TELEJORNALISMO
Marco Branco (*)
Até que ponto certas imagens são justificáveis na televisão? Recebi hoje, o correio eletrônico de um colega de Minas Gerais que revoltado comentava a falta de critérios da afiliada do SBT, TV Alterosa, que exibiu, segundo ele, no dia 7/2, a cena de suicídio de um rapaz, que deu um tiro na cabeça.
Segundo o colega, a cena foi chocante e passou num horário de fácil acesso ao público infantil. Aonde vamos parar? Parece que conseguimos ser piores do que já fomos e desaprendemos com o tempo. Afinal, a máxima estudada e comprovada diz que a exibição pura e simples de matérias e/ou imagens sobre suicídios estimula os propensos a tal ato.
Na Record, há cerca de um mês, o então apresentador do Cidade Alerta, José Luiz Datena, passou um programa todo mostrando um senhor tentando jogar-se de um edifício e a tentativa desesperada do corpo de bombeiros em resgatá-lo. O apresentador ainda tentava disfarçar a sua atitude condenável, mostrando imagens congeladas e conversando com o comandante da corporação que afirmava ser importante a manutenção do helicóptero da Record na área, porque, afinal de contas, o que o suicida queria era o "holofote".
Ainda no Cidade Alerta, na semana de Carnaval, um ex-juiz de futebol, Oscar Roberto de Godoy, introduziu no programa agora (e não se sabe até quando) apresentado por ele, o bordão "Pau Nele, Pau Nele", usado como sugestão veemente do apresentador para a polícia ao prender algum suposto autor de crimes. O ônus da inocência foi para o espaço. Gostaria de saber se fosse um político, ou empresário, ou ainda, numa dessas armadilhas do destino, um amiguinho do Godoy, se ele receberia o mesmo tratamento do suposto apresentador.
Ratinho está tendo seguidores… A diferença é que o programa dele é assumidamente caricato e banaliza situações reais, tentando e extraindo daí uma forte dose de humor grotesco e negro, que ri às custas da miséria de outrem. A audiência ri da própria condição de abandono e desmoronamento das instituições sociais. Não resta outra alternativa a não ser gargalhar de alguém que poderia ser qualquer um. Com exames de DNA e exibição escancarada , vez ou outra, de imagens insólitas, Ratinho virou pop e faz escola.
Contudo, quando tal comportamento extrapola as fronteiras dos programas de auditório e de crônica social do país, atingindo as redações jornalísticas ditas sérias, a situação muda de figura. A informação banaliza-se e de nada adianta o repórter eticamente dizer Fulano de tal, "o suposto criminoso", para na seqüência um apresentador fazer apologia à violência. Violência gera caos. E de caos, estamos cheios. Que o digam as Rosinhas perdidas e os Garotinhos tontos nas esquinas Silveirinhas da vida.
O senador Pedro Simon acaba de proferir um belo discurso sobre a importância de a mídia virar definitivamente uma aliada da sociedade em busca de uma reinvenção de valores. Nós, por outro lado respondemos super expondo figuras extremamente perigosas como Fernandinho "Além-Mar", que ganha status de bacana entre os seus comandados e assume o papel de um Al Capone moderno, um James Bond ao contrário, tecnologicamente à frente da polícia e dos sistemas de segurança.
E assim caminha a desumanidade da imprensa de todos nós. Imprensando os colegas em redações cada vez mais esvaziadas, cada um trabalhando por quatro, comprando tudo que as assessorias de imprensa mandam, para ganhar tempo e esquecendo de apurar as fontes. É meus amigos, ética para que e para quem? Não há tempo. Estamos em apuros.
(*) Jornalista e tradutor; e-mail <marcojornalista@hotmail.com>