MÍDIA EM CRISE
"Demissões medievais", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 10/7/02
"O termo é forte – quem sabe forte demais – mais é preciso chamar a atenção para o que as empresas jornalísticas de quase todo o Brasil têm feito com um grande número de colaboradores, muitos deles com anos, décadas de casa. Poucas vezes se viu, no segmento jornalístico, uma crise dessa natureza, com tal gravidade, mas isso em nada exime as empresas de suas responsabilidades com os funcionários e, até mais do que eles, com as famílias que dependem do suado salário.
Está aí, já há anos, o PDV, ou Plano de Demissão Voluntária, adotado por um grande número de organizações – em geral multinacionais – e simplesmente ignorado pela esmagadora maioria das empresas genuinamente brasileiras, entre elas os grupos de comunicação.
É como se os funcionários de empresas brasileiras valessem menos, tivessem méritos menores, menos necessidades. Ou, visto pelo ângulo empresarial, como se apenas as empresas estrangeiras tivessem a obrigação de cuidar melhor de seus colaboradores, pelo fato de não terem a nacionalidade pentacampeã.
O PDV não é bálsamo para todos os males. Longe disso. Temos uma luta maior pela manutenção e pelo crescimento do emprego. Mas se a empresa precisa efetivamente reduzir seu quadro de funcionários por que não recorrer primeiramente a um processo voluntário, oferecendo, obviamente, vantagens para estimular os colaboradores a aderirem?
Ele, o PDV, certamente vai custar mais para as empresas, mas não será isso que as levará à bancarrota, sobretudo porque estamos todos carecas de saber que o peso da mão de obra nos custos das empresas é um dos menores em comparação com os demais. É um processo civilizado, transparente e que permite às empresas diminuírem eventuais injustiças com seu corpo de colaboradores.
Mas por qual razão agora vem esse caboclo dar pitaco em assunto de foro tão íntimo, sabendo-se que as empresas têm em seus quadros PhDs em recursos humanos, em psicologia humana etc.?
Porque esse caboclo está assistindo a uma das mais cruéis páginas de nossa história, no que diz respeito à dignidade profissional e humana, dentro das redações.
É desumano ver colegas demitidos sem a mínima oportunidade de defesa, sem que a redação participe conjunta e democraticamente do processo (quem é solteiro, quem tem dois empregos, quem tem uma situação financeira mais equilibrada etc. etc.). É triste ver colegas reféns de boatos, boatos que se sabem vão se transformar em realidade
É inaceitável aceitar que as pessoas sejam tratadas como números, como percentuais. Atrás de um homem e de uma mulher, seja ele ou ela jornalista ou não, há emoções, sentimentos, família, medos, inseguranças, ansiedades.
Aqueles que têm a responsabilidade pelas demissões terão de entender, mais dia ou menos dia, que é necessário brigar para cima e para baixo por um processo mais humano, menos injusto, pois eles próprios vão se ver em algum momento diante de idêntica situação. É da vida, do ciclo da vida. Se não tem mesmo jeito de evitar cortes, que eles venham com dignidade, buscando dar a cada um dos demitidos amparo não só material como também psicológico.
Esse é um desafio e uma responsabilidade, talvez uma das maiores, de alguém que galgou postos de comando em alguma organização. Líder que não zela pelos seus comandados não merece esse título e empresa que não ampara seus colaboradores não merece o reconhecimento do mercado.
Se assim não for, não tem sentido tudo aquilo que aprendemos
e ensinamos a respeito da civilização e dos direitos elementares
dos cidadãos. Quanto aos números… Bem, isso é lá
com os matemáticos, que sequer devem ter um coração a bater
no peito."
"Pearson suspende planos de expansão do Financial Times", copyright Valor Econômico / BusinessWeek, 16/7/02
"No mundo dos negócios, foi uma das grandes manchetes dos últimos anos. A texana Marjorie M. Scardino assume o comando da sisuda Pearson PLC e reanima a prestigiosa empresa britânica e sua cotação em bolsa com um estilo motivador e aquisições de impacto. Infelizmente, a história não acabou aí. Como acontece com a maioria das empresas de comunicação, a Pearson foi parar na lista negra do investidor. O preço da ação, que, com Scardino, triplicara até meados de 2000, anda abaixo do patamar registrado quando de sua estréia, em 1997. Não surpreende que suas iniciativas, antes aplaudidas, recebam agora más notas. ?Se saísse hoje, ela seria considerada um fracasso?, diz Matthew Owen, analista de mídia do Morgan Stanley , em Londres, que desde o início viu a Pearson com ceticismo.
Scardino, 55 anos, tem uma resposta pronta. ?Se quiserem me julgar pela cotação das ações, tudo bem?, diz. ?Mas posso me gabar de ter revolucionado a empresa, que tem um imenso potencial de crescimento e de lucros. Sua cultura (hoje) é completamente diferente e a importância disso para o desempenho no futuro é subestimada pelas pessoas.?
Pode até ser. Por enquanto, porém, Scardino continuará a apanhar. De um faturamento de US$ 6,8 bilhões em 2002, a Pearson deve sair com um lucro operacional de cerca de US$ 945 milhões – sem computar perdas na internet e amortizações – segundo a Sanford C. Bernstein, de Nova York. Confirmada a hipótese, seria outro ano de empate ou perdas depois de um 2001 com queda de 6%. O investidor começa a duvidar que Scardino possa honrar a promessa de retornos substanciais, que levou a ação às alturas no final da década de 90. A Bernstein calcula, por exemplo, que o lucro da Pearson sobre o capital investido seja de apenas 3,3%. Também acham que a área de educação, na qual Scardino apostou o grosso das fichas, não seja um setor de expansão acelerada como se supunha e que ela seja incapaz de controlar custos na retração atual, mais acentuada do que o esperado. ?Considerado o retorno atual, a empresa está pior do que quando Scardino assumiu?, diz Terry Smith, presidente da corretora londrina Collins Stewart.
O pior baque é sentido pela jóia da coroa da Pearson, o ?Financial Times?. Calcula-se que a receita publicitária do jornal tenha caído 20% este ano. Em 2001, caíra outros 20%. Na revista ?BusinessWeek?, da McGraw-Hill, a retração consecutiva de publicidade foi ainda pior. No ?The Wall Street Journal?, também. A Pearson não espera uma recuperação antes de 2004 e cogita cortes adicionais aos já consideráveis feitos no ?Financial Times?, que entra com 10% de seu faturamento. O nicho pedagógico do mercado editorial, no qual Scardino investiu mais de US$ 7,2 bilhões, provou também ser muito mais vulnerável ao ciclo econômico do que ela supunha. Com o corte de gastos públicos nas esferas federal e estadual nos EUA para compensar a queda na arrecadação fiscal, Michael Nathanson, analista do setor europeu de comunicações na Sanford C. Bernstein, calcula que a retração geral no mercado americano de livros pedagógicos, a maior aposta da Pearson, possa ser de 3% neste ano e no próximo, depois do crescimento anual recorde de 10% nos últimos anos. A McGraw-Hill, outra potência das publicações pedagógicas, enfrenta cenário semelhante.
É verdade que vários dos problemas de Scardino são fruto do clima hostil hoje enfrentado pelas bolsas, sobretudo por ações do setor de comunicações. Poucos negariam que a Pearson tem agora um foco mais estreito. Scardino livrou-se de operações marginais, como os museus de cera do Tussauds Group. De um turbilhão de 120 acordos, a Pearson saiu com apenas três grandes ramos de atividade: educação, responsável por quase dois terços da receita operacional; Financial Times Group e a editora Penguin Group.
É um esquema simples. Mas, alimentar o crescimento de cada divisão com a compra de outras empresas não será fácil. É improvável que o mercado apóie uma aquisição de peso, já que o investidor considera Scardino – e outros executivos do ramo da safra dos anos 90 – uma gastadora de mão cheia. ?Seu currículo é pavoroso?, diz Hugh Hendry, sócio da Odey Asset Management, de Londres. ?Ela comprou por valores altíssimos nas horas menos oportunas.? Para justificar as grandes aquisições e a expansão do ?Financial Times?, Scardino alega que o mundo entrava numa era em que a busca por informações financeiras e material pedagógico explodiria. A internet, em sua tese, seria um veículo fundamental para o acesso a produtos nas duas áreas. Parecia plausível, e talvez ainda seja, mas a realização do sonho foi adiada.
Pouco resta a Scardino, portanto, além de controlar os gastos e administrar com rédeas curtas o capital. Ela resolveu moderar as ambiciosas metas da Pearson no nicho de educação on-line, no qual a empresa torrou cerca de US$ 185 milhões para tentar estabelecer um portal educacional para o grande público, a The Learning Network. Scardino também derrubou os gastos da versão on-line do ?Financial Times?, que acumulou US$ 230 milhões em prejuízos. No geral, as perdas na internet devem cair de US$ 215 milhões, no ano passado, para US$ 93 milhões este ano. Scardino promoveu o ex-diretor financeiro John Makinson, considerado um possível sucessor, ao comando do grupo editorial Penguin. Lá, uma de suas principais tarefas é tirar do vermelho a Dorling Kindersley, a editora britânica comprada em 2000 por Scardino por US$ 482 milhões. No ano passado, a Pearson efetuou uma baixa contábil de US$ 77 milhões por conta da editora.
Com a redução do endividamento, Scardino conseguiu evitar um rebaixamento na classificação de crédito. Às vésperas do Natal, vendeu à Bertelsmann os 22% da Pearson no RTL Group, maior emissora de TV da Europa, por US$ 1,5 bilhão. Com isso, o endividamento caiu para cerca de US$ 2,2 bilhões e o serviço da dívida, para cerca de US$ 170 milhões este ano (US$ 263 milhões em 2001). Também foram reduzidos, porém, os negócios movidos a publicidade, que passaram de 18% para 10% das receitas do grupo, segundo estimativas da Bernstein. Portanto, será menor o impulso da empresa quando o setor de mídia se recuperar.
Se a situação já ruim se agravar, segmentos de grande projeção do grupo estariam ameaçados. A expansão do ?Financial Times?, cuja circulação é hoje de 501 mil exemplares, foi suspensa. Alguns analistas, entre eles Smith, da Collins Stewart, acham que Scardino deveria explorar a possibilidade de vender o jornal, pois um troféu desse quilate teria um alto preço.
O investidor continua aguardando por aqueles polpudos frutos da área de educação. Para transformar a Pearson em líder do nicho da noite para o dia, Scardino ofereceu US$ 4,6 bilhões à Viacom Inc. pelos ativos editoriais da Simon & Schuster, em 1988. Em 2000, deu o que muitos analistas consideraram um passo grande demais, ao pagar US$ 2,5 bilhões – 26% a mais do que o valor de mercado – por uma obscura empresa de testes com sede em Minnesota, a National Computer Systems.
Investidores duvidam que tais empresas atingirão as altas metas de crescimento esperadas por Scardino. A Bernstein prevê que a receita da Pearson Education subirá apenas 2% em 2002 – para US$ 4,1 bilhões – e 3% em 2003. Fontes próximas à empresa afirmam, porém, que 5% ao ano é um índice mais realista. Continuam fortes as divisões de material universitário e de segundo grau, embora os livros de nível técnico e de gestão de dados tenham perdido muito em função da retração tecnológica. A área de publicações educacionais, que Scardino cercara de grandes expectativas, foi abalada pela crise econômica na América Latina. A National Computer Systems conseguiu um feito ao fechar contratos no total de US$ 315 milhões com o governo americano para checar a ficha do pessoal de segurança dos aeroportos do país, processar formulários do serviço de imigração e cuidar do ensino on-line da Marinha. No software pedagógico, porém, decepcionou. Investidores achariam bom que a Pearson fizesse a baixa contábil de uma parte dos US$ 2,5 bilhões investidos na empresa.
É um desempenho heterogêneo. Apesar disso, Scardino parece ter
conseguido manter a confiança do conselho da Pearson, que atribui o estado
das ações ao mercado em si, e não à gestão.
?Não estou certo de que seja o caso de apostar contra Marjorie Scardino?,
diz Jonathan Newcomb, ex-presidente da Simon & Schuster e, hoje, sócio
da Leeds Weld, empresa de participações de Nova York, especializada
no setor educacional. A própria Scardino afirma que seu plano é
ficar ?quanto puder, para provar que posso fazer a empresa honrar sua promessa?.
Nos próximos trimestres, ela provará se é a profissional
de talento que mostrava ser no começo de sua gestão ou se foi
outra executiva de sorte favorecida pelos bons tempos da economia."
"Valor corta 19 na redação", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 12/7/02
"As demissões no Valor Econômico somam 26 funcionários, 19 deles jornalistas. A informação é de Luiz Augusto Rossini, diretor de Recursos Humanos do jornal. ?Os cortes não têm nada a ver com a competência das pessoas?, garante. Apesar de não revelar nomes, Rossini afirma que foram demitidos subeditores, repórteres, fotógrafos e diagramadores.
Em entrevista ao MMonline, Flávio Pestana, diretor-presidente da empresa, afirmou que os cortes são de 20% dos custos, o que não inclui somente folha de pagamento.
?Estamos oferecendo um pacote de benefícios aos ex-funcionários?, diz Rossini. Os jornalistas, se quiserem, continuarão a ter planos médico e odontológico. Ele afirmou também que, caso a empresa se reaqueça, as portas estarão abertas para quem quiser voltar.
Fonte afirma que os cortes se devem à reestruturação que o jornal se obrigou a passar após os sócios O Globo e Folha de S. Paulo terem anunciado que não iriam fazer novo aporte de capital. A partir de agora, o Valor deverá sustentar-se com sua própria receita.
A área de planejamento e novos negócios, que era dirigida por
Leonardo Teshima, foi extinta. Nesta quinta, o diretor Flávio Pestana
reuniu-se com editores do jornal para explicar a situação."
"Valor reduz despesas em 20%, com corte de 50 pessoas", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 12/7/02
"Após uma reunião entre diretores e editores, realizada na noite desta quinta-feira, o jornal Valor Econômico teceu sua lista de demissões e mandou para a rua, nesta sexta, 50 de seus 300 funcionários. Os dispensados são de todas as áreas da empresa, segundo informa seu diretor-presidente, Flávio Pestana, e integram o plano de reduzir em 20% as despesas gerais da companhia, negócio conjunto da Infoglobo e do Grupo Folha de S.Paulo.
?Estamos nos adequando à realidade?, diz Pestana. ?As receitas publicitárias entraram em forte declínio em maio, o que se intensificou em junho, e o país está iniciando uma recessão braba, que vai durar até o fim do ano que vem.? Além de cortar gente, o jornal também reduzirá gastos com fotos, viagens, refeições e contratos com fornecedores. ?Quem tiver juízo vai se ajustar à dura realidade que está aí, porque essa retração da publicidade veio para ficar.?
De acordo com Pestana, as receitas publicitárias do Valor devem ser 30% maiores este ano às de 2001. Mas, ainda assim, afirma o executivo, o número é menor do que o traçado inicialmente no plano de negócios do diário econômico para 2002. O que obrigou a empresa a cortar custos, para ajustar-se às mudanças impostas pelo mercado. ?O Valor é um jornal em fase de consolidação, porque só tem dois anos e meio de vida?, pondera o diretor-executivo. ?Portanto, é normal que sua receita publicitária cresça mais que a dos concorrentes.?
Pestana descarta associar os ajustes no jornal à reestruturação das Organizações Globo. ?Estamos reajustando não por causa da Globo, mas pelos mesmos motivos que ela?, diz. ?A Globo também sofreu uma queda acentuada em sua receita publicitária.? O executivo vai ainda além: para ele, todas as empresas de mídia estão enfrentando o mesmo processo e, por isso, todas precisarão reajustar suas operações este ano. ?Todos vão precisar enxugar?, afirma. ?Este segundo semestre vai ser uma porcaria.?"