Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Elis Monteiro

INTERNET

“Xô, lixo virtual!”, copyright O Globo, 8/09/03

“Como diminuir o número de mensagens eletrônicas não-solicitadas que circulam na internet? Já que não existe legislação específica para esse tipo de infração, educar ainda é a única forma de coerção. Para isso, o Grupo Anti-spam, formado pela Associação Brasileira de Provedores de Acesso, Serviços e Informação da Rede Internet (Abranet), pela Associação de Mídia Interativa (AMI) e pela Câmara e-Net, decidiu criar uma cartilha e um código de ética para empresas que usam o email como ferramenta de marketing. As ?regras?, auto-regulatórias, devem sair nos próximos meses. As empresas que seguirem as normas entrarão para o que o grupo está chamando de ?Lista Branca? – reverso da já existente ?Lista Negra?, que identifica quem usa o email para o mal. A idéia é criar um selo de qualidade para companhias que não abusam da rede para vender produtos e serviços: quem não estiver na ?lista branca? será classificado, automaticamente, como não-confiável.

A medida é bem-vinda. Pesquisa divulgada em agosto nos Estados Unidos pela fornecedora de sistemas anti-spam Brightmail concluiu que o lixo virtual corresponde, hoje, a 50% (!?) dos emails que trafegam na internet. Destes, a maioria é de empresas oferecendo algum produto ou serviço – e aí entram os mais bizarros tipos. No Brasil, o número de spams quadruplicou num prazo de dois anos, segundo pesquisa da Abranet. Caso não seja revertida, a tendência é aumentar mais.

Se os números são assustadores, as previsões não ficam atrás. Phillip Hallam-Baker, criador dos protocolos de segurança da WWW, disse, em entrevista ao GLOBO, que o spam é séria ameaça à saúde da rede. Sérgio Kulikovsky, presidente da Certisign, assina embaixo das declarações do cientista:

– O spam pode travar a internet. Uma forma de combate é restringir o acesso à caixa postal. Eu, por exemplo, instalei um filtro que só deixa passar emails cadastrados no catálogo de endereços – diz.

Mas como separar o joio do trigo? Como saber o que é spam, o que é email de amigos e o que é marketing saudável? Para Marcelo S?Antiago, presidente da AMI, definir spam e criar regras de conduta é tarefa árdua. A saída? Educar!

– Classificamos de spam o envio de mensagens para uma base indeterminada, simultaneamente e de modo reiterado, sem consentimento prévio. O spammer usa o ?res? (de resposta) na mensagem para enganar o receptor, oculta o IP e tem origem desconhecida. O spam é uma praga, mas como assola o mundo todo fica complicado criar uma legislação local – diz.”

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“A etiqueta do email-marketing”, copyright O Globo, 8/09/03

“A Associação Brasileira de Marketing Direto (Abemd) elaborou uma espécie de ?Netiqueta?, algumas recomendações para uma utilização ética e responsável do email como ferramenta de marketing. São regrinhas que, segundo a Abemd, se seguidas podem contribuir para o bom relacionamento das empresas com os clientes e ajudar a reduzir o tráfego de mensagens na internet. A seguir, um resumo de cada ?conselho?, que a associação publicou em seu site <www.abemd. org.br> e repassou a todos os seus membros.

OPT IN: O primeiro recebimento é muito importante, porque marca o início da relação. É preciso ter permissão para prosseguir o relacionamento, por meio do opt in do receptor, tanto quando ele procura como quando é procurado. Quando é a pessoa quem procura a empresa, o campo onde é feita a opção pelo recebimento da mensagem deve estar visível e com descrição clara do produto ou serviço oferecido. Quando é a empresa que procura a pessoa, tratando-se do primeiro contato deve informar como foi possível chegar a ela, explicitar o produto ou serviço oferecido e apresentar, de forma visível, a alternativa opt in. Se a pessoa não responder o email com essa alternativa assinalada deve-se entender que não deseja receber novas mensagens.

OPT OUT: Toda mensagem precisa ter opt out. É prerrogativa do receptor decidir o momento em que não quer mais receber mensagens de determinado emissário.

USO DO ENDEREÇO ELETRÔNICO: Quando houver cadastro prévio, deve ficar claro que o endereço eletrônico poderá ser usado para o envio de mensagens comerciais ou, se for o caso, repassado também com a finalidade de envio de mensagens comerciais. E o receptor deve manifestar sua concordância com isso.

TAMANHO DOS ARQUIVOS: Procure sempre limitar o tamanho dos arquivos enviados, seja no corpo das mensagens ou nos anexos. Deve-se ter sempre em mente o público da média inferior em capacitação tecnológica (software, hardware e modalidade de conexão). Sugere-se mensagens no formato .txt ou html, este último com tamanho máximo de 12Kb, e que as figuras (gifs) não estejam anexadas na mensagem, mas sim localizadas em servidor próprio.

AUTO-EXECUTÁVEIS: Não devem ser enviados arquivos com auto-funcionamento. Os auto-executáveis são arquivos que os programas gerenciadores de e-mail conseguem ler e interpretar, iniciando automaticamente algum processo que não é necessariamente desejado pelo receptor. Essa modalidade de arquivo também torna o sistema vulnerável à transmissão de vírus (voluntária ou não).

RELEVÂNCIA: O consumidor não se incomoda em receber uma mensagem de cunho comercial, desde que seja relevante para ele. Portanto, preocupe-se sempre com o conceito de relevância.

FREQÜÊNCIA: Deve-se preferencialmente oferecer ao cliente que assinale a opção de sua preferência na freqüência de recebimento de informações ou solicitar que ele opte entre as diversas alternativas de periodicidade que lhe são oferecidas. Quando não for possível oferecer que faça a opção, deve-se deixar claro qual será a freqüência de envio das mensagens.

POLÍTICA DE RELACIONAMENTO: É sempre conveniente que se tenha clareza na política de relacionamento adotada, o que pode ser feito por meio de um contrato/compromisso assumido formalmente com o consumidor.”

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“A única saída, por enquanto, é educar”, copyright O Globo, 8/09/03

“Apreocupação com o spam não é exclusividade do Brasil. Em julho, a justiça colombiana abriu precedente ao condenar dois spammers: eles não estão presos, mas foram proibidos de enviar mensagens para o internauta que os denunciou. Também em julho, a Comissão de Comércio Americana processou 45 spammers por venda ilegal de substâncias controladas, ofertas de dinheiro fácil e falsas oportunidades de negócios. No mesmo mês, a Internet Foundation, do Parlamento Europeu, anunciou que estão em andamento negociações com agências reguladores americanas para a criação de leis que permitam a cidadãos europeus processarem spammers americanos, e vice-versa. Representantes dos dois continentes chegaram à conclusão de que é necessário um acordo internacional, já que nenhum país conseguiria resolver o problema sozinho.

Sem legislação, organizações civis tentam educar mercado

Como o governo brasileiro não decidiu o que fazer com o spam, organizações civis resolveram criar mecanismos para amenizar o problema. O primeiro passo é o lançamento da cartilha e do código de ética das empresas. Para Antonio Rosa Neto, diretor de e-commerce da Associação Brasileira de Marketing Direto (Abemd), a lista branca é fundamental para mostrar ao mercado quem trabalha direito.

– Como não existe legislação e a internet é uma mídia mundial, é preciso disciplinar e orientar. Nem todos as empresas que mandam spams usam maldade neles. O que vemos é muita falta de competência mesmo – diz. – Não criaram a netiqueta, que ensina os internautas, por exemplo, que usar caixa alta em email é falta de educação? E isso não ?pegou?? Pois estamos procurando estabelecer a etiqueta no envio de email-marketing – conta Rosa Neto.

A Abemd, aliás, publicou em seu site <www.abemd.org.br>, em agosto, uma lista com dicas de como empresas devem usar o email-marketing para comunicação com clientes – leia no quadro acima. O respeito ao opt in – quando o usuário opta por receber o email – e ao opt out – quando ele opta por cancelar – por exemplo, é fundamental.

Não dá para generalizar: empresas sérias também usam o email para levar informações aos clientes, e elas também são prejudicadas pelo spam. Mas aí vai um lembrete: as que não são spammers só enviam propaganda a quem a requisita. No cadastramento de um site, por exemplo.

– O spam prejudica provedores de acesso, empresas de mídia digital e quem detém a banda de internet. Grandes empresas estão cancelando contratos com companhias de mídia online sérias com medo de serem vistas como spammers – conta o presidente da AMI.

O código de ética que o Grupo Anti-spam está preparando também dará dicas para que se estabeleça um bom relacionamento entre empresas e consumidores. Estes, aliás, estão cada vez mais expostos: quem nunca recebeu mensagens oferecendo listas de milhões de endereços eletrônicos? É por meio dessas listas que o spammer chega à vítima. Os ?pacotes de endereços? estão cada vez mais baratos e, assim, acessíveis a qualquer um que deseje vender produtos ou serviços e acredite que a caixa postal alheia é terra improdutiva e, portanto, pode ser invadida livremente.

Sofre o usuário, sofre o provedor. Segundo Cássio Vecchiatti, presidente da Abranet – que diz ter 11 contas de email, mas, por causa dos spams, não consegue acessar cinco delas -, os provedores de acesso passaram a investir mais em banda de internet e memória, e ninguém, além deles, quer pagar por isso.

– Quando você envia uma mala direta pelo correio, paga o selo. Com o email você não gasta nada! E usa servidores dos provedores para enviar milhões de mensagens! Contratamos um caminhão para transportar 1.500 quilos e estamos carregando 12 toneladas… – queixa-se.

Como agir com o spam que invade seu inbox

O internauta tem algumas saídas para diminuir o ritmo de chegada de spams no inbox, mas profissionais do lixo virtual costumam ser espertos: trocam de endereço eletrônico ou o redirecionam para servidores de outros países, ficando praticamente inacessíveis.

– Email não é identidade, é endereço, equivalente ao endereço de casa e ao número de telefone. Esse tipo de informação, legalmente falando, pode ser comercializada – diz Marcelo S?Antiago.

Por isso, quanto menos o internauta distribuir seu endereço eletrônico, melhor. Foi a uma loja e preencheu um cadastro? Não dê o email. Precisou se cadastrar num serviço online? Crie um email gratuito. Ainda nos cadastros, nunca selecione a opção de ?receber informações do serviço tal?. Consentir é o mesmo que dizer ?invadam minha caixa postal quando quiserem?.

O usuário também deve desconfiar de mensagens no pé do email que dizem ?caso deseje sair da lista, envie email para determinado endereço?. Essa é uma forma de propagação do endereço. E, ao criar um email, evitar nomes comuns (Silva, Oliveira, etc), que facilitam o trabalho do spammer.

Caso não agüente mais receber tanto lixo, o usuário tem a opção de criar, no programa de email, regras para recebimento de mensagens – aceitar mensagens só dos cadastrados no catálogo de endereços, por exemplo. Isso pode evitar, inclusive, recebimento de vírus que se propagam via spam.”

 

CONEXÕES HERÉTICAS

“Inquisição digital”, copyright Folha de S. Paulo / New Scientist, 7/09/03

“Tudo começou com uma conversa regada com cerveja, mas terminou numa profunda revelação. Paul Ormerod, economista da empresa Volterra Consulting, em Londres, estava falando sobre seu trabalho com ciência de redes, como a internet e grupos de amigos. ?Interessante?, disse seu amigo Andrew Roach, historiador especialista em Idade Média da Universidade de Glasgow. ?Soa bastante parecido com o tema no qual eu estou trabalhando.? Foi uma afirmação ousada da parte de Roach. Ele estuda a perseguição aos heréticos medievais -pessoas em países católicos que rejeitavam, entre outras coisas, a autoridade inquestionável do papa. Mas o comentário no ?pub? levou a dupla a explorar o assunto mais profundamente, e parece que Roach estava certo. No século 13, os inquisidores católicos pararam o avanço da heresia explorando princípios que são incrivelmente parecidos com os que a ciência usa hoje para descrever redes tão diversas quanto estruturas sociais, o contágio de uma doença e a internet. O ponto comum entre as duas coisas são as chamadas redes sem escala [?scale-free networks?]. As propriedades dessas redes foram desvendadas há menos de cinco anos por Albert-László Barabási, professor de física na Universidade de Notre Dame em Indiana (EUA), quando ele usou um software-robô para analisar as conexões entre sites na internet. Barabási esperava que o robô revelasse que os sites se conectam entre si de forma aleatória. De acordo com um ramo da matemática chamado de teoria dos gráficos, a maioria dos sites teria mais ou menos o mesmo número de conexões (ou links). Mas Barabási ficou chocado quando o robô descobriu que muitos sites estão conectados a apenas alguns poucos, enquanto um número muito pequeno de sites têm um número enorme de links. Uma vez que nenhum número de links predominava, como ele imaginara antes, Barabási batizou a rede de ?sem escala?. Nos últimos anos, a compreensão das redes sem escala transformou a maneira como os cientistas vêem um conjunto impressionante de sistemas físicos e biológicos, de ecossistemas a doenças e relações sexuais. Esses estudos mostram, por exemplo, que uns poucos ?nódulos? bem conectados na rede -sejam eles pessoas, computadores, vírus ou outros organismos biológicos- são cruciais para sua operação. Sem esses nódulos, a estrutura da rede se esboroa. Graças a essa percepção, fica muito mais fácil enfrentar a disseminação de uma doença ou analisar as fraquezas da internet.

Conexões heréticas

Ormerod e Roach afirmam que a análise feita por Barabási não pode ser replicada em documentos medievais. Mas a semelhança que eles revelaram agora sugere que a Inquisição, de fato, investigou o problema e identificou o que nós chamaríamos de um fenômeno sem escala. No começo da Inquisição, a Igreja Católica usava um método grosseiro para lidar com os heréticos. Ela simplesmente instruía os cruzados a matar todos os que viviam em vilas e cidades suspeitas de abrigar dissidentes. Mas esse foi só o começo, e a igreja não tinha percebido com que estava lidando. Não se consegue destruir uma rede sem escala com destruição indiscriminada. Não se consegue, por exemplo, derrubar a internet tirando do ar sites aleatórios. Redes sem escala exigem um plano mais astuto. Os inquisidores começaram a perceber isso quando os heréticos simplesmente se recusaram a desaparecer. Os massacres aleatórios conseguiram um alívio temporário, mas a heresia sempre ressurgia. É um padrão que os epidemiologistas modernos reconhecem: um surto de gripe que parece ter sido erradicado vai voltar, a não ser que medidas preventivas sejam tomadas. Assim, os inquisidores decidiram encontrar uma maneira melhor de extirpar a epidemia herética. Nos anos 1230, dizem Ormerod e Roach, a igreja tinha descoberto como a heresia se espalhava e como poderia ser detida. Em 1250, já havia manuais para inquisidores detalhando o que hoje se reconhece como a melhor maneira de derrubar uma rede sem escala. O frade dominicano Bernardo Gui, cujo manual para inquisidores é provavelmente o mais conhecido, deixa claro que não adianta se concentrar num indivíduo. Todo o esforço deveria se dirigir a identificar os heréticos que visitaram o suspeito em sua casa, bem como os guias que os conduziram até lá e os levaram embora, diz ele. O importante são as conexões, não os nódulos. De fato, assim que os inquisidores estabeleceram a importância da mobilidade para o espalhamento da heresia, eles mudaram totalmente seu estilo de punição. Os heréticos penitentes tinham sido enviados em peregrinações, antes disso, mas ali pelo fim do século 13 essa prática havia sido interrompida. Era arriscado demais: os penitentes poderiam fazer carradas de novos contatos em uma área geográfica ampla.

Cruz amarela no peito

?A atenção se voltou então para punições que restringiam os movimentos ou que destacavam o penitente, tornando difícil o contato social?, assinalam Ormerod e Roach num trabalho encaminhado para publicação no ?Journal of Social Structure?. Foi assim que nasceu a pena de custódia: a luta contra a heresia foi o primeiro uso da prisão como punição em si mesma. Punições mais leves seguiam a mesma doutrina de isolamento. Aqueles que tivessem mantido contato deliberado e consciente com heréticos, por exemplo, eram forçados a usar uma cruz amarela na frente e nas costas de toda vestimenta visível. Bastava ser visto com um portador dessas cruzes para correr o risco de ser acusado de simpatia pela heresia, de modo que essa medida funcionou como uma forma eficaz de ?inoculação? para a comunidade. Isso ainda não era suficiente, porém, para deter a disseminação da heresia. Foi só no final do século 13 que os inquisidores começaram a identificar o problema real. Uns poucos indivíduos altamente conectados, influentes e móveis estavam espalhando a heresia mais rapidamente do que ela podia ser erradicada pela matança indiscriminada, pelo aprisionamento e pela ?inoculação?. Os inquisidores finalmente perceberam a importância das conexões da rede. Assim como a internet tem, por exemplo, Yahoo e Napster funcionando como atalhos para conectar muitas pessoas por meio de poucos links, a heresia dependia das atividades de umas poucas pessoas influentes, como Guilherme de Milão. Se a igreja pretendia derrotar a heresia, esse herético altamente conectado -e outros como ele- teria de ser barrado. Em 1293 Guilherme estava em fuga pelo que hoje é a Eslovênia. Os inquisidores enviaram um espião para descobrir onde ele se escondia e depois reuniram uma força-tarefa de frades franciscanos treinados na caça a heréticos para capturá-lo. De acordo com registros de despesas da Inquisição mantidos no Vaticano, a operação toda teria custado, em valores de hoje, de 25 mil a 30 mil libras esterlinas [aproximadamente R$ 120 mil a R$ 140 mil]. Foi dinheiro bem empregado: ?Não é preciso uma quantidade enorme desses personagens bem relacionados para causar uma quantidade enorme de confusão, e a Inquisição havia entendido isso?, diz Roach.

Ciência aplicada

Com efeito, essa compreensão até então irrealizada da natureza das redes heréticas resolve algumas coisas que os historiadores até então não haviam sido capazes de atinar. ?Explica por que, por exemplo, quando a heresia já se encontrava mais ou menos morta no final do século 13, e só meia dúzia de heréticos estavam em ação, todo mundo ainda estava em tamanho frenesi por causa dela?, afirma Roach. Naquela altura, as autoridades católicas já sabiam que, enquanto o tipo certo de pessoa ainda se encontrasse ativo, a heresia poderia se restabelecer a qualquer momento.

Roach diz acreditar que não é acidente que a Inquisição tenha adotado os mesmos métodos que agora são aplicados para lidar com as redes sem escala: os inquisidores envolvidos eram conhecidos como pessoas que pensavam cientificamente, afirma. ?Eram principalmente frades dominicanos, uma das ordens mais cultas. Acredito que algum tipo de processo científico estava sendo empregado.?

A idéia de que as redes de heresia não tinham escala é ?muito plausível?, segundo Gene Stanley, da Boston University, um dos pioneiros da teoria das redes sem escala. A noção de que documentos históricos possam revelar fenômenos sem escala velhos de séculos é uma surpresa bem-vinda, afirma. O trabalho de Ormerod e Roach acrescenta densidade a suas próprias noções de que todas as redes sociais são sem escala. ?Esse é um trabalho fantasticamente original?, diz Stanley. ?Assim que você começa a pensar nele, torna-se óbvio, mas isso não quer dizer que não seja importante.?

É claro que as aplicações modernas da teoria das redes sem escala, tal como o controle de doenças, são mais palatáveis que os propósitos dos inquisidores. Assim é que Ormerod e Roach podem ter trazido mais uma surpresa agradável: talvez seja um sinal do progresso da humanidade que nossa compreensão das redes sem escala hoje esteja salvando vidas, não acabando com elas. Quase dá para chamar de Iluminismo.”