissionais. Mas atribui este desacerto à pressa para encerrar as edições, dizendo que as matérias poderiam ter qualidade bem melhor ?se não fossem redigidas com tanta rapidez e obedecendo a uma maior disciplina. Este ritmo frenético é a razão primordial da baixa qualidade de muitas notícias e reportagens?.

Critica também alguns profissionais da redação, ?que pecam pela ostensiva falta de preparo. Além disso, seu nível cultural deixa muito a desejar?. Responsabiliza as empresas por estes ?desmandos linguísticos e jornalísticos?, já que, em sua opinião, as revisões foram eliminadas ?por exigência de um controvertido conceito de economia. Editores e alguns burocratas ganham salários invejáveis e revisores são mão-de-obra relativamente barata. Podia-se muito bem chegar a um meio termo, desde que prevalecesse o bom senso e a boa vontade?.

?Hoje, a televisão absorve tudo, padroniza linguagens, dita comportamentos e até cria palavras. Não sei onde esta situação vai chegar?, continua Ronald Pimenta. ?Com a volta dos revisores, o jornais certamente melhorariam. Pelo menos não aconteceriam tantas pontuações incompreensíveis, flexões pronominais aleijadas e, o pior de tudo, construções de textos jornalísticos onde é difícil entender o que o repórter quer dizer. Há peças que chegam até a assustar. São comuns matérias onde o assunto do título está nos últimos parágrafos do texto?. Nostálgico, recorda que, quando começou a trabalhar como revisor, ?meus colegas eram todos bacharéis ou professores. Eu mesmo sou dentista, formado pela Faculdade de Odontologia da UFMG em 1958?. Mas tem esperança de que as coisas se alterem, pois já ouviu, de um editor, o comentário informal de que o Estado de Minas estaria cogitando reativar a área de Revisão. ?São por enquanto apenas alusões sem compromisso, nada oficial . Vamos esperar para ver?.

A função de Ronald no EM consiste em ler e, quando necessário, corrigir as provas de páginas. Ele conta que os editores não reclamam das alterações, a não ser em casos esporádicos. ?Eles nos respeitam e concordam que só mudamos textos, legendas e títulos para melhor?.

Ronald trabalha no jornal partir das 18h e, em algumas ocasiões, de lá sai após as 24h. Em seu crachá de identificação funcional não consta a palavra ?revisor?. Nele, está apenas escrito: ?prestador de serviços?."

 

MULHERES NO JORNALISMO

"Mulher no Rio Grande", copyright Comunique-se, 11/6/02

"Amarilys gosta de passear por sites de jornais diários para conferir onde andam as mulheres na primeira página, nas colunas, nos cadernos.

Amarilys já teve um fraco, não se acanha em confessar, pelo charme gaúcho, o sotaque, o uso da segunda pessoa, um ligeiro separatismo. A queda pela turma do Rio Grande incluiu, até, alguns amigos, muy amigos, em passado distante e recente, que deixaram saudade. Está justificada a escolha do passeio no site do Zero Hora, dia 10 de junho, para descobrir como anda a mulher nesse jornal.

Primeiro, os colunistas. Oito mulheres, 11 homens. Segundo, os temas. Mulheres falam de política, economia, decoração, moda, comportamento/relacionamento e fazem coluna social. Homens também estão em coluna social e fazem crônicas sobre o amor e comportamento, mas, nesse dia, cinco estavam no ar com colunas sobre futebol. Nenhuma mulher escreveu sobre a Copa. O que torna a cobertura da Fátima Bernardes para a TV Globo e a participação da Soninha em debates na ESPN mais interessantes ainda.

Na capa do Zero Hora, duas mulheres, infelizmente, mortas. Um bebê, atingido por uma bala perdida, dentro de uma igreja, e uma comerciária espancada e executada dentro de casa. A repórter Géssica Trindade fez a matéria sobre as duas mortes. A matéria é um primor que atesta a abrangência do olhar feminino sobre a realidade que tantos podem constatar assistindo Mônica Waldvogel, Rita Lee, Fernanda Young e Marisa Ortz entrevistando presidenciáveis no Saia Justa.

O que faz Géssica Trindade de especial numa reportagem policial até curta? Ela mostra que morreram pessoas. Não foram enterradas estatísticas. Foi um bebê, Adriele, primeira filha de um casal jovem. A repórter conta, em rápidas linhas, como era a igreja onde a criança foi levada pela primeira vez e como estava vestida para o culto. Com a mesma rapidez, narra que a comerciária morta teve uma filha aos 12 anos de um homem que também foi assassinado ano passado. Fazendo as contas, pelos dados da matéria, se conclui que Angela Maria, a comerciária, perdeu o marido quando estava grávida da filha caçula. A mais velha, 14 anos, viu o crime e não tem nenhuma esperança de que a violência no local diminua, como declara para a repórter.

Não deve ser difícil descobrir os assassinos e os motivos da segunda morte. Se uma repórter pode informar tanta coisa, num espaço tão curto, a polícia deve ser capaz também de descobrir, rápido, quem fez e a justiça garantir a execução da lei que proíbe assassinatos. Simples demais o raciocínio de Amarilys? Pode ser. Ocorre que é provável que mulheres tenham um raciocínio mais simples, mesmo. Crianças precisam ser cuidadas, gente poderosa e impune deve ser temida. A menos que um poder maior se levante.

O que o jornalista Tim Lopes investigava? Exploração sexual de menores em bailes funk. É claro que exploração sexual, nesse caso, também atinge adolescentes de sexo masculino que são ?obrigados?, ?estimulados? a fazerem sexo com meninas. Ocorre que mulheres engravidam e colocam no mundo bebês que nascerão filhos de crianças, concebidos sob a égide de um poder que determina quem faz sexo com quem, quem deve ser espancado, torturado, morto. É muito ruim para o país que jovens se submetam à lógica da impunidade e do castigo brutal. Não tem democracia que resista a esse tipo de conformismo.

É muito bom que mulheres estejam, no Brasil, se destacando na cobertura e comentário de assuntos antes reservados só aos homens. Política, economia, futebol. É bom também saber que levantamos a bola para o aparelho policial investigar, o jurídico punir, enfim, o Estado tomar providências. O jogo não é só nosso."