JORNALISTAS NO FRONT
Em um armazém no campo militar de As Sayliyah, no Catar, onde semanas atrás se guardavam tanques e veículos blindados americanos, um arquiteto de Hollywood está supervisionando o árduo trabalho de construção de um palco. Ao custo de 200 mil dólares, o espaço será destinado a comunicados militares aos repórteres que ali se reunirão e à audiência mundial de TV.
O cenário de fundo apresenta um mapa-múndi estilizado em branco e azul. Pendendo de balaústres e vigas mestras de aço industrial estarão sete telões de cristal líquido. As telas exibirão vários tipos de vídeo, imagens de computador, mapas e o que mais o Comando Central da América quiser mostrar, conforme informações de Robert Hodierne [The Army Times, 8/3/03].
O idealizador desse palco high tech é George Allison, o mesmo que desenhou o set de filmagem do Good Morning America, da ABC, ao custo de 89 milhões de dólares. Desenhou também as instalações de palco para aparições do presidente George W. Bush.
O coronel das Força Aérea Ray Shepherd, diretor de assuntos públicos do Comando Central, disse que a maioria dos americanos se abastece de notícias pela TV e está acostumada a um certo nível de sofisticação visual. "Queremos chegar o mais próximo possível dos padrões utilizados normalmente na televisão."
O set de filmagem é apenas uma amostra do grandioso centro de mídia que está sendo construído para receber jornalistas dos EUA, países europeus, China, Japão e até a emissora árabe al-Jazira, tida como a "estação inimiga". Além de muitos idiomas diferentes, os jornalistas do mundo usam tipos diversos de sistemas de TV. Mas os técnicos do exército americano garantem poder converter qualquer formato de vídeo para um outro mais conveniente.
A mídia impressa será a mais prejudicada, uma vez que as linhas telefônicas para enviar reportagens são bem limitadas e não há conexões de internet em alta velocidade.
Pela primeira vez, mais de 800 jornalistas viverão nos campos de batalha e a bordo de navios de guerra americanos. Nunca houve tantos jornalistas na cobertura de uma guerra dos EUA. O repórter do Army Times afirmou que aumenta o risco de artigos sobre erros e tragédias inevitáveis em uma guerra. Os jornalistas também deverão escrever sobre o cotidiano de uma unidade militar.