Thursday, 26 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 3107

Experiência; experiência

FORMAÇÃO DO JORNALISTA

Victor Gentilli

Experiência é a única coisa que a universidade não pode oferecer. Experiência é a única coisa que só pode ser feita na universidade.

Aparentemente contraditórias, as duas frases são verdadeiras. Mas as conseqüências da correta compreensão do fato destas duas assertivas serem corretas é um dos grandes problemas e desafios para que o ensino de Jornalismo, no Brasil, encontre seus rumos e seus caminhos.

Na primeira frase, estamos tratando da experiência profissional. Aquela experiência obtida unicamente pela vivência acumulada em redações. A universidade oferece domínio de conteúdos, habilidades e competências. Qualquer estudante deve exigir que sua formação lhe permita dominar todas as teorias e técnicas, sejam aquelas mais amplas, ligadas ao campo da comunicação, sejam aquelas específicas de jornalismo. Mas não deve cultivar ilusões: o domínio geral dos conteúdos e das técnicas lhe permitirá ingressar na profissão, mas é com o exercício profissional constante, sempre crítico e responsável, que o jornalista irá se formar. A experiência profissional é fundamental para qualquer jornalista, e esta somente se obtém com o passar dos anos na redações, refinando, depurando, apurando, lapidando suas competências e habilidades..

O perito, o especialista é o profissional que refina suas habilidades e competências, obtidas na universidade, no dia-a-dia profissional. Perícia é habilidade agregada à experiência.

Na segunda frase, lembramos que somente a universidade conta com laboratórios e realiza pesquisas e projetos experimentais. Não há uma única escola de jornalismo no Brasil sem laboratórios de jornalismo impresso, televisivo, de rádio e internet. Podem ser precárias, mal conservadas, mal equipadas, mas existem. E é nesses laboratórios que os alunos aprendem a dominar suas competências e habilidades e realizam os projetos experimentais.

Trata-se de lugar-comum insistir que as atividades laboratoriais não devem nem reproduzir o mercado de forma acrítica, nem praticar o experimentalismo vazio. No primeiro caso, a universidade sequer está cumprindo suas funções básicas. Até porque, se é para reproduzir o mercado, basta o ingresso nele mesmo que o aprendizado é muito mais eficiente. No segundo caso, o esquecimento de que o jornalismo é uma atividade pública, a busca da novidade por ela mesma e as experiências exclusivas de formas e linguagens deformam a formação integral de jornalistas fazendo com que o superficial e o secundário passem a ter um valor muito superior do que realmente devem ter.

Alberto Dines, em várias ocasiões neste Observatório, compara o ensino de Jornalismo com o ensino de Medicina. Assim como este último pressupõe a existência de um hospital-escola, uma escola de Jornalismo não pode abrir mão de jornais-escolas, nas mais diversas mídias e suportes.

A realidade concreta da grande maioria das escolas brasileiras está muito distante das reflexões apresentadas aqui. Não seria o tempo de repensar essas questões, neste momento em que o sistema midiático enfrenta uma de suas piores crises e as escolas simplesmente ignoram este fato?