ENSINO & COMÉRCIO
Enio Vieira (*)
Quem se preocupa com a mercantilização do ensino deveria prestar mais atenção ao que se discute hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC). Os Estados Unidos conseguiram incluir no fim de 2001 a educação como um dos itens para o acordo mundial, em andamento, de liberalização dos serviços. Pelo andar das discussões, a educação passará a seguir as regras de comércio internacional das seguradoras, por exemplo. Perdem assim os Estados nacionais o controle da regulamentação de conteúdos e certificação de cursos. Segundo os especialistas no assunto, os maiores interessados são Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, de olho nos serviços de educação através da internet.
Portanto, aos louvadores do ensino privado nacional, um alerta: com a inclusão da educação na categoria de serviços, uma universidade norte-americana poderá oferecer um curso a brasileiros em português pela internet a partir de um servidor nos Estados Unidos e a preços de escala mundial. O pagamento poderá ser realizado com cartão de crédito internacional.
Com uma população sempre bestializada pelo glamour das coisas importadas, as universidades virtuais estrangeiras vão se tornar o must da hora daqui a alguns anos. Vale lembrar que o atual ministro da Educação, Cristovam Buarque, tem verdadeiro fascínio pelo tema educação a distância, ou como ampliar vagas sem precisar de construção de salas de aula. Sobre as estranhas relações do Ministério da Educação com o setor privado, um trecho de reportagem da revista IstoÉ de 9 de fevereiro de 2000:
"Aberto há dois anos, o Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) cresce a uma velocidade espantosa: já tem 12 cursos funcionando, soma três mil alunos e cobra uma mensalidade que, no caso do Direito, chega a R$ 570. O Iesb pertence a Eda Coutinho Barbosa Machado de Sousa, mulher do chefe de Gabinete do ministro Paulo Renato Souza, Edson Machado de Sousa. A mulher de Edson, uma professora aposentada que já trabalhou no MEC, juntou-se a dois empreendedores mato-grossenses e virou uma empresária do ensino".
(*) Repórter do jornal O Globo, em Brasília
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