Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

À espera do conflito

IRAQUE

A imprensa americana se prepara ansiosa para a iminente invasão do Iraque pelos EUA. Pelo tom do articulista Howard Mortman em coluna de 27/11/02 no MSNBC.com, ele considera o conflito inevitável. Seu texto analisa os fatores que devem influenciar o trabalho da mídia nesta guerra, que promete ser bem diferente de 1991.

Um preocupação central de Mortman é qual dos países envolvidos será mais censor. Os iraquianos possivelmente estarão ocupados demais tentando salvar suas peles para se preocupar com o que jornalistas estrangeiros publicam. Assim, com o videofone será possível mostrar virtualmente tudo em tempo real. Se Saddam Hussein for deposto, antigos integrantes do governo podem fazer revelações. Contudo, dificilmente se saberá todos detalhes do que aconteceu do lado americano.

Incidentes envolvendo civis iraquianos também não devem ter uma cobertura completa. Para Mortman, os jornalistas europeus ? que ele inclusive enxerga como mais preparados para cobertura de conflitos, por atuarem há tempos nas guerras civis da África, por exemplo ? ficarão encarregados de mostrar a violência contra civis. Surpreendentemente, o colunista americano lamenta que os EUA não tenham logrado arrastar a Europa para a guerra porque sua imprensa deve atrapalhar acompanhando de perto as ações militares com olhar crítico.

Outra diferença na cobertura, com relação a 1991, deve ser a menor visibilidade da guerra. Especialistas prevêem que o conflito, ao menos no começo, deverá ser feita por tropas especiais de terra, como as que atuaram no Afeganistão e das quais quase nada se viu nos meios de comunicação.

Enquanto isso…

A mídia iraquiana também se prepara para a guerra. Uma campanha contra americanos, britânicos e judeus ocupa espaço maior que o normal nos meios de comunicação, todos controlados pelo governo. O presidente dos EUA, George W. Bush, é identificado como "o pequeno George Bush" e a Grã-Bretanha é comumente citada como "o rabo balançante" dos Estados Unidos.

Saddam Hussein é primeira página de todos os jornais diariamente. Quando ele não faz absolutamente nada que possa ser noticiado, são utilizadas fotos de arquivo que o mostram em momentos de glória. A importância que ganham certas pautas em geral é muito distinta do mundo ocidental. A visita de inspetores de armas da ONU ao Iraque, por exemplo, quase não apareceu. No entanto, acontecimentos de pouco destaque no mundo, como um protesto contra a invasão do Iraque que juntou 200 pessoas em New Bedford, no estado americano de Massachussets, virou matéria do diário Al-Jumhuriya. Assuntos que normalmente têm muito espaço são o conflito na Palestina e incidentes envolvendo americanos no Afeganistão. Bassem Mroue, da AP [2/12/02], reporta que as ações terroristas contra um hotel e um avião no Quênia, matando diversos turistas judeus, tiveram muita repercussão na imprensa iraquiana.

Segundo os Repórteres Sem Fronteiras [29/11/02], a atuação da imprensa internacional que acompanhava os inspetores de armas da ONU foi dificultada pelo governo do Iraque, que tentava manipular grosseiramente o que as câmeras registravam. Em Bagdá, por exemplo, dois jornalistas franceses foram proibidos até de filmar sujeira nas ruas da cidade porque isso "não seria bom para a imagem do governo".