] comenta o editorial de 15/10/2000 do jornal ("Marta x Maluf", que de apartidário não tem nada) e o analisa à luz de episódio semelhante, ocorrido dois anos atrás, quando esse tal apartidarismo foi posto em definitivo xeque – como se o adjetivo aqui não devesse ser dispensável. Na ocasião, o colunista, ex-ministro e parlamentar Roberto Campos (PPB) elogiou Paulo Maluf antes das eleições para governadores, em 1998, e foi publicado na Folha. Na mesma época, Alberto Dines opinou contra Maluf em coluna semanal que mantinha na mesma Folha e foi censurado. No ano seguinte, demitido.
Nas eleições municipais ora em curso, se um dia encheu a bola do PT o jornal tem que dar uma traulitada, no outro. É a regra. Na edição de 19/10/2000 está lá manchetado, no alto da primeira página: "Petistas têm queda em 3 capitais". Alívio conservador… Então vamos à matéria propriamente dita, à página A 10, e o título informa, em duas linhas: "Nova pesquisa mostra retrocesso de candidatos de esquerda em 2 capitais". Não eram 3? Ou temos um candidato petista de direita, convertido da noite para o dia, ou o jornal traduz a realidade de um jeito muuuito esotérico.
Deixe-se de lado, nessa mesma edição, a foto extemporânea, em duas colunas, do deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), estampada à pág. A 6 e sem nenhuma função editorial reconhecida. Foi um erro, devido, evidentemente, a um desses "abre e fecha" de página para incluir informações de última hora – como se o jornal fosse capaz de competir com os meios eletrônicos. Deixe-se quieto: é muito provável que a tal foto tenha sido substituída em outra rodagem por uma imagem da governadora do Maranhão, sobre a qual o título ao lado informava que "Nódulo tirado de Roseana [Sarney] é benigno".
Mas não se pode relevar a trepidação inútil e absolutamente desinformativa a que foi submetido, na mesmíssima edição de 19/10, o assunto merecedor da segunda chamada de capa em ordem de importância. "Bolsas caem em dia de incertezas", informava, acima da dobra, título de primeira. O texto que remete à matéria do miolo (a principal do caderno Dinheiro) é ponderado e versa sobre mais um dos aperiódicos soluços das bolsas de valores globais. Em 12 centímetros de coluna fala seis vezes em "queda" e "baixa", além de uma vez em "grande instabilidade". Mas fica por aí.
Já o título de abertura do caderno Dinheiro (pág. B 1) usa e abusa do estrépito, do estrondo, do fragor. Vamos esquentar, gente! "Lucros desabam, e Bolsas entram em pânico". Assim mesmo, com vírgula. Desabam… pânico… Se pelo menos não fossem termos tão desgastados pelo uso abusivo.
Os 12 centímetros de texto à direita da página, com entrelinha aberta embora espremidos por um anúncio imobiliário, referiam-se novamete a "pânico"; informavam que foram "os pregões mais nervosos desde as crises asiática (97) e russa (98)"; cravaram que o índice Dow Jones "mergulhou" e as Bolsas "desabaram", mas que "durante o dia o susto passou". Passou? Alívio! Ainda assim, a Bolsa de São Paulo "desabou" e o dólar "disparou".
Para quê? Para explicar que, concomitante a uma crise no Oriente Médio com reflexos nos preços do petróleo, grandes corporações americanas anunciaram lucros (repita-se: lucros) ligeiramente menores do que o anteriormente previsto. Lá dentro, à pág. B 5 do Dinheiro, o título principal alardeia que "Wall Street despenca, assusta e se recupera". Recupera-se? Ah, bom…
Ler jornais virou um esporte radical.
Circo da Notícia – texto anterior