ASPAS
JB 110 ANOS
"Um plano para fechar o jornal", copyright Jornal do Brasil, 8/04/01
"Em janeiro de 1977, o general Hugo de Andrade Abreu, então Comandante da Brigada Pára-Quedista – só alguns meses depois ele assumiria a chefia do Gabinete Militar do governo Geisel- redigiu um relatório confidencial destinado a tornar inviável o Jornal do Brasil . No documento, intitulado de Medidas contra JORNAL DO BRASIL, ele afirmava que a ação ?contestadora e subversiva? do JB exigia medidas repressivas do governo. O jornalista Elio Gaspari, na época redator do Informe JB, teve acesso ao documento. Eis a sua íntegra.
?Medidas contra o Jornal do Brasil?
?1. A atuação do Jornal do Brasil, sua ação contestadora e subversiva permanente, está a exigir medidas repressivas do governo. Não é possível, numa situação ainda de consolidação dos sistema revolucionário, quando o próprio Congresso sofre limitações, que um órgão de imprensa, na defesa de interesses escusos, continue a investir impunemente contra todos os atos do governo, visando dificultar-lhe a ação. Já foram tentadas, sem êxito, medidas de caráter suasório. Todas elas esbarraram na absoluta falta de escrúpulos do vice-presidente executivo do JB, Sr. Nascimento Brito.
?2. As medidas propostas a seguir deverão ser impostas progressivamente, na ordem de prioridade em que estão apresentadas e as de caráter financeiro atingirão a todo o grupo onde se inclui o Jornal do Brasil. Além dessas medidas, a Censura poderá ser adotada em qualquer fase, dependendo da reação do jornal. A melhor forma de censura será a apreensão do número do jornal, depois de impresso, antes da distribuição.
Medidas financeiras
a. Suspensão do crédito oficial: Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNH e BNDE, outros bancos federais ou estaduais, repasse de crédito oficial, por intermédio de bancos particulares. Esta suspensão de crédito inclui a impossibilidade de reforma de empréstimo ou qualquer facilidade para o pagamento da dívida contraída.
b. Suspensão da publicidade oficial: inclui a suspensão de toda a publicidade paga por órgãos do governo, seja da presidência, dos ministérios ou de órgãos vinculados a estes, inclusive empresas estatais. Incluem-se nesta restrição editais e outras publicações que devem sair na imprensa. É importante, também, que os órgãos do governo do Estado do Rio de Janeiro participem do mesmo esquema. Convém notar que o JB publicou há dias um suplemento especial da Embratur e poucos dias atrás havia publicado suplemento semelhante relativo à Embraer.
c. Suspensão da composição para liquidação de débitos atrasados: a liquidação de qualquer débito com entidades governamentais deve ser processada imediatamente. Não será aceita qualquer espécie de negociação para o parcelamento do pagamento de dívidas atrasadas, já que o Grupo não merece crédito. Incluem-se aí as composições habitualmente feitas para o pagamento de dívidas para com a previdência social.
d. Pressões contra anunciante do Jornal do Brasil: as organizações particulares que se incluem entre os maiores anunciantes do jornal – exemplo: Sérgio Dourado, Gomes de Almeida Fernandes, Adolfo Lindemberg – serão pressionadas para que suspendam seus anúncios, sob pena de perda do crédito oficial.
e. Verificação do Imposto de Renda: proceder-se-á a uma verificação detalhada da situação com relação ao Imposto de Renda, não só do Grupo Financeiro do Jornal do Brasil (pessoa jurídica), como também de seus diretores (pessoas físicas). Como conseqüência serão aplicadas as penalidades previstas na legislação em vigor.
Investigação no jornal
Como medida final, o ministro da Justiça determinará a realização de investigação no jornal, de acordo com o que prescreve o artigo 79 da Lei de Segurança Nacional. A investigação deverá abranger todos os aspectos da administração do jornal, não só sua contabilidade, como a conduta política de todos os integrantes de sua direção. As conclusões da investigação deverão ser levadas às últimas consequências com o enquadramento dos diretores na Lei de Segurança Nacional e a colocação do jornal sob a intervenção do governo."
"O futuro do JB", copyright Coleguinhas, uni-vos (www.coleguinhas.jor), 8/04/01
"As coisas começam a se aclarar no JB. Pelo menos, agora já dá pra saber qual é a visão de Nélson Tanure a respeito do ex jornal da Condessa. No domingo (estou escrevendo sábado à noite, mas deixa pra lá…), circulou um caderno comemorativo dos 110 anos do jornal (completa hoje, dia 9), no qual há uma exposição dos planos. Se você leu, dê uma olhada aqui para ver se bate tudo direitinho; pra quem não leu, aproveite para saber como é o lance.
Vou tentar as coisa ao estilo daquele moço londrino e ir por partes para facilitar, ok? Vamos lá:
Tanure comprou o JB? – Não. Ele arrendou o título da JB S.A, aquela empresa quase falida que deve cerca de R$ 1,3 bi na praça (José Antônio Nascimento Brito jura que o papagaio fica em ?apenas? R$ 750 milhões, dívida que pode ser reduzida à metade pelo deságio, e mesmo o que sobrar pode ser discutido na Justiça até o Armagedom).
Comprar, comprar mesmo, o Tanure comprou foi a Agência JB, o JB On line, e as rádios Cidade e JB FM, formando com essas empresas a Companhia Brasileira de Multmídia, empresa que nasce limpinha de dívidas. O contrato de arrendamento é de 60 anos, com possibilidade de renovação por mais 30. Assim, teoricamente, Tanure e seus netos poderiam ficar com o jornal até ele completar 200 anos. O valor do contrato de arrendamento? Mistério…Mas tenho quase certeza de que é merreca. A razão dessa desconfiança vem mais abaixo.
O que Tanure pretende arrendando a marca Jornal do Brasil? – Olhando para trás e vendo o que Tanure costuma fazer (e seu prontuário), o mais provável é que ele invista uma grana (para começar, R$ 100 milhões ainda este ano), tente recuperar o prestígio do jornal, que anda mais por baixo que sola de sapato, e depois procure passá-lo adiante pela melhor oferta. Obviamente, isso só vai funcionar se aquela famosa emenda constitucional que permite a venda de participações em meios de comunicação para pessoas jurídicas daqui e do exterior for aprovada. Os gringos, e mesmo empresas brasileiras, entrariam como sócias de Tanure, ou este passaria a marca JB para eles. Dependendo da oferta, creio que até a CBM poderia também entrar nesta parada.
E as dívidas como é que ficam? – Dívidas? Que dívidas? Quem deve a meio mundo é a JB S.A. e não Tanure e a CBM…Ou seja, quem é credor do Jornal do Brasil pode se preparar para um megacalote. Tanure diz que, partir de agora, vai pagar em dia os salários, o FGTS e as multas rescisórias, mas não lhe passa pela cabeça pagar nada do que a JB S.A deve. E esta, coitada, nem tem mais muito patrimônio, já que aquele elefante branco lá da Avenida Brasil já foi dado como garantia de empréstimos antigos e o valor do contrato de arrendamento da marca Jornal do Brasil deve ser bem baixinho (calma! Daqui a pouco explico porque acho isso…). A única chance de os credores conseguirem arrancar algum do Tanure é provar a que CBM é responsável pelas ?penduras? do JB. Não vai ser fácil porque a relação é de arrendamento. Mas como, pelo que consta, o Josa Nascimento Brito é sócio da CBM pode ser que por aí se consiga algo.
E, afinal, por que o tal contrato de arrendamento deve ter valor baixo? – Bom, é que o Josa está tentando botar a JB S.A. no Refis – aquela linha de financiamento para empresas pré-falidas que o Governo criou para que elas pagassem o que devem ao INSS e outras pendências federais usando o meu, o seu, o nosso dinheirinho. Ora, o valor das parcelas de pagamento do empréstimo é calculado em cima do faturamento da empresa. Assim, se o valor do arrendamento – única fonte de faturamento da JB S.A. a partir de agora – for bem baixo, o valor das parcelas também o será. Dependendo de quanto forem a parcelas, as dívidas poderão só ser quitadas lá pelo ano 3.238…
Aliás, o Josa afirma que a JB S.A. já está no Refis. É estranho, já que uma das condições para se aderir ao programa é a empresa estar em dia com as dívidas trabalhistas e isto até os prédios da Esplanada dos Ministérios sabem que o JB não está.
E a parte editorial, como é que fica? – Para começar, a redação deve mudar de lugar. Há duas possibilidades por enquanto: alugar dois andares no prédio do BankBoston, na Rio Branco, que foi erguido no lugar da antiga sede do JB (o nome do edifício até é Conde Pereira Carneiro); ou então o pessoal se mudar para um andar do prédio de O Dia, na Rua do Riachuelo. Acho a segunda opção mais viável, pois jornais tem alguns detalhes operacionais (estacionamento para carros de reportagem, horários estranhos, gente esquisita e barulhenta…) que dificultam muito a operação num prédio de escritórios comum.
De qualquer maneira, é só observar as duas opções para se chegar à conclusão óbvia de que a redação vai ser muito pequena. Ao encontro desta hipótese vem a determinação de Mário Sérgio Conti de fazer um jornal de apenas dois cadernos de 16 páginas. O primeiro com as editorias quentes (política, nacional, economia, esporte, internacional) e um segundo com as frias (B, Saúde e Bem-Estar, TV, Comportamento, tijolos). Dos suplementos, sobrará mesmo só o Idéias. Os outros dançarão, mas as revistas Programa e Domingo ficam: a primeira vai passar por boa guaribada; da segunda ninguém sabe muito bem o que fazer, mas pode ser que se torne uma revista de perfis ou coisa assim.
A idéia básica, como também dá pra notar, não é competir com O Globo na hard news. O Império tem grana demais e por isso enfrentá-lo de peito aberto seria suicídio, pensa MSC. Assim, o negócio seria pegar alguns assuntos escolhidos a dedo e dar uma abordagem diferente, com mais profundidade e/ou enfoque diferente. Falando assim parece que se quer editar um NO. impresso. E com Flávio Pinheiro como editor-chefe pode muito bem ser isso mesmo.
Com esta abordagem, obviamente o JB não será o novo fenômeno mundial de vendas. A meta é desovar algo em torno de 100 mil exemplares durante a semana (hoje a conta fica em torno de 70 mil) e uns 150 mil aos domingos (hoje, está por volta de 100 mil). Números modestos e com ampla possibilidade de serem atingidos. Seriam poucos os leitores, mas todos de elite, o que, em teoria, atrairia anunciantes igualmente qualificados.
Meu pitaco – Essa é a parte que você pode pular, indo direto pro Picadinho à Coleguinhas, já que não me perguntou nada.
Francamente, eu estou naquela situação que o João Saldanha descreveria como querendo que o viadinho viva e o leão não passe fome…Torço para que o JB saia da pindaíba em que vive para o nosso bem (serão poucos os empregos, mas pouco é bem melhor do que nada) e para o bem da democracia (esse negócio de o Império mandar em tudo é muito perigoso).
O problema é que a coisa começa muito mal com o calote das dívidas, especialmente as trabalhistas. Todas essas dívidas vão ser cobradas e as ações na Justiça vão se arrastar, e podem prejudicar muito a segunda parte do plano de Tanure, de passar o JB adiante. Afinal, que investidor vai querer botar dinheiro numa empresa que pode amanhecer sem dívidas e chegar ao anoitecer devendo alguns milhões por conta de uma decisão da Dona Justa? Ainda mais quando esta empresa enfrenta adversários poderosos (ou você acha que o Império vai ficar olhando o ressurgimento de seu principal concorrente sem fazer nada? Já até começou com a boa matéria mostrando os podres do Tanure neste domingo, dia 8).
Pelo que vejo, ainda vai demorar muito pro JB realmente se firmar novamente. Se é que um dia vai voltar a ficar de pé mesmo…
Picadinho à Coleguinhas
Briga boa – A briga entre a DirecTV e a TV Globo bateu às portas da Câmara dos Deputados. Os parlamentares que compõem a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovaram a realização de uma audiência pública para debater o caso. Segundo o sítio ?Telecom Online?, os deputados estão decididos a barrar a influência norte-americana no mercado de TV por assinatura via satélite (DTH). O pedido foi encaminhado pelo deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP), que quer explicações sobre uma possível interferência da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do governo norte-americano na questão. Serão chamados o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e um representante do Itamarati. A DirecTV vem pleiteando o direito de transmitir o sinal de TV aberta da Rede Globo em seu sistema para os assinantes de quatro capitais (São Paulo, Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte). Conforme os executivos da operadora, a situação seria a mesma como já acontece com a concorrente Sky, que faz parte do Império.
MinC no ar – A TV Cultura irá receber R$ 2,2 milhões para viabilizar a transmissão do sinal do canal de TV do Ministério da Cultura (MinC). Batizado de TV Cultura e Arte e com estréia prevista para 16/4, o novo canal terá uma programação de duas horas diárias nos serviços de TV por assinatura da TVA, NET e outras operadoras. Pelo contrato de dois anos assinado com o MinC, ficou acertado que a Cultura terá a função de receber o acervo dos programas que vão ser veiculados, preparar chamadas e vinhetas, digitalizar o material e operar a transmissão do sinal.
Sem razões de queixa – A Rede Bandeirantes está em terceiro lugar entre os faturamentos registrados pelas principais de redes de televisão do país, ficando atrás apenas de Globo e SBT. Em 2000, a empresa da família Saad registrou R$ 260 milhões de faturamento, o melhor resultado em vários anos. Com esse desempenho, a rede ficou com 5% do bolo de investimentos publicitários em TV no país, estimado em R$ 4,9 bilhões. Contribuiu para esse resultado a demissão de 50% do seu quadro de funcionários (de quatro mil para dois mil, desde 1999), ficando com uma folha de pagamentos semelhante à do SBT. Nos dois primeiros meses de 2001, o faturamento cresceu 30%, em parte pela boa comercialização do Carnaval, período em que arrecadou R$ 15 milhões e gastou menos de R$ 5 milhões. Até o fim do ano, a previsão é de que o crescimento será de 15%, superando os R$ 300 milhões de faturamento. Com o lucro de 2000, a Band pôde investir, com recursos próprios, US$ 6 milhões na criação do canal de notícias em TV paga BandNews."
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