CASA DOS ARTISTAS
"Acabou a esbórnia" copyright Folha de S. Paulo, 16/12/01
"Ao fim de tudo, resta o embaraço de reconhecer que o habitante mais sensível e inteligente da ?Casa dos Artistas? foi Alexandre Frota. Mais do que qualquer outro, ou outra, ele observava as forças e as fraquezas dos seus competidores e sabia tirar daí, da observação, ações minimamente racionais. Frota soube estabelecer acordos e traí-los, soube firmar compromissos afetivos e destruí-los. Até chorar, chorou. Como um crocodilo ardiloso, não como um rinoceronte opaco. Frota foi um ser pensante (incrível!) e um ser afetivo (chocante!), foi superior a Supla (assombroso!).
E qual era o papel de Supla? Bem, deveria ter sido o de punk insurreto e incendiário. Quanto tempo durou esse papel? Uma semana, duas. Ao fim, Supla mostrou-se nada mais que um príncipe colegial, um mocinho de novela das seis, e por aí cativou a platéia. Não brilhou por sua agressividade, mas por seu melancólico desamparo infantil. Embaraçoso, de fato. Alguns se encantaram com o fato de ?Casa dos Artistas? ter evoluído como se fosse uma novelinha, uma novelinha perfeita sem que ninguém precisasse escrevê-la com antecedência. Nada de novo. A própria vida das tais ?celebridades?, seja nas revistas de fofocas, seja nas colunas sociais de TV, vai pra lá e pra cá ao ritmo de uma novela. Isso é assim desde sempre, desde antes de ?Casa dos Artistas?. As ?celebridades? sabem o texto de cor, já foram suficientemente adestradas para agir automaticamente ao expor e negociar com suas intimidades para fazer o jogo do público. Não apenas as celebridades. Também a intimidade dos anônimos é ordenada pelas narrativas melodramáticas. A massa (e cada um de nós) aprendeu a beijar e a chorar vendo os filmes de Hollywood e a novela das oito. Vive-se como numa novela. O enredo melodramático de ?Casa dos Artistas? é um sintoma disso, não é invenção de nada.
Aí, no meio da novelinha automática, Frota e Supla representaram dois pólos típicos. O primeiro fez o vilão na linha ?feitor de escravos?, o sujeito que é truculento dentro do grupo e dócil em relação a quem manda (Silvio Santos). Frota era servil ao animador assim como o animador é gentil com o presidente da República. De novo, nada de novo. Quanto a Supla, diluiu-se, como a tinta amarela dos cabelos, e acabou tristonho, gasto. Frota se saiu bem. Transformou em apoteose a falta de caráter. O Brasil, mais uma vez, terá de decidir entre duas alternativas patéticas, entre o carente afetivo e o espertalhão. Triste sina.
Em tempo: ?Casa dos Artistas? já nasceu como síntese da esperteza. O seu êxito, que consistiu em desviar-se das acusações de plágio e em se valer de um marketing traiçoeiro, ensinou a todos que as práticas pouco virtuosas podem compensar. O programa é a vitória do ?rouba (a idéia) mas faz (sucesso)?. É divertido de ver? Num primeiro momento, sim, é divertido. Depois, é apenas constrangedor: aqueles egos estirados no chão, como gladiadores mortos ao fim do circo… O público assiste, em massa, mas, de novo e de novo, nada de novo. Os altos índices de ibope eram previsíveis, bastava ver o sucesso de ?Big Brother? nos países em que foi exibido. A platéia, do fundo de sua miséria sexual, dedica-se a devorar as intimidades carnudas dos gladiadores expostos. O SBT não inventou essa fórmula, a do voyeurismo industrializado, apenas foi esperto em copiá-la às pressas. Levou vantagem.
É aí que Alexandre Frota reluz como o alter ego de Silvio Santos. Frota foi o personagem que burlou as regras (saiu da ?casa? e foi autorizado a voltar), que agiu de modo dissimulado, que sempre abaixou a cabeça para o poder. Sua trajetória ao longo do programa foi, sim, sensacional. Ele foi o melhor porque decantou o que nos resta de pior."
***
"?Casa? desloca centro de gravidade público da TV brasileira", copyright Folha de S.Paulo, 18/11/01
"A ordem desigual da televisão brasileira termina o ano em pandarecos. Ou ao menos ferida. A supremacia imperial e invariável da Globo cambaleou.
A surra que o SBT lhe deu teve sabor de humilhação, foi um nocaute em pleno domingo à noite. Silvio Santos atingiu picos de 55 pontos de audiência, fenômeno sem precedentes. Ao menos por algumas semanas, o centro de gravidade do espaço público brasileiro se deslocou.
Tome-se Eduardo Suplicy como indicador desse deslocamento. Há poucos anos, ele atuou como figurante na novela ?O Rei do Gado?, na Globo. Sua participação na trama fictícia, que tinha como tema os conflitos agrários no país, significava um reconhecimento do mundo político à capacidade que a telenovela tem de interferir no debate nacional. ?O Rei do Gado? popularizou a causa dos trabalhadores sem-terra no Brasil e lá estava Suplicy, senador do PT, homenageando a novela.
Anteontem o mesmo senador compareceu ao encerramento de ?Casa dos Artistas?. É verdade que ele e sua ex-mulher, Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, foram até lá por motivos familiares. Foram reencontrar o filho Supla, que passou um tempão confinado na ?casa?. Os dois políticos, portanto, estariam ali não como personalidades públicas, mas como gente comum, tão comum quanto as parentes de Bárbara Paz.
Acontece que o senador também falou como político. Cumprimentou Supla por ter aproveitado o programa para fazer propaganda do próprio CD e aproveitou para divulgar seu livro. Como quando foi à novela, sabia que falava com o povo. O tal povo saiu da novela e foi para o ?reality show?. A política, naturalmente, vai atrás. O centro de gravidade do espaço público brasileiro não é mais monopólio da Rede Globo.
E isso é bom. Tudo que contribui para tornar um pouco menos desigual a ordem estabelecida na televisão brasileira é bom.
Fora essa chacoalhada saudável, ?Casa dos Artistas? deixa expostas algumas mazelas éticas da nacionalidade. Silvio Santos, um gênio do auditório, indiscutível, agiu de modo traiçoeiro, na surdina. Surpreendeu o país com uma cópia não autorizada dos ?reality shows?, um formato patenteado internacionalmente, e não soube explicar direito, não à Justiça, mas à opinião pública, por que essa cópia não configura pirataria.
Além disso, regras do programa também foram alteradas a seu bel-prazer, e os telefonemas dos telespectadores eram um mistério. O SBT manipulou os resultados, escolhendo as ligações que punha no ar? Ou as ligações refletiam fielmente um levantamento estatístico? Ou era tudo uma questão de sorte? Nada disso ficou claro, o que é péssimo. Nada disso nunca fica claro no espaço público brasileiro, do qual ?Casa dos Artistas? é uma sede precária e uma metáfora profunda.
E daí? A sensação generalizada é de que o amor e o bem venceram: Bárbara e Supla, enamorados, ganharam o primeiro e o segundo prêmios. De resto, a coisa toda foi engraçada, com tantos pecados rasgados embaixo do cobertor. A gente gosta. Quanto aos outros pecados, os públicos (e ocultos), que, do lado de baixo do Equador, se manifestam pelas regras que nunca valem, pela esperteza triunfante, pela manipulação dissimulada, para esses ninguém liga. Esses a gente nunca vê."
"Globo deve adiar final do terceiro ?No Limite?" copyright Folha de S. Paulo, 15/12/01
"A terceira edição do ?reality show? ?No Limite? não deve acabar amanhã, conforme anunciado pela Globo em outubro. Para evitar uma derrota histórica para ?Casa dos Artistas?, do SBT, que deve se encerrar amanhã, a cúpula da emissora discutia anteontem dividir o último episódio em dois, deixando a final para dia 23.
Até o início da tarde de ontem, não havia nenhuma reserva de estúdio no Projac para entrada ao vivo no ?No Limite? de domingo, outro indicador de que a final será adiada. Como fez na segunda edição, no último episódio a Globo junta todos os participantes para revelar quem foi o vencedor.
Domingo passado, o ?No Limite? concorreu durante 30 minutos com ?Casa dos Artistas? e foi derrotado por 43 pontos a 20. Mesmo vencendo o ?Show do Milhão?, teve média final de apenas 27 pontos, contra 30 do SBT.
A divisão do último episódio de ?No Limite? em dois não significa mudança nas regras. O programa já está todo gravado. É só reeditar. Mesmo com a divisão, deverá haver no capítulo de amanhã pelo menos duas eliminações. Inicialmente, o programa teria nove edições, mas, com o adiamento da estréia em uma semana, os capítulos foram reduzidos a oito e ficaram maiores.
O adiamento da final de ?No Limite? era um ?segredo de Estado? da Globo. A intenção era fazer uma surpresa ao surpreendente Silvio Santos, dono do SBT."
***
"Depois de ?Casa?, SBT aposta em ?Popstars?" copyright Folha de S. Paulo, 13/12/01
"O SBT negocia com a Disney da América Latina a co-produção do ?reality show? ?Popstars?, em que adolescentes competem a vagas em uma banda feminina de música pop. As negociações começaram em junho, quando Silvio Santos viajou a Buenos Aires, sede continental da Disney.
A Folha apurou que o SBT estuda colocar a atração no ar já em fevereiro ou março, simultaneamente à segunda edição de ?Casa dos Artistas?, programa também do gênero ?reality show?. ?Popstars? deverá custar cerca de R$ 5 milhões e poderá ter edições diárias ou apenas semanais.
O ?original? de ?Popstars? nasceu na Austrália em 1999. Nos Estados Unidos, houve programa semelhante, ?Making the Band? (exibido no Brasil pelos canais pagos Multishow e Nickelodeon).
Na Argentina, ?Popstars? foi ao ar entre agosto e novembro e rendeu à TV Azul uma significativa participação de 16% no bolo de audiência daquele país, segundo reportagem do jornal ?Clarín?.
O programa consiste em mostrar todo o processo de seleção de aspirantes a futuras ?spice girls?, desde as primeiras eliminatórias e as provas de aptidão e resistência física até a gravação de músicas.
Na versão argentina, foram 2.780 garotas disputando uma das cinco vagas da banda, que ganhou o nome de Bandana. O grupo fez seus primeiros shows há duas semanas, quando já tinha vendido mais de 80 mil cópias de CD."
***
"?Casa dos Artistas? pode voltar em 6 de janeiro" copyright Folha de S. Paulo, 11/12/01
"A segunda edição de ?Casa dos Artistas? deve entrar no ar já no próximo dia 6 de janeiro, com um intervalo de apenas duas semanas da primeira versão.
Essa é, pelo menos, a expectativa do mercado publicitário, que na próxima segunda-feira conhecerá os detalhes do plano comercial de ?Casa dos Artistas 2?. O encontro de publicitários e diretores do SBT deverá ser no imóvel onde o programa é gravado, no Morumbi (zona sul de São Paulo).
A segunda edição da atração também será no mesmo imóvel, anunciou Silvio Santos no ar anteontem, apesar dos protestos de vizinhos e da ?clandestinidade? do estúdio -no local, não pode haver atividades comerciais.
Silvio Santos quer ?colar? as duas edições para evitar que o público perca o interesse pelo programa. Além disso, a Globo deve estrear também em janeiro a versão nacional de ?Big Brother?, ?original? que ?inspirou? ?Casa?.
Publicitários calculam que as cotas nacionais de patrocínio de ?Casa dos Artistas? custarão até R$ 4 milhões. Anteontem, o programa superou o ?Fantástico? e o ?No Limite? (que teve a menor média de sua história, 27 pontos)."
***
"Globo muda direção de ?Big Brother Brasil?", copyright Folha de S. Paulo, 14/12/01
"A versão nacional de ?Big Brother? nem entrou no ar e já sofreu a primeira intervenção da cúpula da TV Globo. Nesta semana, a emissora trocou o diretor artístico do programa: saiu Luís Gleiser (que desde abril se dedicava ao projeto) e entrou J.B. de Oliveira, o Boninho, que dirigiu o primeiro e o terceiro ?No Limite?. ?Big Brother Brasil? estréia em janeiro.
A intervenção revela um clima de insegurança e de tensão na cúpula da rede, que teme o desgaste da fórmula do ?reality show? com o sucesso de ?Casa dos Artistas?, do SBT, que acusa ser um plágio de ?Big Brother?. A emissora chegou a cogitar escalar ?famosos? para o elenco do programa, mas optou por selecionar anônimos.
Boninho foi ?intimado? a dirigir ?Big Brother? porque a Globo atribui a ele os acertos de ?No Limite?. Para a emissora, o segundo ?No Limite?, sem Boninho, não emplacou porque não foi bem dirigido e editado.
Luís Gleiser vai assinar a direção geral de ?Big Brother Brasil?, mas não terá poderes sobre a versão do programa para a TV Globo. Vai coordenar o ?cross media?, as versões para TV paga, internet e rádio. Será como um rei numa monarquia parlamentarista.
Gleiser, que dirigiu o ?Domingão do Faustão de junho de 2000 até março, com apenas duas vitórias no Ibope, foi o responsável pela compra de ?Big Brother? da Endemol. Mas a Globo preferiu não arriscar na direção."