ENSINO SUPERIOR
Antônio Anacleto (*)
Já que é moda a defesa do ensino superior, apresento aqui a humilde sugestão para o aperfeiçoamento de uma profissão à beira da extinção, ocaso provocado em grande parte pela ausência do diploma. Trata-se dos carroceiros. O pessoal com menos de 30 talvez não tenha a menor idéia, mas são aqueles homens montados em caixas de madeira impulsionados por cavalos. Duas rodas, um cavalo na frente e um homem guiando o veículo com arreios e um relho. Também não lembro direito. Mas vamos à argumentação.
A criação do curso de Carroceiro Civil (bacharelado e licenciatura) seria de vital importância para o enobrecimento dessa profissão tão vilipendiada. Em primeiro lugar, seria possível a aplicação de um Código de Ética para delimitar a atuação dos futuros profissionais. A utilização do relho, por exemplo, só seria permitida em situações de emergência, por exemplo, se o cavalo parar em cruzamento quando um ônibus articulado vem em direção oposta. Ou no instante em que a cavalo sai em disparada atrás de uma égua no cio. Açoitar o animal para apressar a entrega da mercadoria ou mesmo chicotar crianças que insistem em apedrejar o bicho mereceria, inicialmente, advertência e multa, dependendo da gravidade. O registro seria cassado em caso de reincidência.
O currículo de quatro anos possibilitaria ao futuro carroceiro uma gama variada de disciplinas, constituída dos conhecimentos somados durante séculos na atividade carroceira. Em Tração Animal Comparada, o estudante poderia discernir sobre o rendimento de diferentes raças de animais. Uma corrente nova, nascida em universidades indianas, abordaria as vantagens da utilização do elefante. Já em Estruturas de Madeiras I, II e III seria possível o conhecimento sobre a composição e a distribuição das tábuas usadas na construção de uma carroça.
Bagagem esquecida
Além, é claro, de Sinais Viários, na qual as descobertas da neurolingüistica seriam aplicadas por sinais com os braços. Para demonstrar a boa vontade, uma sugestão de monografia: "As Implicações do Amadorismo no Carroceirismo Moderno, o Mito de Faetonte." Para quem não sabe, Faetonte arrumou uma confusão dos diabos, na Grécia Antiga, ao pegar o Carro do Sol (um carroção estilizado) do pai Apolo. Por não saber guiá-lo, inverteu o dia com a noite, incendiou plantações e secou mares. Foi por causa dele que os africanos ficaram negros.
A criação de faculdades também poderia arrumar colocação para aqueles profissionais indignados com a opressão do mercado. Seria uma maneira de exporem os ideais antigos do carroceirismo, hoje tão esquecidos. Imagine que hoje homens puxam as carroças. Falta de dinheiro para manter o cavalo? Que nada. Busca incessante pela maximização dos lucros, menosprezando o mais elementar conceito de humanidade. A regulamentação da profissão também seria uma maneira de estipular cotas de atuação dos carroceiros, eliminando em parte a utilização de caminhões, esses monstros criados pelo empresariado insensível, obcecado por uma modernidade dilacerante e desumana. Bom, pessoal, é apenas uma sugestão.
O texto acima é de um amigo, mas reflete bem o que penso sobre os argumentos dos sindicatos que querem, como ficou claro, excluir da profissão aqueles que não têm o diploma “em jornalismo”, esquecendo toda a bagagem que estas pessoas possam ter, ou mesmo os anos de atividade na profissão.
Artifício para manobrar a massa
No texto "Em defesa do diploma" do sindicato catarinense (acho até que precisamos organizar um sindicato para nos defender de nosso sindicato), nossos representantes afirmam que só nas faculdades de Jornalismo o indivíduo obtém conteúdos filosóficos e éticos. Se isto é verdade, então encontramos a formula para melhorar o Brasil. Só vamos eleger quem cursar Jornalismo, já que só eles aprenderam a pensar e sabem a diferença entre o certo e o errado.
Também é bom deixar claras algumas questões. A decisão da juíza Rister não foi de graça, mas para reparar uma injustiça que deve se repetir em todo o Brasil, na medida em que as Delegacias Regionais do Trabalho fizerem o jogo dos sindicatos, excluindo de seu local de trabalho quem lá está por cinco, 10 ou mais anos.
Ninguém, por outro lado, está questionando que o melhor caminho para quem deseja ser jornalista é a faculdade. Misturar os temas é um artifício para criar uma massa de manobra. Quem participou da grande mobilização nacional promovida pelos sindicatos? Jornalistas ou estudantes, temerosos com o que lhes foi dito nas salas de aula pelos “colegas” sindicalistas, os mesmos que os impede de fazer um estágio, básico em qualquer profissão?
(*) Joinville, SC