Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Evocações de Jung

SEMELHANÇAS & DIFERENÇAS

Cláudio Weber Abramo

Outro dia, me aconteceu uma coincidência tão extraordinária que penso valer a pena narrá-la, mesmo que nada tenha a ver com jornalismo.

Na expectativa de uma noite do gênero chatonildo, fui à Blockbuster procurar um filme. Sempre me armo de uma paciência que usualmente não tenho quando vou à Blockbuster. Aquele "boa noite!" forçado, pronunciado por pessoas não acostumadas a qualquer espécie de polidez (imediatamente seguido pelo intolerável tratamento familiar de "você"), é geralmente seguido pela frustração de apenas se encontrar filmes idiotas.

Mesmo assim, como disse, fui. Saí de lá com uma fita do filme "Under suspicion" (de 2000), com Gene Hackman e Morgan Freeman, e mais uma moçoila bonitinha, mas péssima atriz, chamada Monica Bellucci (nunca ouvi falar dessa, mas como não entendo nada de cinema, provavelmente é algum gênio da lâmpada).

Eis a história: Hackman é um advogado famoso, que vive em Porto Rico. Duas meninas são estupradas e estranguladas. O delegado de polícia (Freeman) suspeita do advogado. A mulher deste (Belluci) acha que o marido é culpado, e fornece pistas para o delegado prendê-lo. O advogado confessa. Antes de ir para o xilindró, porém, aparece o verdadeiro criminoso.

Por que o advogado confessou? A resposta fica no ar, mas provavelmente foi para castigar a mulher.

Muito bem, terminado o filme, fui para a cama. A insônia, contudo, me forçou a voltar ao aparelho de TV, que passei a zapear com aquela crescente sensação de impotência ante a imensa ruindade dos canais, pagos ou abertos.

Na segunda vez que percorria a escala numérica, deparei com um filme policial francês. Como gosto daqueles inspetores meio blasé, parei ali. O inspetor (Lino Ventura) conversava com uma mulher (Romy Schneider). Conversa vai, conversa vem, comecei a achar que já tinha visto aquilo.

De fato! O filme ("Garde à vue", de 1981) era exatamente o mesmo que eu tinha acabado de assistir, com Michel Serrault no papel do advogado. Grande parte dos diálogos eram idênticos, a situação era a mesma, as motivações da mulher idem (ela suspeitava que o marido tivesse tentado traçar sua sobrinha de 13 anos, daí a ligação com as mortes das mocinhas).

No final, algumas diferenças significativas, considerando que um filme era francês e o outro norte-americano. Neste último, a inocência do advogado se estendia à pretensa tentativa de passar a sobrinha pelas armas; no filme francês, fica óbvio que o causídico famoso tinha, de fato, realizado a tentativa.

No filme de Hollywood, o advogado sai da delegacia e, lá fora, encontra a mulher, a qual procura aproximar-se dele, mas é afastada. No filme francês, o advogado sai da delegacia, encaminha-se em direção do automóvel em que a mulher se encontra, senta-se e descobre que a dita-cuja se suicidou com um tiro.

Amazing, n?est pas?

    
    
              
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