MÍDIA EM CRISE
"Mercado encolhe e empresas sinalizam com demissões", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/10/01
"A temporada de alta demanda e salários milionários na área editorial – com as raras e honrosas exceções – está definitivamente encerrada, sem perspectiva de recuperação, ao menos a curto e médio prazo. Indo no popular, a maré não está para peixes.
Estamos no limiar de algumas dezenas (ou até centenas de demissões) no eixo Rio-São Paulo, com óbvios reflexos em outros pontos do País. É um panorama que atinge em cheio a mídia impressa, já que rádio (sempre muito enxuto) e tevê não dão ainda sinais de encolhimento no que diz respeito ao jornalismo.
Os sinais mais visíveis têm sido dado pela imprensa paulista e carioca. O Jornal do Brasil, por exemplo, mudou radicalmente de política – trocando inclusive o comando editorial – e decidiu pôr um fim aos prejuízos, cortando salários altos, fechando sucursais e – mais recente – propondo terceirização para quem ganha mais de R$ 4 mil por mês.
O Estadão (ver matéria específica) também sacudiu o mercado com a surpreendente decisão de cortar 10% da folha de pagamento da redação, medida ainda mais drástica em relação aos demais setores da empresa, que terão de fazer um ajuste da ordem de 20%. Editorias como as de Economia e Esporte, por exemplo, com folhas da ordem de R$ 150 mil e R$ 80 mil, sacrificarão vagas no montante de, respectivamente, R$ 15 mil e R$ 8 mil.
Neste rápido passeio, ao aportarmos na Editora Abril, vamos encontrar Roberto Civita declarando, alto e bom som, que a empresa terá de fazer também o seu ajuste e na reestruturação projetada não haverá lugar para revistas deficitárias ou pouco lucrativas. Alguns títulos vão desaparecer, junto com os quais outras dezenas de empregos. Aliás, conforme revelou um ex-editor de uma das novas publicações da empresa, o banho de sangue só não ocorreu ainda porque Civita segurou. A vontade do ex-presidente executivo Ophir Toledo, substituído recentemente por Maurízio Mauro, era fechar esses títulos, inclusive alguns novos que não haviam atingido as metas planejadas. Menos mal, pois mesmo a lógica capitalista exige visão e investimento e é só lembrarmos do caso da própria Veja, que durante anos sangrou as finanças da Abril e é hoje carro chefe, esbanjando saúde.
Na Editora Três, todos os diretores de Redação e editores lutam com unhas e dentes para segurar o quadro de pessoal, não só por bom samaritanismo, mas para assegurar qualidade às publicações, todas elas sempre muito fustigadas, em termos competitivos, pelas concorrentes. É uma das empresas editoriais mais enxutas, emprega cerca de 200 jornalistas, mas quem perde alguém sua frio, nas discussões com Domingo Alzugaray, para manter a vaga e obter a substituição.
Isso tudo, sem falar na Gazeta Mercantil, terceiro maior empregador de jornalistas do País (salvo engano), atrás apenas da Globo e da Abril, com cerca de 600 profissionais, distribuídos pelo jornal (matriz, edições regionais e sucursais), tevê, InvestNews, Panorama Setorial, Relatórios, Latino-Americana etc. A greve deflagrada no último dia 15/10, com adesão de 170 dos 264 jornalistas de São Paulo, está ainda longe de uma solução definitiva e ninguém arrisca qualquer palpite sobre o que virá depois dela. Quaisquer que sejam as análises, vindas de dentro ou de fora da empresa, não há a menor esperança de que a solução – independente de qual seja – preserve a totalidade dos empregos na empresa, cuja folha de pagamento é estimada em R$ 6 milhões/mês.
O único empreendimento aparentemente na contramão do mercado é a versão impressa do Panorama Brasil, projeto da lavra do ex-governador Orestes Quércia, em fase de definições. Capitalizado (o Diário Popular foi vendido às Organizações Globo em quatro parcelas dolarizadas, o que permitiu um ganho extraordinário com a valorização da moeda norte-americana), Quércia tem recursos para investir e, dependendo dos acontecimentos, poderá beneficiar-se da generosa oferta de mão-de-obra para montar seu time.
A pressão chega num mau momento, sobretudo para os jornalistas de São Paulo, que têm dissídio coletivo agora em dezembro, colocando a categoria, de certo modo, na defensiva. Se em tempos de bonança negociações salariais nunca foram fáceis, num momento de mercado encolhido a situação é ainda menos confortável.
Nesse quadro complicado, salva-se o segmento de assessorias de Comunicação, que continua mantendo crescimento e será, certamente, um bom celeiro de oportunidades para os que estiverem deixando as redações."
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"Estadão demite às vésperas do díssidio", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/10/01
"Nesta 5?.feira (25/10) sai a lista com o nome dos demitidos do Estadão. A direção do jornal decidiu promover um novo ajuste, dessa vez sacrificando 10% da folha de pagamento, percentual que deve representar perto de 30 vagas. Demitir às vésperas de dissídio coletivo não chega a ser novidade, sobretudo na área de jornalismo, já que várias empresas adotam esse expediente para (1) intimidar a redação e (2) compensar com os cortes a eventual elevação da folha de pagamento, por conta dos reajustes aprovados.
O que espanta, no caso do Estadão, é a magnitude do corte, aparentemente sem justificativa em comprovada queda de receita e muito maior do que se fosse apenas para compensar o dissídio. Espanta, ainda, o jornal fazer num mesmo ano dois ajustes, com corte de pessoal, agora sacrificando nitidamente carne, pois a gordura, como costumam dizer na Eng. Caetano Alvares (avenida onde fica a sede da empresa), foi embora há muito tempo. Sabe-se que o cenário da economia (e por extensão o da publicidade) para os três primeiros meses do ano é uma incógnita e talvez resida aí pelo menos uma das explicações para o corte. Nos últimos dias, editores passaram parte do tempo tentando encontrar caminhos para fazer suas listas e argumentos para diminuir o estrago. Alguns até pensaram numa espécie de PDV (Plano de Demissão Voluntária) informal, mas desistiram, pois a propensão de alguém se oferecer para ser demitido, no quadro é atual, é praticamente nula.
Outra coisa que assusta é o fato de ser o Estadão sempre o primeiro a puxar a fila, no caso de cortes, contagiando outras empresas a fazer o mesmo. Cabe, portanto, aos profissionais ficar de olhos abertos e atentos para evitar que esse venha a ser um movimento com efeito dominó.
Inicialmente, a direção da empresa havia determinado um corte linear de 20% em seus custos. Foram dias de tensas negociações, até que o comando da redação conseguiu, em relação aos jornalistas, cortar o corte pela metade, passando para ?apenas? 10% da folha. Com a espada sobre os respectivos pescoços – sem saber se ficam ou se saem (e não há um só jornalista seguro), difícil mesmo foi enfrentar a ansiedade e garantir qualidade no fechamento do jornal."
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"Revistas: depois de dezembro…", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/10/01
"Quem acompanha mais de perto o mercado de revistas sabe que, a não ser por alguma catástrofe ou por algum acontecimento inusitado, o último trimestre do ano é o mais rentável, aquele em que muitas vezes a empresa tira seus principais dividendos para distribuir para acionistas e diretores, de onde saem os bônus etc. Mas sabe também que os três primeiros meses do ano seguinte são um tormento para aqueles que têm a responsabilidade de ir ao mercado buscar publicidade. Tivemos dois anos atípicos (1999 e 2000), alavancados pela virada do milênio e pelo fenômeno internet, ambos já findos. E não há nada de novo (ao contrário) que anime o mercado ou faça os homens de vendas sonhar com boas perspectivas.
O diretor de redação de uma importante semanal, comentando o assunto, não faz rodeio: ninguém fecha revista em novembro e dezembro; o começo do ano é a época mais propícia para isso. Com Civita (Abril e Símbolo) falando em fechar t&iiacute;tulos, o mercado fica, obviamente, com a pulga atrás da orelha. Não há, aparentemente, leitores e anunciantes em profusão num momento de crise para sustentar tantas publicações. No caso da Abril, aliás, até uma tiragem razoável (80/100 mil exemplares) não é suficiente para dar à empresa a rentabilidade exigida.
Fora Abril, são poucas as editoras com títulos importantes e volumes significativos de negócios.
A Editora Globo, por exemplo, após o fracasso de Única (que fechou com seis meses de vida), aposta suas fichas em Época (que quer disputar a liderança com Veja) e vê Quem consolidar-se no mercado de celebridades.
A Símbolo (agora Abril), sofreu muito e sofrerá ainda mais, pois agora suas publicações são sempre confrontadas com o padrão Abril de rentabilidade, e estão longe dos patamares exigidos, razão que levou a empresa a um forte ajuste, incluindo o fechamento de vários títulos, meses atrás.
A Três tem o desafio de manter oxigênio para suas três semanais (istoÉ, Dinheiro e Gente), tendo no cangote Globo e Abril dispostas a roubar estratégicas fatias do mercado. Tem, além disso, vários títulos mensais, os quais, no entanto, são super enxutos, sem riscos muito evidentes de fechamento.
A Camelot, após um início titubeante, vai se firmando, mas não tem ainda no porfólio um grande sucesso de mercado, embora com a chegada da Forbes a empresa tenha obtido um up-grade em termos de prestígio e posionamento. Tem vários títulos e é muito fustigada por rumores que partem sobretudo da concorrência a respeito do seu desempenho. Como os controladores não são do ramo editorial, vêem a empresa como negócio e a tratam como tal: tem de dar lucro para, no futuro, poder atrair interessados em assumir o seu controle por valores que remunerem as dezenas de milhões dólares nela investidos, desde o tempo de Antonio Machado de Barros, que inventou e formatou o negócio. Como a empresa adquiriu muitos títulos (nem todos muito lucrativos), fica sempre uma interrogação sobre o que poderá acontecer com ela no início do próximo ano.
Que alguns títulos vão desaparecer em 2002, isso parece líquido e certo. Resta avaliar em que quantidade e velocidade isso vai ocorrer. Se derem lugar a novas iniciativas (o que não parece provável, no curto prazo) melhor."
"Fria", copyright Folha de S. Paulo, 24/10/01
"Nelson Tanure, do ?Jornal do Brasil?, visitou Paulo Cabral, presidente dos ?Diários Associados?, na semana passada, em Brasília. Com a opção de comprar os 19% dos ?Diários? que são de Gilberto Chateaubriand, Tanure fez oferta de uma parceria ainda maior a Cabral.
Levou uma ducha de água fria. Cabral disse ao empresário que, se ele ficar com a parte de Gilberto, os ?Diários? vão fazer na mesma hora oferta para comprá-la de volta -eles querem Tanure fora do negócio."