COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
“Comunicação corporativa continua vigorosa”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/09/03
“Não é nenhuma Brastemp, mas o mercado no segmento da Comunicação Corporativa, o que inclui as agências de comunicação, continua ativo e gerando oportunidades.
Temos, por exemplo, o caso da novata Press? Express? Comunicação Integrada, do experimentado Roberto Custódio, que além de contas novas fechou parceria com Theo de Souza, colega com que já havia trabalhado nos tempos em que ambos eram funcionários da Rhodia, anos atrás, e que também esteve na Abiquim e Abimaq, entre outras organizações. Custódio deixou a Rhodia num processo de terceirização e hoje a atende como agência, isso já há mais de um ano. Como agência de um cliente só não é bem agência e corre muitos riscos, ele tratou de prospectar novos clientes e assim chegaram a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ) e a Solving Internacional, uma das maiores consultorias de gestão estratégica em operação no País, empresa para a qual presta serviços de comunicação com foco específico no setor químico na América do Sul. Com Theo, que coordenará o núcleo de contas de Transportes, Distribuição, Logística e Qualidade, ele quer ir além, engordando a carteira de clientes e o portfólio. São profissionais sérios e competentes, com tudo para crescer e se impor nesse competitivo mercado. Ambos atendem pelos telefones (55 11) 3733-0690 e (55 11) 3735 7844 ou no endereço eletrônico pexpress@pexpress.com.br.
Quem também está apostando bastante em crescimento é o colega Pedro Cadina, dono da Via News, que acaba de anunciar a abertura das divisões Editorial e de Marketing, ambas já com clientes, e a chegada de dois novos diretores associados. Um desses associados é o colega Carlos Ossamu, que foi por bom tempo do Jornal da Tarde, e que, na Via News, cuidará da Divisão de Serviços Editoriais, tendo como primeiro cliente a revista Cyclades News, publicação de relacionamento da Cyclades Brasil, empresa de conectividade Linux. Ossamu será responsável também pela edição de outras publicações desenvolvidas pela Via News, como o Epson News e o Atualis, house organ da empresa Edinfor (Grupo EDP). Para comandar a Divisão Serviços de Marketing Cadina se associou à especialista em marketing Cristiane Borato, que chega levando consigo a conta da Martin Yale, fabricante norte-americana de fragmentadores e artigos para escritório que está chegando ao País. Cristiane, cursando pós-graduação em Gestão de Comunicação na USP, vai desenvolver na agência projetos de comunicação interna, marketing e eventos. Sua carreira profissional foi desenvolvida em empresas como Semp Toshiba, Souza Moron Promoções, TCE e Microtec.
No que diz respeito à comunicação corporativa empresarial, o mercado anda bem mais parado do que nos anos anteriores, mas não está morto. Exemplo disso é o JPMorgan, instituição de prestígio que decidiu investir no segmento, contratando para o comando da área a experiente Neuza Sanches, colega que dirigiu por alguns meses a comunicação da Tetra Pak, e que esteve por 18 anos na grande imprensa, atuando em várias empresas e veículos, como Veja e tevê Bandeirantes, entre outras. Neuza comandará tanto a área corporativa quanto de marketing, além de supervisionar também as ações no campo de responsabilidade social.
Temos também novidades no Rio, onde a colega Leila Magalhães abriu a Invest Comunicações (21-2487-4950; lmagal@rio.com.br), já tendo como cliente a Prefeitura de Volta Redonda. A nova agência conta ainda com um núcleo de pesquisa, e está fazendo o mapeamento de imagem para duas pessoas com exposição diante da opinião pública. Esse tipo de enquete mede a percepção da imprensa sobre determinado assunto, e o porquê desta percepção.
Esses são, claro, apenas alguns exemplos (bem atuais), pinçados entre vários que movimentam esse promissor mercado, que dão uma amostragem interessante de seu estágio.
Em termos de agências, os negócios continuam fluindo, o mercado continua em expansão e a competitividade aumenta significativamente. E isso tem o lado positivo de obrigar as empresas e profissionais a se prepararem cada vez mais, e o negativo, que acaba fazendo com que a remuneração caia.
São essas, afinal, as leis do mercado.”
“Temor e perplexidade nas assessorias”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/09/03
“O XIS DA QUESTÃO – A aplicação de multas a jornalistas de assessoria de imprensa, pelos Conselhos de Relações Públicas, apóia-se em leis que ficaram velhas, superadas pelos reajustamentos de idéias e forças, próprios das democracias. Em especial na área da comunicação, o perfil dos mercados profissionais não é delineado por leis, mas por mecanismos e circunstâncias culturais.
1. A arma da multa
Luiz Carlos de Oliveira, jornalista profissional (Mtb 1.2190), filiado ao Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, atua no mercado de assessoria de imprensa e comunicação institucional por meio da Ralcoh Assessoria & Estratégia de Comunicação Ltda, empresa da qual há 18 anos é sócio. Ele entrou e cresceu profissionalmente no mercado de assessoria de imprensa convicto de que aí estava uma área propícia e aberta à sua formação acadêmica, evidência manifestada no perfil cultural e profissional do próprio mercado, ocupado, preponderantemente, por jornalistas.
Faz pouco tempo, Luiz Carlos apanhou um susto, que o revoltou: sua empresa foi multada em R$ 2.000,00 pelo Conrerp-SP, o Conselho Regional de Relações Públicas do Estado de São Paulo.
Multado por quê?
Porque, no entendimento das entidades de RP, a Ralcoh se dedica a atividades e funções consideradas exclusivas de profissionais de relações públicas. Luiz Carlos, que também é professor de redação nos cursos de Propaganda, Marketing, Criação e Design, na Faculdade de Comunicação Mackenzie, sentiu-se ameaçado pelo risco de perder o direito de trabalhar naquilo de que entende: as artes e técnicas da comunicação, na área institucional.
Em jeito de síntese, o caso de Luiz Carlos de Oliveira expressa a situação de perplexidade e temor que, há alguns meses, envolve jornalistas do setor de assessorias de imprensa ou de comunicação, principalmente os donos de pequenas agências ou os que, de alguma forma, atuam individualmente no mercado, como prestadores de serviços. Além da Ralcoh, várias outras empresas do ramo estão sendo multadas, ou ameaçadas disso, por todo o Brasil, pelos respectivos Conselhos Regionais de RP.
A multa aplicada a Luiz Carlos, se vier a ser paga, pode até ser considerada ?pena? leve. Exemplo: à Weber Brasil, do jornalista João Vieira (também de São Paulo), o Conrerp-SP aplicou o ?castigo? de R$ 4.950,00. Em outros casos, as ?penas? podem chegar a sete mil reais, como aconteceu com a empresa do jornalista Paulo Piratininga.
E qual o ?crime? cometido? Este: invasão à reserva de mercado dos profissionais de relações públicas.
2. O poder da Lei
Por que tudo isso?
Porque os Conselhos Regionais de RP, no exercício do poder fiscalizador a eles delegado pelo Conselho Federal de RP (Conrerp), estão aplicando a Resolução Normativa no 43, de 24 de agosto de 2002. Essa Resolução ?define as funções e atividades privativas dos profissionais de Relações Públicas?, especificando limites e detalhes da reserva de mercado criada, de forma genérica, primeiro pela lei que regulamentou a profissão, em 1967, e depois, pelo Decreto-Lei 860, de 11 de setembro de 1969 – este, sim, o decisivo instrumento de poder que criou e deu atribuições de autarquia fiscalizadora ao Conselho Federal e, por extensão, aos Conselhos Estaduais de Relações Públicas.
?Está na lei, e a lei deve ser cumprida?, dizem os dirigentes das entidades de Relações Públicas, responsáveis pela aplicação das multas. Se levada ao pé da letra, a lei em causa (detalhada na tal Resolução 43) nada deixa que os jornalistas possam fazer. Até coisas como criar e produzir newsletters, boletins informativos, house-organs, jornais e revistas institucionais de alcance interno ou externo, informações para a imprensa e sugestões de pauta são ?funções privativas da atividade profissional de Relações Públicas?.
Ora, qualquer que seja a força da Lei, um exagero desses, no mínimo, tem de ser discutido. Se não por outra razão, ao menos por uma irrecusável verdade: no mundo em que as transformações culturais foram e são inexoravelmente aceleradas pela revolução tecnológica e pelos processos democráticos, as leis ficam velhas, superadas pelos contínuos reajustamentos de idéias e forças. Em especial na área da comunicação, valorizada nos modelos gerenciais pela energia informacional que as fantásticas tecnologias de difusão potencializam, o perfil dos mercados profissionais não é delineado por leis, mas por mecanismos e circunstâncias culturais.
3. Em busca do poder perdido
No Brasil, que reajustamentos os mecanismos e as circunstâncias culturais produziram nos mercados profissionais da Comunicação? Nos últimos vinte anos, pelo menos três mudanças importantes aconteceram:
a) Os profissionais de Relações Públicas, que, à luz da Lei, tudo podem controlar e fazer nas atividades de comunicação institucional, representam, na verdade, o menor segmento profissional da área. Nas duas últimas décadas, perderam força, competência e espaço, no mercado e nos modelos gerenciais. O próprio presidente do Conferp, Flávio Schmidt, reconhece isso. Conversei com ele e o ouvi dizer que os jornalistas ocupam 50% do mercado da comunicação institucional.
b) Pesquisa realizada e divulgada pela Aberje revela que, em cerca de 70% das empresas tabuladas, as diretorias de comunicação (com essa ou outra denominação) estão ocupadas por jornalistas. Aos profissionais de relações públicas cabe a fatia de 25%.
c) Como acontece em todos os campos do conhecimento, o avanço conceitual e prático da multi e da transdisciplinaridade, nas interações entre as áreas da Comunicação, torna retrógradas as tentativas de manter erguidas fronteiras, para a divisão de especializações profissionais – tanto na perspectiva do estudo quanto no das capacidades. Mais do que porosas e envelhecidas, as fronteiras desapareceram, engolidas pela complexidade interativa dos estudos, dos processos e das culturas profissionais. E não há lei que as reponha.
Talvez por essas razões, e para reconstituir o poder perdido, o que os Conselhos de RP querem não é propriamente multar, mas, com as multas, persuadir as empresas de assessoria de imprensa e de comunicação a se inscreverem no Conrerp. Eis aí a porta aberta para o acordo. Mas, em respeito à lei e ao interesse corporativo, exige-se que em cada uma das empresas aderentes atue, com algum vínculo contratual, pelo menos um profissional de relações públicas, devidamente registrado.
Feito isso, as assessorias poderão continuar a fazer o que fazem, qualquer que seja a especialização profissional dos seus componentes. E todos se salvam – inclusive a Lei.
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A Lei que dá ao Conrerp, pelos Conselhos Regionais de RP, o poder de espalhar multas por aí foi concebida e parida nos tempos e no ventre do regime militar – evocação que não pode deixar de ser feita.
Mas essa é uma história para ser contada mais adiante, na próxima semana. Por hoje, e para o debate, encerro com duas perguntas:
1) Na maturação democrática que felizmente vivemos no Brasil, que argumentos poderão ainda justificar o fato de, na vasta e complexa área da Comunicação, carregada de interdependências, apenas um dos segmentos profissionais, e logo o mais fraco, dispor de um Conselho regulador com tamanho poder?
2) Se, como me disseram dirigentes das entidades de RP, a disposição é a de dialogar e harmonizar, por que a chantagem da multa e a exigência de subalternidade a uma lei política, cultural e constitucionalmente superada?”
MERCADO DE TRABALHO
“Jornalistas no exílio”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/09/03
“Outro dia, um jornalista laureado, diretor de uma revista sobre celebridades, disse aconselhar os iniciantes a evitar o preconceito. Irônico, deixou entrever uma prevenção, um contra-ataque à suposta desaprovação de seu interlocutor. O fato é que este não o estava julgando, mas o outro se sentiu julgado. Uma conclusão razoável: o jornalista em questão parece – ao menos no plano do inconsciente- não se conformar com a atividade a que se tem dedicado.
Resistência há, de si mesmo e dos outros. Um amigo meu, jovem repórter de um diário paulistano, foi enfático ao palestrar para uma turma de estudantes de jornalismo: ?Assessoria de imprensa eu não faço?. Seguiu-se o mal-estar em sala de aula. Entre os alunos, havia dois ou três que trabalhavam nessa esfera. O repórter foi questionado e manteve o acento: ?Me desculpem, não é jornalismo?.
Será preconceito?- pergunto eu. A assessoria de imprensa, a meu ver, não é mesmo uma atividade jornalística. Sei que outros já discorreram sobre esse tema, como o meu companheiro Eduardo Ribeiro. Não irei além, portanto. Digo apenas que se trata de uma função extrajornalística professada por aqueles que entendem do ofício: os jornalistas. Não é preconceito; é conceito, referendado pelos ditames da profissão. Cumpre fazer com ética – e muitos o fazem. Ainda assim, concordo com o repórter: não é jornalismo. Só acho que ele exagerou: em tese – com a ressalva das implicações morais – nunca se deve dizer nunca.
Quem de nós não ousou sonhar com as revoluções sociais? À testa, o jornalista. Inflexível, heróico. ?Ousou sonhar…?, note o tempo verbal. A reserva acomoda-se sobre a observação dos nossos bancos acadêmicos: impressiona-me a quantidade de estudantes alienados (o termo é a um só tempo ultrapassado e atual). Parecem-me, muitos, condenados ao tecnicismo do ganha-pão (às vezes, porque assim o desejam, pois assim se satisfazem).
É aí que este artigo quer chegar: uma conjunção de fenômenos sócio-econômicos tem alijado o exercício da vocação que ainda nos resta. Pudesse escolher, a maioria dos jornalistas que conheço trocaria de emprego e de função. Milhares de colegas estão no exílio. Não, não realço a assessoria, exercida com convicção e virtude por um sem-número de profissionais.
Sublinho, isso sim, a ditadura do mau gosto, no meio impresso e na mídia eletrônica. O popularesco, filho maldito do dinheiro (para os patrões) e da sobrevivência (para os trabalhadores), emparedou a esperança. Não são poucos os colegas que se envergonham do seu trabalho, sobretudo no rádio, na televisão e em determinadas revistas e páginas na Internet. Porque é sujo? Não: porque simplesmente não se acredita no que se faz. Desprezam-se o conteúdo e o próprio público.
Para um jornalista, habituado a decifrar os mistérios da sociedade, qual um hierofante dos nossos dias, trata-se de uma submissão inconcebível, trata-se de um sarcasmo, de uma torta na cara da vocação.
É isso mesmo? Ou serei eu mesmo um preconceituoso?”
“Design, jornalismo, mercado e prostituição”, copyright Webinsider (www.webinsider.com.br), 5/09/03
“Não entendo nada de design. No máximo, um pouco de usabilidade por dever da profissão, mas só teoria. Talvez eu nem entenda de jornalismo também, não duvido.
Tem uma coisa, porém, que entendo o suficiente: fim de mês, elas chegam. As nefastas insaciáveis. Contas a pagar e dívidas a saldar. Não pague e, próximo mês, custarão o dobro. Uma cortesia dos suaves juros bancários brasileiros.
O nariz de cera é para dizer que tenho observado e participado de calorosas discussões sobre a prostituição da profissão de designer, que [ainda] não é regulamentada. Observo com interesse, mas participo sem fôlego: é uma discussão já velha para jornalistas.
Acho que estamos prostituídos há bem mais tempo. Quem quiser que atire a primeira pedra. Não vai doer. Afinal, será apenas mais uma dentre tantas.
Design fast-food
Um dos enfoques os quais observo com atenção é a quantidade de anúncios para criação de websites por R$ 200, de templates prontos por R$ 100 e outros serviços de design a preços de matér… digo, banana.
Principalmente na mesa de bar, nas conversas de hora do almoço e nas listas de discussão, sempre tem gente para falar em ética de mercado, que isso tudo é uma injustiça com quem é bom, é deslealdade com quem estudou tantos anos, é sacanagem com quem se dedica a fazer universidade (e até pós-graduação!) e recebeu um diploma. Não entendo.
Filosofar sobre mercado de trabalho é de uma inocência desigual. Em minha amadora opinião, é inócuo elucidar motivos e causas da quebradeira do mercado de trabalho, ficar criticando os garotos que fazem curso de Frontpage e CorelDraw e se dizem webdesigners, ou xingar a agência de fulano por ter uma boa carteira de clientes e apresentar sites mal resolvidos.
Não entendo toda a celeuma contra esse design fast-food. Em diversas ocasiões, quando pergunto ao crítico mordaz, às vezes ele sequer tem um portfólio para apresentar; sequer oferece trabalho para empresas. Quer que as empresas corram atrás – situação que os engravatados que vivem de palestra adoram ?revelar?.
O que acontece com o design não é nada diferente do que ocorre com todas as outras áreas da comunicação e há mais tempo com o jornalismo. Sejam bem-vindos ao mundo real. Como anfitrião de data maior, vou ali pegar um cafézinho (requentado) para vocês.
Não era essa a ?nova era? que todos queriam? Acesso à informação para as massas, ensino superior para todos (que puderem pagar), liberdade de expressão irrestrita?
Tudo ótimo, mas é preciso pagar o preço. Tem muita gente que não quer pagar, quer que os clientes e veículos saibam diferenciar da noite para o dia o bom profissional do fast-food. Não funciona assim.
Precisamos esquecer um pouco esse mundinho fechado e incipiente de internet. É um papo antigo, mas que pouca gente tem feito. A bolha somos nós.
A impressão é que estamos reclamando, simplesmente, porque há um planeta inteiro lá fora, de verdade: aluguel, comida, feira, educação dos filhos, gasolina, prestação.
Quem não aceitar isso, na minha amadora (agora no sentido de apaixonante) sugestão é: se mudem para Macondo. Chutem o pau da barraca, façam uma mochila e vão morar na praia vivendo de pesca ou no mato, vivendo de caça. E não ousem esquecer de me convidar a ir junto. Só preciso do empurrão inicial. A mochila, a cabana e a vara de pesca eu já tenho.
Porque na vida real, o mercado está horrível mesmo. Não é novidade. Todo mundo está se mordendo mesmo, e daí? Cada um quer e precisa ganhar o seu. Nada mais justo. Já vi gente oferecendo trabalhos completos de assessoria de imprensa por R$ 600, quando o tal do mercado, essa entidade divina sobrenatural, não ?cobra? menos de R$ 2000. É um esquema predatório. Não é de agora.
São milhares de pessoas saindo da faculdade todo ano, para um mercado de portas fechadas. Basta pegar essa quantidade e somar com o pessoal que está sendo demitido todo mês, juntando com os que já estão sem emprego. Ou melhor, de gente que está ?em busca de novos desafios?. Eita expressãozinha mais nefasta.
Não é apenas em São Paulo ou Rio de Janeiro. O fast-food é no Brasil inteiro. Virou baixo meretrício mesmo, cada um cobrando menos do que o outro. O que vamos fazer? Matar esses caras? Cobrar dos sindicatos? (risos) Só se for para antecipar ainda mais o infarto.
É muito fácil criticar. No entanto, quero ver na hora em que a única saída seja escolher entre ganhar uns trezentinhos por um serviço para, pelo menos, pagar o aluguel; ou não ganhar nada, em prol da ética de mercado, para ?não se prostituir?.
Pode anotar: quando for a sua vez, você não vai cobrar trezentinhos. Vai cobrar duzentinhos, porque os trezentos já vai ter muita gente querendo.
Ética vs. Ética
Ética é um lance muito sério. Mas, a partir do momento em que começam a filosofar muito sobre o assunto, é porque já não existe mais nada a discutir.
Minha ética não deveria ser diferente da sua, que também não deveria ser diferente da do carpinteiro, do gari, do vendedor de espetinhos – todas nobres profissões, mas que, diferentemente de você, não precisaram de universidade, cursos caros ou pós-graduações.
Pois, no final, os dois lados terminam sob a mesma Espada de Dâmocles. E aí já era.
Estamos todos extremamente mal acostumados, ainda iludidos com o maravilhoso mundo da internet que ia dar bons salários para quem soubesse fazer algo decente. Estamos isolados.
E o pior de tudo é que não somos ninguém. Trabalhamos para outro punhado de ninguéns com acesso à internet ou tempo de ler o que escrevemos e produzimos. Não que isso deva nortear nosso trabalho, pelo contrário. Mas, o que não pode acontecer é esquecer a existência um mundo inteiro lá fora. Crise, dívida bancária, contas a pagar, preço das coisas subindo e empregos escassos.
Cansei um pouco de sentar em mesa de bar com jornalistas e ouvir a velha ladainha de que ?tem uma galera que está acabando com o mercado?, porque cobram muito pouco e ?roubam o emprego de quem é bom?.
Quando estiverem [também] desempregados e devendo até as calças ao banco, num instante mudam de idéia. Talvez seja por isso que, ultimamente, tenho bebido menos com jornalistas e mais com designers… * jornalista no Recife, www.rebelo.org”