NYT, NACIÓN & CDS
"?La Nación? sofre ação judicial e se diz alvo de ato político", copyright Folha de S. Paulo, 30/05/03
"O diário argentino ?La Nación? foi alvo de uma intervenção judicial na noite de anteontem. A operação apreendeu a ata de acionistas, balanços e livros de contabilidade do jornal.
A autorização para a ação judicial foi dada pela juíza federal María Servini de Cubría e teve origem em denúncia feita à Ufitco (Unidade Fiscal de Investigação Tributária) por um cidadão que não teve seu nome revelado. A base do processo seria uma reportagem veiculada em novembro de 2002 pelo semanário ?El Guardián?, que denuncia o envolvimento do ?La Nación? com lavagem de dinheiro e sonegação.
?A comissão judicial que esteve aqui não disse qual é o real motivo da investigação?, disse à Folha o secretário de Redação do ?La Nación?, Héctor D?Amico. ?Suspeitamos que seja uma manobra política para prejudicar o jornal.?
?O jornal não cometeu delito de nenhuma natureza, tampouco esteve envolvido com infrações tributárias ou operações de lavagem de dinheiro?, informou o ?La Nación? em comunicado. O jornal é segundo maior da Argentina, com tiragem média de 157 mil exemplares diários.
Raúl Kollmann, do diário esquerdista ?Página 12?, classificou a ação como ?estranha?. Segundo ele, a intervenção ?pode ter sido acionada por membros do menemismo que querem jogar contra a administração do presidente Néstor Kirchner?. Durante a campanha eleitoral, Kirchner chegou a se queixar de que o ?La Nación? privilegiava de forma clara a candidatura do liberal Ricardo López Murphy.
O semanário ?El Guardián? pertence ao banqueiro Raúl Moneta, conhecido por sua proximidade com o ex-presidente Carlos Menem (1989-99).
A juíza Servini de Cubría também é uma figura polêmica. Foi ligada a Menem durante o primeiro mandato do ex-presidente e esteve envolvida em decisões que violaram direitos humanos.
A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e a Adepa (Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina) divulgaram comunicados em que demonstram ?preocupação? com a ação promovida pela Justiça. ?Desperta preocupação uma intervenção judicial na sede do diário. Pedimos maior transparência e serenidade da Justiça?, informou a SIP.
?Nenhuma razão foi dada para justificar uma ação como essa, algo que compromete o desenvolvimento de um dos diários mais antigos do país?, disse a Adepa."
"Plagiada no ?NYT? e, pior, traída por um ex-colega", copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 30/05/03
"Uma das últimas histórias que Jayson Blair escreveu antes de ser desmascarado como plagiador tinha o seguinte trecho: ?Juanita Anguiano aponta orgulhosamente para os sofás listrados, o bracelete em sua caixa vermelha e o móvel de Martha Stewart no pátio. Depois, com o mesmo ar de orgulho, mostra o ventilador de teto.?
Oito dias antes, eu tinha usado as mesmas palavras para falar de Juanita numa reportagem para meu jornal, San Antonio Express News. ?A mãe solteira, professora-assistente, aponta para o ventilador de teto que instalou em sua acanhada sala de estar?, escrevi. ?Ela mostra os sofás listrados, o bracelete ainda em sua caixa vermelha e o móvel de pátio de Martha Stewart, todos presentes de seu filho mais velho, o único homem.?
Quando li a matéria de Jayson, em 26 de abril, havia uma possibilidade remota de que ele tivesse visitado Juanita, moradora do Texas cujo filho, Edward, era o último soldado americano desaparecido no Iraque. E havia uma chance de que ela tivesse mostrado a Jayson os mesmos itens que eu vira. Mas havia um problema. O móvel de Martha Stewart não estava no pátio, mas numa caixa na cozinha. Além disso, ao apontar para os móveis e a jóia, não havia nela nenhum sinal de orgulho, mas de dor.
Concluí que Jayson roubara meu trabalho e distorcera a história. Eu conhecia Jayson. Passamos três meses como trainees do The New York Times. Fiquei me perguntando se a pressão de trabalhar no Times não estava sendo grande demais para ele. Temia que, se falasse do episódio, ele perderia o emprego. Mas me calar significava deixá-lo sair ileso de uma fraude.
Dois dias após o texto de Jayson sair na capa do jornal mais influente do país, voltei à casa dos Anguiano. A família acabara de receber a notícia de que o corpo de Edward tinha sido achado. Juanita não quis falar com a imprensa e, enquanto esperávamos, topei com um repórter do Washington Post que tinha ficado intrigado com as coincidências entre a reportagem de Jayson e a minha. Meus editores planejavam escrever ao Times exigindo desculpas. Mas o encontro com o repórter acelerou o processo. O crítico de mídia do Post, Howard Kurtz, ligou para comentar o caso.
Recebi uma ligação de Jayson dois dias após seu pedido de demissão. Achei que tinha telefonado para pedir desculpas, dizer que se sentia péssimo não só por colocar a profissão em descrédito, mas por roubar material de uma conhecida. Em vez disso, ele pediu uma cópia da minha reportagem. Disse que seus editores tinham dúvidas sobre uma frase de Juanita que uma de suas filhas traduzira para ele. Se tivesse entrevistado Juanita, Jayson saberia que ela fala inglês.
?É difícil acreditar que você já não tenha uma cópia do texto, sua reportagem é igual à minha?, respondi. ?Nunca li seu texto?, garantiu Jayson. Não havia mais o que conversar."
"?Clarín? vê ameaça em ação contra jornal", copyright Folha de S. Paulo, 1/06/03
"A intervenção judicial que apreendeu documentos contábeis no diário ?La Nación?, no dia 28, ainda gera manifestações de preocupação. Em editorial, o jornal ?Clarín?, maior do país, diz que a ação pode ser uma ?manobra para prejudicar o jornalismo independente?. Em carta encaminhada ao ?La Nación?, segundo maior jornal do país, o ministro da Justiça, Gustavo Beliz, disse ter ficado ?preocupado?.
A base do processo seria uma reportagem do semanário ?El Guardián?, que denuncia o envolvimento do diário com lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. O ?La Nación? nega e diz que a a ação pode ser uma manobra para prejudicar o jornal, que passa por dificuldades financeiras."