DOMINGO ILEGAL
Chico Bruno (*)
Faz muito tempo que a Rede Globo e o SBT disputam, em autentico vale-tudo, a liderança de audiência das tardes de domingo. Faz muito tempo que ao cair da tarde dos dias da semana as demais redes de televisão ? Record, Bandeirantes e Rede TV! brigam pelo segundo lugar nas pesquisas de aferição de telespectadores exibindo programas em que o prato de resistência é a violência em todos os seus matizes.
Como já dizia Abelardo "Chacrinha" Barbosa, na televisão brasileira nada se cria, tudo se copia. A prova de que o velho guerreiro tinha razão o telespectador encontra no início das noites dos dias de semana na televisão brasileira: um programa é cópia fiel do outro. Uma mesmice irritante. São programas nos quais apenas os personagens que neles trabalham são diferentes.
Portanto, a disputa dominical entre o SBT e a Globo e o gosto duvidoso dos programas policiais das concorrentes não são novidade. Sobrevivem graças à hipocrisia que permeia, infelizmente, a sociedade brasileira, com raras e saudáveis exceções. Aliás, em função disso foi criada uma comissão para analisar a qualidade da televisão no Congresso Nacional. O que antes era tratado jocosamente pela Folha de S.Paulo, que criou o Troféu Santa Clara, passou a ser discutido nos corredores de Brasília por ilustres políticos e burocratas, sem, entretanto, qualquer medida prática para coibir os abusos diários da programação.
Esquecidos e arquivados
A pegadinha do PCC levada ao ar no dia 7 de setembro no Domingo Legal foi o ápice do exagero que sempre marcou a disputa entre Globo e SBT. Qualquer ser humano dotado de um mínimo de bom senso intuía que o tom da disputa a cada semana se tornava mais pernicioso para o telespectador.
Infelizmente, a hipocrisia, a impotência da cidadania e o descaso das autoridades permitiram que a disputa pela audiência chegasse ao ponto a que chegou. Afinal, como concessão pública, basta ao poder público convocar os concessionários e impor limites à exibição de programas. Não se trata de censura, trata-se de cuidar da conveniência e da qualidade do que é exibido ao telespectador. Vale lembrar que há programas regionais, principalmente em estados do Norte e do Nordeste, de deixar Datena, Milton Neves, Márcia, Ratinho e Marcelo Rezende rubros de vergonha e, quem sabe, de inveja.
Além de abrir inquérito para apurar responsabilidades, os ministérios da Justiça e das Comunicações têm o dever de chamar os concessionários da radiodifusão brasileira para uma conversa séria sobre os rumos da programação da TV. Infelizmente, essa, a mais prática e eficiente medida, nem sequer foi cogitada. Ao que parece, os senhores ministros estão a acreditar que, neste episódio, vai-se repetir o que ocorre em casos de gravidade no país: acabam esquecidos pela mídia e arquivados na memória popular.
(*) Jornalista