Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Estrela Serrano

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

"Notícias de Verão",
copyright Diário de Notícias, 30/7/01

"O Verão, especialmente nos meses de Julho e Agosto, os jornais aligeiram os seus conteúdos, adaptando-se ao abrandamento da actividade das instituições. Os temas que, habitualmente, fazem as notícias de capa – política, economia, negócios, trabalho – dão lugar a faits divers, considerados mais propícios a um tempo de lazer. Alguns jornais não esperam pelo Verão e aligeiram as suas edições dominicais, como é o caso do DN. Há leitores que não apreciam essas mudanças. João P. Borges pergunta ?porque é que os jornais partem do princípio de que os leitores, nas férias e nos fins-de-semana, preferem notícias mais leves?. Em sua opinião, ?é nesses tempos livres que a leitura pode ser mais atenta e aprofundada e, portanto, seria tempo de os jornais tratarem temas esquecidos durante o ano?. João Borges não aprecia os faits divers que enchem as capas de revistas e os telejornais durante o Verão, e gostaria de ver o seu jornal ?escapar aos crimes, fogos e férias dos famosos?. Pede à provedora que se pronuncie sobre a invasão da informação pelos faits divers que, em sua opinião, ?aí vêm?.

O leitor tem razão quando assinala o facto de, em geral, no Verão, os media apresentarem edições mais ligeiras, embora, no caso da televisão, esse aligeiramento não corresponda, por vezes, a temas (e imagens) ligeiros, como é o caso de fogos, crimes ou assaltos. Contudo, essa situação não ocorre apenas nos media noticiosos. Também o cinema tem a sua programação de Verão, os espectáculos musicais reactivam-se; enfim, há um ajustamento ao tempo de férias. Nos jornais, os conteúdos viram-se para temas como inquéritos a figuras públicas sobre os livros que levam para férias, entrevistas a turistas, pormenores sobre as férias das figuras políticas, conselhos vários, ?utilidades? e ?serviços?. Este conjunto de temas, a que se convencionou chamar faits divers, não é fácil de caracterizar. Nascidos no século XVI, quando histórias de escândalos, acidentes e crimes circulavam de forma oral nas vilas e nos campos, os faits divers desenvolveram-se na imprensa popular da segunda metade do século XIX, adaptando-se, desde então, a cada novo progresso tecnológico e estendendo-se à rádio, aos magazines e revistas, à televisão e à Internet. O sucesso dos reality shows nos anos 90 (mais recente em Portugal) mostra que o género atravessa os media e as épocas. Na sua origem, a expressão aplicou-se, sobretudo, a crimes, delitos, acidentes e catástrofes. Annik Dubied e Marc Lits (1) afirmam que os faits divers podem ser uma espécie de pequena história do quotidiano, sem grande alcance. Longe da importância política, económica ou social das grandes notícias da actualidade, os faits divers confinam-se a um espaço de significação menos global, mais próximos da vida das pessoas. Trazem a público pequenas coisas da vida de pessoas comuns ou a vida quotidiana e privada de celebridades – a sua família, casamento, amigos, etc. Segundo aqueles autores, o fait divers é uma ?representação do extraordinário ordinário?.

Há uns anos, os faits divers marcavam uma clivagem entre os jornais populares e os jornais ditos ?de referência?. Hoje em dia, os faits divers espalharam-se por toda a imprensa, não obstante existirem diferenças, no tratamento desses temas, entre jornais populares e ?de referência?. Quanto mais um jornal os explora mais se aproxima da versão de imprensa popular ou mesmo tablóide. Nos jornais ?de referência?, o interesse pelo fait divers concentra-se, geralmente, nas páginas de Sociedade ou em rubricas especiais que tendem a ultrapassar os limites tradicionais do género, dando-lhes um significado social. Em geral, os jornalistas não se relacionam bem com os faits divers por os considerarem um género ?menor? que passa ao lado dos grandes problemas da sociedade. Mas têm de viver com eles, na medida em que os faits divers respondem não apenas a objectivos de natureza comercial, mas também a necessidades mais profundas, inscritas no ser humano. Tal como outras categorias de acontecimentos de actualidade, inscrevem-se na lógica da empresa mediática e na sua relação com o público, caracterizada por uma vertente económica – agradar aos leitores e garantir a venda do jornal, através da publicação de ?produtos? predominantemente espectaculares e atractivos – e uma vertente social e política de verdadeiro serviço público – cumprir a sua missão de informar. A marca de ?jornal de referência? resulta, entre outros aspectos, da capacidade de conseguir um equilíbrio entre as duas lógicas. Os códigos deontológicos são rigorosos no que respeita à protecção da vida privada – que constitui um dos aspectos mais abrangidos pela cobertura de faits divers – ao invocarem o interesse público como a única justificação eticamente aceitável para a intrusão e a devassa da vida privada de uma pessoa, seja ou não uma figura pública. No DN, o Verão começou no início de Julho com uma série de iniciativas, de diferentes níveis de qualidade, que podem enquadrar-se na definição de faits divers. Não está na sua tradição, como jornal ?de referência? que sempre foi, não obstante a qualidade de ?popular? que também reivindica, transformar-se, no Verão, no jornal de ?crimes, fogos e férias dos famosos? que o leitor teme. A provedora julga, pois, poder sossegá-lo a esse respeito.

(1) Annik Dubied e Marc Lits (1999), Le fait divers, Paris, PUF

Esta coluna regressa ao convívio dos leitores em 3 de Setembro.

A edição dominical do Washington Post – o Sunday Post – possui mais de um milhão de leitores. O provedor do jornal, Michael Getler, resolveu pedir aos leitores que lhe enviassem a sua apreciação da edição de domingo e recebeu cerca de 100 respostas, o que, nas suas contas, corresponde a 0,01 por cento dos leitores. Na sua coluna de 17 de Junho, o provedor refere algumas das apreciações recebidas.

Muitos gostam mais da edição de domingo do que das edições semanais, por terem mais temas de viagens, artes e livros. Outros consideram as mudanças como uma ameaça, recusam o tratamento de temas fora do habitual e aconselham a manutenção do estilo dos restantes dias.

Há muitas críticas, diz o provedor. ?Edição inferior ao jornal diário, (…) declínio lento, poucos conteúdos para leitura, (…) demasiado popularucho, (…) muito do que inclui só serve para ir imediatamente para o lixo, (…) é desinteressante (…).?

As secções de Estilos, Artes, Viagens, Magazine, Livros e Negócios são as que mereceram maior atenção dos leitores.

Alguns gostam destas secções e elogiam a qualidade dos temas e dos textos.

Mas muitos outros manifestam desapontamento e acham que é uma perda de tempo ler o Sunday Post.

Os leitores da edição dominical do W. Post dão boas notas às secções de notícias nacionais e dizem que gostariam de ter notícias mais variadas, casos relevantes com interesse local, reportagens aprofundadas e análises.

Pretendem investigação jornalística, mais notícias ?breves?, menos ?estórias? muito longas, menos faits divers e menos ?estilo anedótico? na apresentação das notícias. Falam também, segundo o provedor, da necessidade de ?arejar? o jornal com novidades, temas menos previsíveis, mais vozes jovens e não oficiais nas colunas de opinião.

O provedor do W. Post considerou interessante que as notícias e as páginas de análise e comentário, e não as secções especiais da edição de domingo, tenham sido o que os leitores consideram como o que distingue essa edição do jornal diário. O provedor diz que isso se deve, talvez, ao facto de o concorrente New York Times não ter, ao domingo, secção de comentário.

O provedor considera, contudo, que estes resultados necessitam de ser completados pelos 99,99% de leitores que não responderam ao seu pedido.

A provedora atreve-se a pedir aos leitores do DN que aproveitem o mês de férias para um olhar mais atento sobre o conteúdo do jornal, independentemente de uma notícia ou de outro aspecto, em concreto, que os motive a escrever. Antes de se ausentar, por um mês, desta coluna, a provedora gostaria, também, de dizer aos leitores cujas mensagens ainda não obtiveram resposta que não estão esquecidos. O volume de correspondência e a necessidade de observar, internamente, algumas regras indispensáveis à apreciação dos casos não permitiram tratar todos com a pontualidade desejada.

Até Setembro."

    
    
                     

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