NEO TV vs. GLOBO
"TVs a cabo querem restrição à Globo", copyright Folha de São Paulo, 30/08/01
"Quarenta e seis empresas de TV a cabo entraram em guerra com as Organizações Globo para tentar forçar mudança na política de exclusividade de comercialização dos canais pagos. A Associação Neo TV -representante das empresas que não fazem parte do sistema Net, ligado à Globo- anunciou que levará ao Congresso Nacional a discussão sobre a necessidade de limitar a propriedade dos meios de comunicação no país.
É a primeira vez que a Neo TV fala publicamente sobre a disputa com a Globo. No início de maio, a entidade entrou com processo na SDE (Secretaria do Direito Econômico, do Ministério da Justiça) pedindo a investigação de suposto abuso de poder econômico por parte das Organizações Globo.
A associação diz que as empresas de TV por assinatura independentes concorrem em condição desigual com as afiliadas Net, porque não têm acesso ao canal SporTV, que concentra os direitos de transmissão dos eventos esportivos importantes, como os campeonatos estaduais, regionais e nacionais de futebol. O SporTV é produzido pela Globosat, que faz parte das Organizações Globo.
?Não temos acesso a uma matéria-prima essencial para competir com as afiliadas Net, que é a programação esportiva?, afirma o diretor-geral da Neo TV, Boaventura dos Santos Antônio Filho. Segundo ele, a Globosat recusa-se a fornecer o canal SporTV às concorrentes da Net, alegando que também tem contratos de exclusividade a cumprir com a Net Brasil e com a Globo Cabo, que também integram as Organizações Globo.
Para Boaventura Santos, o modelo de competição vigente no mercado de TV por assinatura no Brasil precisa ser revisto pelo governo. Ele diz que as associadas da Neo TV têm concessões em 124 municípios, onde vivem 17,37 milhões de habitantes. Essa população, afirma, está privada de ver os principais eventos esportivos.
A Neo TV entrou com queixa na SDE alegando que a Globo usa seu poderio na rede de televisão aberta para dominar também o mercado de TV paga, onde já tem 63% dos assinantes. Segundo Boaventura, as empresas independentes concorrem com cinco empresas das Organizações Globo: TV Globo, Globosat, Globo Cabo, Net Brasil e Net Sat.
?Os direitos de exclusividade de transmissão dos campeonatos de futebol são negociados pela TV Globo. Como ela tem 75% da receita publicitária do mercado de TV aberta, pode pagar preços muito altos pela exclusividade de transmissão dos campeonatos?, afirma Boaventura. ?A Globosat, sem a TV Globo por trás, não teria condição de comprar todos os direitos dos campeonatos. Por isso, a competição é desleal.?
A Neo TV defende a adoção do modelo de competição norte-americano no Brasil. A FCC (Federal Communications Commission), órgão regulador dos EUA, exige que todos os canais sejam oferecidos a todas as empresas de distribuição de TV paga, em igualdade de condição de preço.
A legislação norte-americana também impede que um mesmo grupo seja proprietário de TV aberta e de TV por assinatura na mesma localidade. Além disso, as concessões de TV aberta em poder de um mesmo grupo podem cobrir no máximo 35% do mercado (medido em lares com aparelho de TV). O mesmo percentual vale para o mercado de TV paga."
"Neo TV tenta confundir temas, afirma Globosat", copyright Folha de São Paulo, 30/08/01
"O diretor da Globosat, Alberto Pecegueiro, diz que a Neo TV está sendo ?oportunista?, ao associar a discussão da exclusividade na programação de TV por assinatura com a da propriedade dos meios de comunicação. ?Estão mirando o remédio errado. O problema não está na propriedade cruzada dos meios de comunicação?, afirma Pecegueiro.
Segundo o diretor, se fosse proibida a propriedade cruzada de meios de comunicação no país -se a Globo fosse impedida de ter TV aberta, TV paga, rádios e jornais no mesmo local-, ainda assim a Neo TV não teria dinheiro para comprar os direitos esportivos, porque lhe falta escala (volume de assinantes). ?O preço da exclusividade subiu a níveis estratosféricos?, prosseguiu.
Em relação aos canais exclusivos, o executivo afirma que quem começou tal política no país, no início dos anos 90, foi a TVA (empresa do grupo Abril, associada da Neo TV), que chegou à liderança do mercado com a exclusividade de distribuição de HBO e ESPN.
?A exclusividade da Globosat veio em resposta a eles. Como a gente virou o jogo e passou a liderar o mercado, eles agora querem mudar de política.?"
AS FILHAS DA MÃE
"Novelas com grife", copyright Jornal do Brasil, 29/08/01
"A TV Globo estreou anteontem As filhas da mãe, novela das 19h com grife de Silvio de Abreu. Conseguiu 39 pontos de audiência, ficando acima da média do horário, algo em torno de 34. No mesmo dia, o SBT estreou Pícara sonhadora, novela das 20h com grife de adaptação de trama mexicana da emissora Televisa, potência na produção do gênero. Conseguiu 18 pontos de audiência, mesma média do dramalhão legítimo Café com aroma de mulher. Guardadas as proporções e expectativas, a Globo fez o que se esperava dela e o SBT idem. Nada além. Nada a mais.
Silvio de Abreu optou pela comédia leve – consagrada como regra para a faixa das 19h – sustentada por atores do primeiro time da emissora (Francisco Cuoco, Fernanda Montenegro, Tony Ramos, Regina Casé, só para citar os que tiveram mais destaque no primeiro capítulo). Em vez do pastelão, seguiu o caminho clean. As filhas da mãe tem abertura de marionete, incursões pela internet, rap para contar partes da história, figurinos que beiram o fashion e trilha sonora cult.
Linguagem – Para mudar a trama de país, a cena de As filhas da mãe é rasgada como se fosse página de história em quadrinho. Para ir e voltar no tempo ou amarrar situações, a linguagem lembra cinema. Às vezes alternativo. Aquele que corta um quadro aqui e emenda com um diálogo ali, sempre com algum gancho ou referência. Às vezes mais tradicional. Aquele que muda a plasticidade da imagem, com o passado em textura diferente.
As filhas da mãe quer ser moderninha. Foi pensada para isso. Foi caprichada para isso. E, nesse capricho, peca pelo excesso. O rap cantando o perfil dos personagens a cada cena cansa na terceira ladainha, quando o telespectador não sabe se presta mais atenção no que está sendo falado ou visto. O recurso de usar a câmera para o personagem falar com o telespectador aproxima e diminui a informalidade, fica sem propósito. Sobra até. Funciona melhor no pastelão. E As filhas da mãe não é pastelão. Também tem drama.
Nada que se compare ao uso que Pícara sonhadora faz desse elemento da dramaturgia. Lá, o drama está em cada música que embala cada cena. Na tarefa de abrasileirar a trama mexicana, o SBT não esqueceu de nada. Nem a mecha loura no cabelo da matriarca da família Rocfield, proprietária da loja de departamentos Soles – perfeição de nomes, aliás -, ficou de fora. Muito menos a bondade excessiva da mocinha.
Drama – A tal pícara mora em uma loja de departamentos, trabalha de dia para estudar de noite, fica apaixonada pelo mocinho-playboy-rico – que até o fim vai virar mocinho-redimido-rico por causa dela – e transgressoramente usa as coisas da loja, mas anota tudo em um caderninho para pagar quando ficar rica. Ela é pícara – astuta, esperta -, mas é sonhadora.
Tudo bem tradicional. Até porque, tudo que o SBT não quer é uma novela moderninha. Em Pícara sonhadora, quando a trama muda de lugar, o nome da cidade aparece em letras prateadas. Quando há passagem de tempo, o flashback é no convencional preto-e-branco esfumaçado.
?Você troca de cama como quem troca de sonhos?, diz mexicanamente o tio para a pícara, depois que ela muda mais uma vez a cama em que dorme no setor de móveis. O principal problema da primeira novela méxico-brasileira do SBT se dá quando os atores – outro problema da trama, franco contraste com o primeiro time que se exibe às 19h na Globo – abrem a boca. O texto soa absurdo. Como uma novela mexicana traduzida."