Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eles não estão nem aí

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BUSH & FHC

Claudia Rodrigues

E por que o Brasil deveria ter destaque na mídia americana? O Brasil do FHC está no papo, não incomoda os americanos [veja abaixo remissão para "Olho no olho que ninguém viu"]. Temos o nosso american way of life, idolatramos o primo rico do Norte, nos submetemos a ele há tanto tempo que não pode haver razão alguma para que a visita do presidente ou qualquer posição de personalidade dele (hehehe), sobre assuntos importantes, como a carta a respeito da atitude do Bush em relação à convenção de Kyoto, tenha algum efeito curioso na mídia americana. O Brasil é um piolho de rico nos fartos cabelos tingidos da mídia americana. Nem coça. Quem critica o rabo estica, quem se importa o rabo entorta… Sabem como o Brasil poderia virar uma boa manchete?

Incomodando, tornando-se uma infestação de idéias e práticas próprias, sentando em cima do seu trono de fartas terras, o que nos dá a possibilidade de uma economia que poderia levar o lado social mais do que em consideração; como uma prioridade. Um Brasil que teria um BNDES investindo maciçamente na economia associativa, na agricultura orgânica, na pequeníssima indústria. Ops! Esqueci dos grandes, afinal são eles que levam esse país nas costas (rárárá). Deve ser por isso que 90% dos investimentos do BNDEs vão para as grandes empresas. E 1% do total de empréstimos vai para as pequeníssimas empresas. Existem mais costureiras, padeiros, sapateiros, bicicleteiros e outros desempregados das grandes empresas tentando se virar para arranjar um dinheirinho a fim de montar um negócio próprio, do que grandes empresas nacionais e multinacionais, correto? Então a lógica é que se dê mais a quem tem mais e está em menor quantidade no mercado, certo?

All right, quero dizer, todos de direita. Brezil give up, like all the time o Brasil tem tudo e mais um pouco para ser a antítese do sistema americano em todos os campos, em todos os sentidos. Ora, e para que serve a globalização? Somos todos iguais. Uns mais iguais do que outros.

No jornalismo, por exemplo, o editor é mais igual ao diretor do que os repórteres. Mas tudo dentro de uma liberdade de mercado, entendem? Que culpa há em ser o melhor? Não entenderam. É assim: o Brasil é melhor porque é mais amigo do Sam que, aliás, é filho único, de proveta e pai desconhecido. Conhecem a história da moça da roça que vai morar na cidade, e depois envergonha-se das origens? É assim que o Brasil se comporta. Melhor mudar de nome: Brezil seria mais adequado.

Virar notícia das boas? Só quando tiver personalidade própria! Por enquanto, a notícia que se tem poderia ser algo como: "Capacho de nossa base 3 tenta gritar mas abre as pernas logo depois, como de costume". Se eu fosse um jornalista americano não veria nenhum motivo para dar notícias sobre o Brasil. Nada há de novo na nossa relação com eles. Pelo contrário, está tudo caindo de velho, para lá de JK. Agora temos 5.000 anos em cinco meses. Está tudo uma delícia capitalista ma-ra-vi-lho-sa! E o que importa se eles não falam de nosso presidente e de nosso país? Nós nos importamos com eles, oras! Das bravatas científicas ao Oscar, tudo nos diz respeito É tão gostoso abrir os jornais e ver o quanto nos importamos com o Bush, com o Oscar, com tudo o que diz respeito aos americanos. Somos tão "mudernos", como dizia o Sarney. Adoramos as notícias de ciência que eles dilvulgam, as de medicina, as de agricultura. Eles são tão inteligentes e assépticos, tão macros e compartimentados, sabem tudo, até já descobriram que socialismo não dá certo, que esse negócio de divisão de terras é coisa de comuna ultrapassado.

Tudo light

Agora ficarão ainda melhores depois da nova descoberta científica, a enzima que permite que se coma de TUDO sem engordar. Já imaginaram que delícia, a gente se empanturrar de McDonald’s, refrigerantes, gordura vegetal hidrogenada, espessantes, anti-coagulantes, conservantes, e não engordar? Tudo o que os jornais dão. Segundo um dos pesquisadores, a enzima, que funciona muito bem em ratos, será a grande saída para um problema de saúde que afeta muitas pessoas no mundo, especialmente nos EUA: a obesidade. Vai ser tão legal morrer magrinho, de câncer ou de uma doença nova, a síndrome da enzima adquirida. Ai gente, é tão tocante nossa relação com os EUA. Preciso comemorar as novas descobertas científicas. É que elas causam alta na bolsa de Wall Street, sabem? E também porque estou excitadíssima com a disparada do dólar. Não há tempo a perder, é preciso especular, levantar a bola do primo rico. Quem sabe, no dia em que a nova economia der certo, ele nos dê uma esmola, não é mesmo? Um big smack nasdaq com sabor coca-cola diet.


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