Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Empresas investem nas escolas de Jornalismo

FORMAÇÃO NOS EUA

Iluska Coutinho (*)

Tecnologia, consumo, diversidade, dinheiro, poder, mercado são palavras normalmente associadas aos Estados Unidos. No que se refere ao jornalismo poderíamos buscar outros termos recorrentes em nossos discursos ou mesmo em nossas práticas a partir da "importação" de conceitos como objetividade, lead, imparcialidade. No que se refere à formação de jornalistas, contudo, há uma característica que, se é conhecida, não tem merecido o devido destaque sobretudo de nossas instituições privadas: o financiamento e as doações de recursos a projetos de pesquisa e mesmo ao ensino superior, incluindo as faculdades particulares como destinatárias dos repasses.

Uma das instituições pioneiras na formação de repórteres e editores, a Escola de Jornalismo da Columbia University tem uma longa história de parceria e financiamentos. Na verdade, sua criação, em 1912, foi viabilizada com uma doação feita por um conhecido personagem na história da imprensa mundial, Joseph Pulitzer. Hoje, além de contar com programas de capacitação totalmente financiados pela iniciativa privada, como o Knight-Bagehot (especialização de jornalistas em Economia e Negócios), a instituição tem nove professores cuja contratação é financiada por empresas e fundações.

Além da prática da doação a centros de pesquisa, mais conhecida, muitas empresas americanas também possuem e investem em "cadeiras" na composição do corpo docente de instituições reconhecidas, como a Escola de Jornalismo da Columbia. Assim, para ter um professor emérito, identificado com seu nome e/ou imagem, a empresa precisa fazer uma doação inicial à faculdade, que normalmente gira em torno de 1 milhão de dólares, e também contribuir para uma espécie de "suplementação salarial" do docente.

Relações mais próximas

Entre os professores dedicação exclusiva, ou horário integral, da Escola de Jornalismo da Columbia University, há cinco cadeiras financiadas pela iniciativa privada. Seus ocupantes normalmente são profissionais e/ou pesquisadores de grande destaque e currículo. Além das atividades de ensino, esses docentes também coordenam outros projetos prioritários para a instituição, como o doutorado em Comunicação, o "Center for Maganize Journalism" e a administração do prêmio Pulitzer.

Se na história americana esse tipo de doação ou parceria costuma ser viabilizado por fundações que são criadas e mantidas por instituições da iniciativa privada, as próprias empresas de comunicação, diretamente, também contribuem, repassam recursos, às faculdades e universidades. É o caso de uma das três redes de televisão dos Estados Unidos. Entre os docentes full time da Columbia University está o Ph.D. James Carey, CBS Professor of International Journalism. Apesar do título, é com a faculdade a relação de trabalho do professor, também coordenador do doutorado em Comunicação.

Para as empresas de comunicação que fazem doações e financiamentos, além do retorno institucional há também o estabelecimento de relações mais próximas, e efetivas, no processo de formação de seus futuros profissionais, incluindo o "internship", espécie de estágio que pode, depois de análise, ser convertido em crédito, como disciplina cursada. Assim, a formação profissional nos Estados Unidos, apesar da não-exigência do diploma para trabalhar como jornalista, ocorre fundamentalmente nas universidades, nas escolas de Jornalismo.

(*) Jornalista, mestre em Comunicação (UnB), doutoranda da Umesp e professora da Faesa/ES, atualmente é pesquisadora associada da Columbia University, com bolsa sanduíche Capes