VILA SÉSAMO
No embalo do acordo de paz de Oslo, em 1993, o programa infantil Vila Sésamo ganhou versão produzida em conjunto por israelenses e palestinos para difundir mensagens de convivência pacífica. Os bonecos viviam histórias que mostravam que, apesar das diferenças, os dois povos poderiam ser amigos. Contudo, com a nova Intifada iniciada em setembro de 2000, que vem resultando em diversos atentados terroristas e violentas invasões militares, a produção do programa, que agora é composta também por jordanianos, tem de se render ao clima de intolerância. Já não é mais possível contar histórias de uma vila onde israelenses, palestinos e jordanianos convivem porque um lugar assim é inverossímil para os telespectadores.
Deste modo, o novo projeto, que passa a se chamar Histórias de Sésamo, ainda que com o clássico formato educativo mostra histórias separadas de etnias distintas criadas por equipes que não trabalham juntas. Isso acontece em parte porque, depois dos atentados de 11 de setembro, os produtores já não se sentem à vontade para viajar e fazer reuniões. A comunicação se dá por telefone, e-mail e em esporádicas reuniões nos Estados Unidos e na Inglaterra. Ao todo, o projeto, de 26 programas de cada um dos três parceiros, consumirá US$ 7 milhões. No entanto, não se sabe quando irão ao ar. Os produtores israelenses querem que sejam exibidos assim que finalizados, mas os palestinos acham inútil exibi-los antes que um acordo de paz seja assinado e a onda de ódio diminua. As partes, contudo, têm convivência tranqüila. Como conta Julie Salamon [The New York Times, 29/7/02], em reunião na Oficina Sésamo, em Nova York, os produtores riam uns das piadas dos outros.
Mas algumas divergências curiosas ? para não dizer tristes ? apareceram. No episódio A rosa, criada pelos palestinos, uma menina encontra uma lata no campo de refugiados em que vive, e resolve plantar nela uma flor. Apesar de comentários pessimistas que advertem de que em campos de refugiados nada cresce, ela rega e cuida da plantinha, incentivando outras pessoas a fazerem o mesmo. Na reunião nos EUA, os israelenses discordaram da idéia, explicando que as crianças judias são orientadas a não pegarem nada na rua porque pode se tratar de uma bomba. No fim, ficou definido que a lata seria trocada por uma garrafa de água transparente e visivelmente inofensiva.
ANTI-SEMITISMO
Ibrahim Nafie, editor-chefe do Al Ahram, um dos principais jornais do Egito, foi intimado a responder à Justiça francesa sobre artigo anti-semita de cerca de dois anos atrás. O texto, escrito como se fosse um mito, contava que os judeus usam sangue de cristãos em seus rituais religiosos. Ele foi publicado no sítio do diário egípcio e removido em seguida, mas investigadores coletaram 1.100 cópias do jornal que haviam sido distribuídas na França. A lei no país europeu proíbe "incitação à animosidade e violência anti-semita".
Nafie, que chegou ao cargo por indicação do governo do Egito, defendeu-se com artigo de página inteira na versão em árabe do Al Ahram ? em que descreveu o mito anti-semita com detalhes ? e texto mais curto na edição em inglês, evitando aprofundar-se. Disse que o texto de outubro de 2000 se baseava em relatos do século 19 sobre um rabino na Síria que teria matado um padre e usado seu sangue para fazer torta.
Como reporta a AP [1/8/02], jornais egípcios e de outros países islâmicos, nos quais, em grande parte, a imprensa é controlada pelo governo, têm sido acusados de ultrapassar os limites das críticas às políticas de Israel para atacar o povo judeu. Neste ano, o diário saudita Al Riyadh descreveu os israelitas como vampiros que assam biscoitos feitos de sangue de não-judeus e afirmou que a Torá (livro sagrado dos judeus) manda que se coma certos tipos de alimentos misturados com sangue humano para demonstrar júbilo.
Times tortuoso
Dedicada ao estudo dos direitos humanos e da legislação internacional, a professora Anne Bayefsky teve um artigo aceito para publicação no New York Times em 8 de maio. Mas o texto publicado duas semanas depois estava tão radicalmente alterado que ela resolveu denunciar publicamente as exigências do jornal.
A versão original acusava ONU, Human Rights Watch e Anistia Internacional de eleger Israel como bode expiatório, fazendo vistas grossas a violações de direitos humanos em outros países que fazem parte das Nações Unidas, como China, Cuba e Arábia Saudita. Mas estas passagens tiveram que ser retiradas do texto, como condição para publicação. Foram necessários vários novos rascunhos e seis horas de edição por telefone até que o artigo fosse considerado adequada.
Para Andrea Levin [The Jerusalem Post, 29/7/02], a intervenção agressiva do Times para proteger tais grupos das críticas de uma especialista no assunto não é novidade. O que surpreende, afirma, "é a exposição detalhada dos recursos tortuosos a que o jornal tem que recorrer para manter sua tendenciosidade".