Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Eduardo Ribeiro

MÍDIA EM CRISE

“Condições para retomada existem”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/06/03

“Num exercício de tentar enxergar o que vem pela frente, no nosso combalido mercado editorial, arrisco dizer que teremos um segundo semestre de recuperação, com movimentos de contratação. Nada assombroso, mas de todo o modo consistente. O pior, por tudo aquilo que podemos analisar, já passou, pois todos os veículos que ensaiavam ajustes já o fizeram e qualquer outro que venha a fazer algo nessa direção será efetivamente uma surpresa. Já se cortou toda a gordura e um bom naco da carne e estão todos os veículos no sufoco, com equipes menores e prontinhos para receber reforços. Na primeira brisa de recuperação, poucos são os veículos que terão capacidade de absorver esse crescimento sem contratações. Elas virão primeiro em forma de frilas, depois de frilas fixos e finalmente com carteira assinada. E tudo isso ainda esse ano.

Já vemos, por exemplo, o governo Lula pronto para ?afrouxar? um pouco o nó da economia e se isso acontecer, mais do que os percentuais a menos na taxa de juros, o que haverá é uma sinalização de que já se pode voltar a pensar em crescer, em investir e, por que não, em anunciar.

Não se imagina que tudo será como antes, porque efetivamente não será. Há em curso uma intrigante mudança de paradigma no campo editorial, que passa pelas novas políticas de comunicação do mundo empresarial (canalizando investimentos para outras formas de comunicação direta com seus vários públicos), pelo fim do subsídio da publicidade aos leitores (ou seja, os veículos terão de buscar formas complementares de receitas e já o estão fazendo), pela concorrência de outros meios de comunicação (Internet) e pelo próprio desinteresse dos leitores (seja pelo achatamento do poder aquisitivo, seja pela concorrência da televisão e mesmo da web etc.).

Claro que um dos fatores dessa queda de interesse é a própria qualidade da imprensa brasileira, que para garantir a sobrevivência fez concessões em relação à qualidade dos produtos e sacrifícios exagerados no campo profissional. Os jornais e revistas pasteurizaram-se e perderam os diferenciais e, em conseqüência, o interesse de um número significativo de leitores. Praticamente todos os jornais enfrentam uma curva descendente de leitores há muito tempo. E precisam reverter urgentemente essa curva e essa tendência.

Essas premissas mostram que se efetivamente o mercado reagir favoravelmente, como tudo faz crer que acontecerá, como veremos adiante, será fundamental investir em equipe, em reportagem, em talentos, para recuperar parte do terreno perdido. E se para os veículos isso significará receitas, fortalecimento, para nós significará a retomada das contratações, a recuperação de parte das vagas perdidas.

Há vários fatores concretos que permitem uma análise otimista para este segundo semestre. Vamos a eles:

1 – Se a economia reagir – e deverá reagir nas próximas semanas – as empresas vão novamente investir, inclusive em propaganda, tanto em campanhas de varejo, quanto em anúncios institucionais;

2 – As empresas editoriais já começam a pensar em negócios mais ambiciosos. Jornalistas&Cia descobriu, por exemplo, que nas próximas horas um dos títulos mais cobiçados do segmento feminino popular vai mudar de mãos, numa clara demonstração de que a confiança em dias melhores está voltando. Não são empresas de fundo de quintal e o negócio já está fechado;

3 – As semanais Istoé e Época há anos estão prontas para lançar suas edições regionais para o mercado paulista, a exemplo da Veja São Paulo. As edições sazonais têm saído, mas o objetivo é torná-las semanais. Basta uma pequena melhora no cenário para ambas oficializarem os novos filhotes – e se isso ocorrer vamos ter contratações;

4 – Orestes Quércia, dono do DCI/Panorama Brasil, arrematou também o título Shopping News, que fez muito sucesso em São Paulo nos anos 60 e 70, ao ser distribuído gratuitamente pelos bairros nobres da cidade, todos os domingos. O projeto de relançamento está pronto e só falta o de acordo de Quércia para ganhar o mercado. Será necessária uma redação inteira para o jornal, embora não se deva pensar nos números de antigamente. Ele tem prazo para relançar o título, se não perde o direito de explorá-lo – e o prazo se expira em alguns meses;

5 – A Gazeta Mercantil aguarda a definição da chegada do novo acionista, o que está previsto ainda para este mês de junho. Se não houver acordo, o jornal volta a ficar numa situação difícil e indefinida, quanto ao futuro, mas se o acordo for assinado – e tem tudo para ser – voltará a ter condições de investir. Como está muito desfalcado, é de se esperar a reposição de ao menos algumas contratações. A Gazeta é ainda uma das maiores redações do País e o que com ela acontece – de bom ou ruim – tem desdobramentos em todo o mercado;

6 – Novos empreendimentos editoriais estão chegando ao mercado, caso da Editora Manchete, de Marcos Dvoskin, que já se prepara para relançar vitoriosos títulos da ex-Bloch, como Pais & Filhos, Ele e Ela, Manchete, Fatos & Fotos, entre outros. Temos também o caso de Ricardo Galuppo, com a sua Editora Casa do Ramo, que promete pelo menos cinco novos títulos até o final de 2003 – a empresa de Galuppo é pequena mas ele é do ramo e revisteiro de primeira. Outro caso é o da Editora 4Capas, de Mariella Lazaretti e Ricardo Castilho, que foi fundada para atuar no segmento de publicações customizadas, mas que acaba de lançar seu primeiro título comercial, a revista Sua boa mesa. São iniciativas que já começam a proporcionar um número razoável de contratações (ainda sob o regime de free lancer ou de parceria, no caso de cargos mais graduados);

7 – A própria Folha de S. Paulo, mesmo com pequenos ajustes ainda em andamento, já começa a autorizar contratações (por enquanto temporárias) para alguns de seus núcleos. Isso está ocorrendo especificamente na Folha Online. Não podemos esquecer que a Folha é líder e que essa liderança também impacta o mercado – tanto para o mal, quanto para o bem;

8 – O segmento de publicações customizadas continua forte. Nos últimos meses não apresentou crescimento significativo, mas também não recuou. Como é um setor novo e que vem fazendo os olhos das empresas crescerem, por conta de seus resultados, é muito provável que outras empresas o considerem para efeitos de novos investimentos em comunicação. É uma atividade que utiliza intensivamente o trabalho free-lancer, alternativa que não podemos descartar como importante para o mercado.

9 – Na Internet o quadro é ainda complicado. Temos vários portais que continuam a amargar prejuízos, cortando o que podem, mas, em compensação, não tivemos notícias de demissões em massa nas principais empresas do setor, ao menos no que diz respeito à área de conteúdo (isso em 2003). Ao contrário, a AOL, por exemplo, prepara-se para investir pesado em conteúdo, pois decidiu abrir o site e quer oferecer informações de qualidade para poder concorrer em igualdade de condições com UOL, Terra e iG;

10 – Veículos do governo, sobretudo Governo Federal, estão investindo muito em conteúdo, caso, por exemplo, da Radiobrás, sob a gestão de Eugênio Bucci, com muitas contratações e um projeto de transformar a empresa numa ilha de excelência em termos informativos – o que só se conseguirá se investir – como vem fazendo – em equipes e talentos humanos;

11 – A Editora Abril, uma das gigantes do mercado editorial, após encolher-se até mesmo para o tradicional evento de entrega do Prêmio Abril, em 2002, voltou a fazer o evento, o que demonstra confiança em dias melhores, além de ter mexido positivamente com o astral de todos. A mesma Abril lançou há pouco tempo a revista Estilo, e reestruturou integralmente sua atuação na Internet, de olho em novas oportunidades;

Isoladamente, cada um desses fatores têm pouco significado, mas no conjunto mostram um cenário nitidamente de recuperação. Não dá com toda a certeza para soltar foguetes e sair por aí comemorando. Mas dá para ter esperança e para ficar um pouco mais animado.”

“Empresa de MT pede falência do jornal Folha do Estado”, copyright Revista Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 23/06/03

“A empresa JEC. Comércio de Produtos Gráficos Ltda. pediu a falência do jornal Folha do Estado, de Cuiabá (MT). O jornal, que pertencia ao empresário assassinado Sávio Brandão, tem uma dívida de mais de R$ 4 milhões. Atualmente, a empresa é comandada pela viúva Isabela Corrêa da Costa Brandão Lima.

De acordo com o pedido de falência protocolado na Comarca de Cuiabá, a SB Gráfica e Editora Ltda deve R$ 86 mil para a empresa.

O advogado Mauri Guimarães de Jesus alegou, na ação de falência, que tentou todos os meios amigáveis para a solução do problema. Não obteve sucesso. Segundo ele, a Folha do Estado não tem ?condições de continuar no comércio?.

O artigo 1? da Lei de Falência foi um dos dispositivos citados para embasar o pedido. De acordo com o artigo, ?considera-se falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitime a ação executiva?. Até às 11h40 (horário de São Paulo) desta segunda-feira (23/6), o jornal ainda não havia sido citado.

Processo n? 58/03″