Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Eduardo Ribeiro

MÍDIA EM CRISE / BALANÇO

"Um ano de ajustes e demissões", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 20/12/2002

"Num ano marcado por demissões generalizadas, ajustes duríssimos e muito pessimismo no mercado editorial, chegar ao fim é um alívio. Para muita gente, 2002 não vai deixar saudades.

Chega a ser um alento ver um projeto como esse Comunique-se consolidar-se, apostando no mercado e nos profissionais, a despeito do cenário existente; investindo, buscando levar sua contribuição para dias melhores e acreditando efetivamente neles.

Estamos chegando ao fim de um ano em que predominaram as más notícias, embora tivéssemos também algumas boas novas. Poucas mas boas. Uma delas foi o surgimento da allTV, primeira emissora 24 horas ao vivo na internet e a primeira a adotar com vigor o conceito de convergência das mídias, com interatividade, múltiplos canais e uma linguagem toda própria. Por coincidência, lá também está presente este Comunique-se com um programa semanal, aos sábados (das 17 às 19h), falando de jornalismo, de jornalistas e de comunicação.

Vimos também o renascimento do DCI, o Diário do Comércio e Indústria, pelas mãos de Orestes Quércia, em São Paulo, numa operação de compra de marca cheia de segredos, mas que está caminhando com razoável êxito, mediante o aproveitamento da equipe contratada originalmente para o virtual Panorama Brasil – que continua a existir, mas agora como apêndice do DCI.

A maior editora de revistas da América Latina, a Editora Abril, também se fez presente com o lançamento da Estilo de Vida, versão brasileira da In Style americana, sob a batuta de Dulce Pikersgill.

Assistimos também à reversão do fechamento da Forbes Brasil, relançada pelas mãos de Nélson Tanure, em dobradinha com o Jornal do Brasil.

Foram iniciativas importantes, mas que pouco acrescentaram em termos de mercado de trabalho. A iniciativa isolada mais vigorosa nesse sentido, por incrível que pareça, foi gerada na área corporativa, através da agência Lide, que abriu de uma única vez 31 vagas para atender um contrato de abrangência nacional que fechou com a Transpetro, empresa do grupo Petrobras.

Já no plano das demissões e dos ajustes…

Jornalistas&Cia acompanhou de perto a crise nas redações e registrou, ao longo do ano, mais de 300 demissões. Se já vínhamos num descompasso de mercado (2001 registrou também centenas de demissões e foi o ano em que explodiu a crise da Gazeta Mercantil), isso se acentuou em 2002.

O roteiro das demissões foi puxado pelo Jornal do Brasil, com a dispensa, logo no início do ano, de 40 colegas na redação, corte que seria repetido em outubro, provocando a saída de outros 20 colegas. A seguir, ainda em janeiro, a Folha demitiu 20 colegas e descontinuou os cadernos AgroFolha e FolhaInvest, incorporados-os ao Caderno Dinheiro – não foi o único corte por lá: em novembro a empresa demitiu outros 14 profissionais. Sucederam-se: Rede STV, mantida pelo Sesc/Senac, com um corte de 14 dos 25 profissionais da redação; Editora Abril, com um corte de 60 pessoas; Editora Globo, com a dispensa de 72 funcionários (61 jornalistas) em duas etapas (abril e julho); Diário de S. Paulo (22 colegas de um total de 83 dispensas); Valor Econômico (29 jornalistas das 50 demissões concretizadas), Diário do Grande ABC (10), Estadão (6) e DCI (7).

O ano foi marcado por reestruturações em inúmeras empresas, caso do Jornal do Brasil, da Editora Globo, da própria Gazeta Mercantil e da Editora Abril. O desenho organizacional e operacional dessas empresas passou por significativas mudanças e por um enxugamento drástico. A Abril, especificamente, reagrupou suas unidades de negócios e mexeu de forma vigorosa no seu staff, inclusive editorial, com saídas e remanejamentos que surpreenderam o mercado. Além disso, descontinuou títulos como Ponto Cruz e Faça e Venda, além de ter transformado Placar num núcleo de publicações especiais, descontinuando a revista. A Editora Globo trocou cúpula, fundiu operações editoriais, remanejou equipes e espaços e mesmo com tudo isso pouco agregou em termos de mercado. Passou a ter uma equipe atuando no limite da capacidade física, desestimulada, com um evidente sacrifício da qualidade editorial de seus produtos. A Gazeta Mercantil vai se acomodando aos acontecimentos, inteiramente descapitalizada e endividada. Passou um ano administrando uma crise, que está quase igual a quando começou, ao menos se adotarmos como parâmetro o atraso nos pagamentos de salários e de fornecedores. Teve ainda a briga entre Luiz Fernando Levy e Sérgio Thompson-Flores, e agora, em novo capítulo, a de Levy x Nélson Tanure. Ninguém sabe ao certo o desfecho do caso, mas a vida lá não tem sido fácil e a Gazeta é ainda uma das maiores empregadoras do mercado, a despeito das centenas de demissões já realizadas.

Jornalistas&Cia teve a oportunidade de também acompanhar o nascimento de duas importantes associações. No primeiro semestre foi oficializado o nascimento da Associação Brasileira das Agências de Comunicação, a Abracom, coroando de êxito uma idéia nascida em 2001. E há algumas semanas, pudemos acompanhar também os primeiros passos da construção da Associação dos Jornalistas Investigativos, que deve se firmar mesmo no próximo ano.

Muitas perdas também marcaram este ano. A de maior impacto foi sem dúvida a de Tim Lopes, brutalmente assassinado pelo crime organizado quando cobria uma matéria sobre tráfico de drogas em um baile funk, no Rio. 2002 registrou também a morte de jornalistas famosos como Herbert Levy (15/1), Ferreira Netto (4/8), Antonio Del Fiol (7/7) e Miguel Dias (16/10), e de outros não tão famosos: José Albuquerque de Carvalho, Octávio Bonfim, Hélio Thys, Wilton de Souza, Carmem Kozak, Luiz Antônio Mota Brito, Licínio Rios Neto, Roberto Barreiros, Celso Marinho, Christiano Nunes, Magno Dadonas, Marli Prado, Hélio Damante.

Tempos bicudos não são eternos. E podem ser abreviados pela ação e comportamento dos atores sociais.

Porém mais do que esperar novo tempo, teremos de construí-lo."

 

GZM EM CRISE

"Clima tenso na redação da Gazeta Mercantil", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 19/12/2002

"O não cumprimento do cronograma de salários atrasados, apresentado pela direção da Gazeta Mercantil, está sendo motivo de confusão na redação. Fontes contam que, além de não pagarem os salários do dia 05/11 e de 20/11 para as faixas mais altas, o presidente da GZM, Luiz Fernando Levy, não quis conversar com a redação, que decidiu nesta quarta-feira (18/12), em assembléia, que o executivo deveria falar com todos os jornalistas. A redação foi dividida porque a comissão que representa os jornalistas decidiu subir, na tarde desta quinta (19/12), para falar com Levy, mesmo sem a aprovação dos colegas. ?Foi um desrespeito da comissão, que alega que não podemos fechar o canal de comunicação com Levy. Ou ele fala com todos ou não fala com ninguém?.

?A confusão está armada. Tem editor e repórter brigando?, disse uma das fontes. A briga estaria sendo motivada por qualquer diferença de opinião. Enquanto alguns querem fazer greve outros preferem conversar e aguardar uma negociação com a diretoria.

?Eles ainda deram panetone para todos os funcionários e um kit Perdigão de Natal. O pior é que o kit tem que ser consumido até no máximo 48 horas. Nós não queremos isso e sim salários?, queixou-se outra fonte.

A primeira parcela do 13? salário, que ficou de ser paga nesta quarta, também não foi depositada. As fontes também dão conta de que o cronograma não vem sendo cumprido em todas as praças de forma igual. ?A Gazeta está tendo um triste fim?, lamentou uma repórter.

Numa reunião com a redação, os jornalistas apresentaram as justificativas e explicações de Levy. Fontes dizem que o presidente da GZM garantiu que parte do salário de 05/11 foi depositada nesta quinta e deverá estar disponível na conta dos funcionários nesta sexta (20/12). ?Ele disse também que está fazendo um esforço sobrenatural para pagar os atrasados e que as negociações com futuros investidores ainda estão em curso?.

As matérias da edição da Gazeta Mercantil desta quinta não trazem assinaturas em sinal de protesto contra o atraso dos salários. A redação decidiu também não assinar a edição desta sexta.

Levy avisou, através de sua secretária, que não comenta assuntos internos da empresa."