Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Faltou reflexão à mídia

11-S, UM ANO DEPOIS

Afonso Caramano (*)

As "comemorações" que marcaram a passagem do 11 de setembro no mundo lembraram as vítimas do terror e a necessidade de combatê-lo a qualquer custo ? ainda que semeando mais terror. Claro que a imprensa, principalmente a televisiva, se ateve aos aspectos mais espetaculares dos eventos ? e nem é preciso muita perspicácia para atentar (opa! cuidado com este verbo) o porquê.

Mas se se especular um pouco sobre o tema ? coisa, aliás, cada vez mais rara num cenário de mão única para o pensamento senão de cerceamento de liberdades e meias verdades da mídia ? constata-se o óbvio: que os atentados não são fatos isolados, um monstro que saiu do nada, mas o resultado da abissal discrepância da política exterior adotada pelos países desenvolvidos e da incapacidade de se resolver diplomaticamente os conflitos. Juntem-se a isso altas doses de intolerância, preconceito, ambição, ignorância, tirania etc.

Os discursos acentuam o tom maniqueísta das relações, e caminha-se para o acirramento dos conflitos, elegendo-se a cada momento novos inimigos (convenientes a quaisquer que sejam os interesses), incorrendo nos mesmos erros e comportamentos combatidos, com o aval de se manter a ordem mundial.

A mídia apenas retrata e "reflete" o desenrolar dos acontecimentos, muitas vezes sem se aprofundar nas questões e sem fazer as devidas "reflexões", servindo unicamente de instrumento propalador (unilateral) do discurso dominante. O grau de alienação e apelação é mais evidente nos meios de comunicação de massa, a televisão por excelência.

De qualquer forma, o mundo torna-se cada vez mais previsível e nem por isso menos absurdo.

(*) Funcionário público em Jaú, SP