CASO TIM LOPES
Alberto Dines
A primeira reação foi de dor e consternação. O manifesto dos jornalistas cariocas "Por que Tim estava lá?" foi exemplar ? tocante e motivador. Em seguida, os inevitáveis desvios da teorização e da exploração política do luto. Agora, este auto-de-fé contra um diretor da Rede Globo [clique em PRÓXIMO TEXTO, no pé desta página, para detalhes sobre o caso].
Em vez da revolta justa, a cizânia. No lugar do espírito de luta, o espírito das trevas. Vendeta. O acerto de contas não está sendo feito com Elias Maluco mas entre jornalistas. Vexame. A banalização da tragédia e a malversação do sofrimento vão resultar numa perigosa anestesia que acabará tomando conta da sociedade. Novamente.
A esta altura esperava-se que os jornalistas estivessem empenhados em resistir à bandidagem. Irrestritamente, com suas armas naturais: a reportagem, a busca de informações, sua capacidade de estimular, sua bravura cívica.
Os 100 líderes comunitários das favelas cariocas assassinados nos últimos anos mereciam reportagens menos burocráticas do que as publicadas na última semana. Os favelados onde atuavam os conheciam. Mas o resto da sociedade precisa conhecer esses 100 caídos ? gente simples, incapaz de teorizar, disposta a melhorar o mundo com o seu exemplo.
Aparentemente sacrificaram-se à toa porque a imprensa não soube conceder-lhes o epitáfio condigno.
A resistência contra a ditadura militar acabou triunfante porque conseguiu reunir todos os que repudiavam a violência. Agora, a violência campeia e alguns jornalistas perdem tempo com digressões e agressões.
Os bandidos têm arsenais formidáveis, dispõem de quantidades inesgotáveis de drogas para inocular-se com a paranóia. Mas os jornalistas têm corações e mentes capazes de motivar muitos corações e mentes no combate ao crime organizado e ao crime expandido.
Aparentemente estão em recesso
Tim Lopes ainda não foi enterrado mas não merece este velório.