SUDÃO
Num texto em primeira pessoa, o jornalista Nat Hentoff [Editor & Publisher, 4/6/02] critica grandes jornais por estarem prestando desserviço ao publicar que o movimento americano de comprar escravos no Sudão para libertá-los estaria sendo alvo de golpe, por parte de africanos que fingem ser cativos para que ganhar dinheiro. Ele destaca que há cinco anos investiga o assunto. Já entrevistou nos EUA escravos libertados, leu relatórios de padres sudaneses e conversou com jornalistas e políticos americanos que presenciaram as libertações, financiadas pelo dinheiro coletado por crianças de escolas americanas.
Em abril, Nicholas Kristof escreveu no New York Times que “infelizmente há evidências de que boa parte das libertações seja resultado de fraude”, sem mais detalhes. Para Hentoff, isso é exemplo de reportagem irresponsável. Ele acrescenta que o jornal se recusou a publicar cartas desafiando a acusação de Kristof.
No Washington Post apareceu menção semelhante na primeira página. O correspondente no Quênia, Karl Vick, afirmou que “em alguns casos os escravos são pessoas que fingem estar em cativeiro”, enganando os libertadores, que não entendem sua língua. Hentoff cita John Eibner, da Christian Solidarity International, que organiza a compra de escravos ?, que diz que Vick não presenciou nenhuma libertação e falhou em localizar sequer um falso escravo entre os mais de 60 mil que os americanos compraram. O jornal negou espaço para a CSI defender seu ponto de vista.
Tony Norman, do Pittsburgh Post-Gazette, levou a matéria do Washington Post a sério e escreveu coluna em 16/3 que concluía que “o comércio de escravos sudaneses é um exemplo de como o cinismo distorce até missões piedosas”. Contudo, um mês e meio depois, o jornalista fez outro texto, após entrevistar testemunha das transações, e mudou radicalmente de opinião. “Se há uma coluna sobre a qual desejaria me retratar é aquela”, diz.
Hentoff conclui sua crítica com um pensamento sobre o jornalismo: “Todos deste ramo deveríamos ter em mente a questão de quem nos observa a nós, observadores.”
JORNAIS MÉDICOS
Um dos mais respeitados jornais médicos do mundo, o Journal of American Medical Association (Jama) compilou uma série de artigos mostrando que muitas publicações do ramo não revelam de forma adequada os conflitos de interesses que envolvem as pesquisas divulgadas em suas páginas. A edição, inteiramente dedicada ao assunto, "é nossa tentativa de nos policiar, de nos questionar e procurar maneiras melhores de assegurar de que somos honestos, sinceros e mantemos a integridade dos jornais", escreveu a editora, Dra. Catherine DeAngelis.
Segundo os artigos, os problemas começam com os releases que alguns jornais preparam, que não costumam mencionar as limitações das pesquisas ou o financiamento de empresas, e por vezes exageram a importância das descobertas. Para DeAngelis, é mais provável que isto ocorra em estudos pagos pela indústria farmacêutica porque esta tem interesse em lucrar com a venda do produto.
Matéria do Jama revela que as descrições de novos tratamentos nestes jornais freqüentemente usam apenas as estatísticas mais favoráveis para relatar os resultados. Seu autor, Dr. Jim Nuovo da Universidade da Califórnia, analisou 359 estudos publicados entre 1989 e 1998 nos grandes veículos médicos, e descobriu que apenas 26 deles informavam as estatísticas que avaliavam claramente o efeito sobre os pacientes.
Já o estudo assinado pelos pesquisadores Steven Woloshin e Lisa Schwartz revela que, dos 127 releases examinados, apenas 23% apontavam as limitações da pesquisa e 22% reconheciam o financiamento de companhias farmacêuticas. Os autores lembram que os releases são um instrumento importante de divulgação da ciência na imprensa, ainda mal aproveitado. "O público e muitos médicos freqüentemente se informam sobre pesquisa médica através da mídia noticiosa, em vez de jornais médicos. Achamos que estes podem e deveriam se esforçar mais para melhorar a qualidade da reportagem médica", sugerem. Informações da BBC News (4/6/02) e AP (5/6).
PLAYBOY
A um ano de seu jubileu de ouro, a Playboy americana vai leiloar relíquias de sua redação no sítio eBay, no dia 23/6. Na página da revista na rede, já havia um lugar reservado a esse tipo de comércio. Mas é a primeira vez que o baú do tesouro da publicação vai ser aberto aos 46 milhões de usuários cadastrados no eBay.
Agora, os colecionadores que pagam centenas de dólares por uma primeira edição com Marilyn Monroe na capa ou alguns trocados por um cinzeiro do Playboy Club, rede de bares muito popular entre 1960 e 1991, poderão adquirir, por exemplo, ilustrações e fotografias originais dos arquivos da revista, que teve em sua equipe artistas como Andy Warhol, Alberto Vargas, Roger Brown, Ed Paschke, Leroy Neiman e Edward Gorey. Uma aquarela original de uma pin-up de Vargas, por exemplo, deve ser vendida, segundo os leiloeiros, por até US$ 50 mil. Em 1969, Warhol pintou sete figuras para o artigo “O que é um Warhol?”. Cada imagem dessas deve sair por até US$ 15 mil.
Entre as fotografias também há preciosidades. Algumas, de personalidades como Beatles, Muhammad Ali, Frank Sinatra ou Bob Dylan, nunca foram exibidas, e podem chegar a US$ 2.500. Uma roupa de “coelhinha”, original de 1967, tem preço estimado entre US$ 7 mil e US$ 9 mil. As garotas que as usavam para trabalhar nos Playboy Clubs eram proibidas de levar a fantasia para casa.
De acordo com o presidente da Playboy Online, Lawrence Lux, a revista está freqüentemente na lista dos artigos mais procurados no mecanismo de busca do Ebay. A Reuters [5/6/02] informa que o sítio de leilões exibe diariamente de 6 mil a 7 mil itens relacionados à publicação.