DEMISSÕES NO JB
Marinilda Carvalho
O Jornal do Brasil demitiu ou dispensou 18 profissionais entre a sexta-feira (28/9) e a segunda (30/9). Nada de surpreendente, dada a interminável crise do jornal ? se não fosse o fato de a redação já estar reduzida ao mínimo desde a mudança do gigantesco prédio da Avenida Brasil, palco do início da decadência do grande diário carioca, para as salinhas apertadas da Avenida Rio Branco, onde profissionais se espremem com o comando da redação ? ali, nem privacidade se tem mais.
Segundo Ivson Alves, do site sobre jornalismo Picadinho Diário <http://picadinhodiario.blogspot.com>, entre os demitidos estão repórteres especiais como Aydano André Motta e Joaquim Ferreira dos Santos, dois dos raros bons textos do jornal. Joaquim provavelmente manterá sua coluna. Na editoria de Cidade foram sete demissões. Estão dispensadas até estrelas como Millôr Fernandes, Ivan Lessa e Sérgio Rodrigues, nomes que atraem leitores. Na Fotografia foram quatro repórteres, no Esporte, outros quatro. E também o colunista Roberto Assaf, um memorialista do futebol indispensável em qualquer redação. Na Internacional, duas demissões, inclusive a do jovem e bem preparado editor, Sérgio Benevides.
Ivson conta que o diário precisa cortar R$ 200 mil mensais porque a direção teria esquecido das despesas com IPTU e outras taxas, mais altas, com a mudança para o Centro do Rio.
A diferença entre demissão e dispensa, no JB de nossos dias, é tênue como as relações trabalhistas vigentes no jornal. No fim do ano passado e início deste ano, os profissionais contratados com salário acima de R$ 4 mil, em seguida os de R$ 3 mil, foram obrigados a pedir demissão e a se terceirizar, integrando uma cooperativa criada sob os auspícios da empresa. Mais ou menos nos moldes dos funcionários da TV Globo. Com a diferença de que a maioria não recebeu até hoje seus direitos. Segundo afirmam vários jornalistas, o jornal pagou até agora apenas uma parcela, de R$ 800, a título de contas rescisórias. Isso também não surpreende. O jornal deve rescisão de gente demitida há mais de um ano. Fora o FGTS, que não é depositado nas contas da maioria dos funcionários (e ex-funcionários) desde o início dos anos 90. O jornal é recordista de processos na Justiça Trabalhista.
Conservadorismo
A crise do JB parece interminável, e lembra outras crises de outros jornais. Por exemplo a do Correio da Manhã. O pagamento atrasava, as pessoas faziam fila no caixa para pegar vale. Mas o salário-ambiente era ótimo. Ari Carvalho (hoje proprietário do O Dia) comprou o Correio e a igualmente agonizante Última Hora, juntou as duas redações e conseguiu formar um todo feliz. No JB é diferente. O jornal já teve fama de melhor salário-ambiente do país. Conta o folclore jornalístico carioca que Merval Pereira, chefão do Globo, tinha ataques apopléticos cada vez que o JB fazia melhor a cobertura de algum grande assunto ? por exemplo, o incêndio no Aeroporto Santos Dumont. Na ocasião ele gritou: "Como é possível que aqueles mortos de fome da Avenida Brasil trabalhem melhor que vocês?" Pois era o salário ambiente. Com todas as dificuldades, os "mortos de fome" faziam das tripas coração e o JB saía melhor.
Isso acabou. O salário-ambiente do JB, desde que Nelson Tanure comprou o jornal, deve ser pior que o da Gazeta Mercantil, também em crise, com salários atrasados e pilhas de processos trabalhistas. A queda de qualidade é visível.
E se a qualidade só tende a piorar a partir dessas novas demissões ? "Sobrou quem para escrever???", pergunta um estudante de Jornalismo no site Comunique-se <www.comuniquese.com.br> ?, pode-se esperar também uma mudança, digamos, ideológica, pelo menos na editoria de Internacional. O novo editor, o veterano Leo Schlafman, tem idéias conservadoras sobre as temáticas internacionais, especialmente Oriente Médio.