COBERTURA NA TV
Da mesma forma como modelou as eleições, a TV modelou a baderna, dominando ainda mais as suas conseqüências. Das previsões danosas e indecisas na noite do dia 7 até o duelo das entrevistas coletivas no dia seguinte, é possível traçar um gráfico sobre a influência da TV em diversas direções.
De acordo com matéria de Caryn James [The New York Times, 11/11/00], com o declarar e "desdeclarar" da vitória de Bush, ficou claro como se olha para a TV em busca de certeza e resolução. Até Gore acreditou na TV ao admitir derrota, gesto que, mais tarde, seria revogado.
Quando a certeza foi substituída por âncoras embaraçados, a mudança foi simultaneamente desconcertante e empolgante. A magnitude das chamadas erradas no dia 7 foi rapidamente ofuscada pelo temor de estar sendo atraído a um processo contínuo. Desde então, o suspense e o senso de envolvimento continuou em padrões que a TV poderia ou não influenciar.
A campanha de ambos os candidatos estava usando a TV para tentar encurralar a opinião pública. Câmeras estavam focando eleitores em Palm Beach e a famosa "cédula borboleta" – "butterfly ballot" – que causou a ira de diversos eleitores de Gore, os quais afirmaram ter votado acidentalmente em Pat Buchanan. Por chamar atenção a esses eventos, a TV tornou-se uma força política.
A presença de câmeras certamente permitiu que a questão das cédulas de Palm Beach ganhasse força. Eleitores locais tornaram-se obcecados lutadores políticos em tempo integral.
Durante as entrevistas coletivas, se comentaristas estavam baixando a temperatura das campanhas, as campanhas certamente estavam baixando a temperatura do país por meio da TV.
O fato de os telespectadores reconhecerem isso como uma "fábrica de imagens" e estratégia pura é parte importante do processo. Quando Bush convidou os câmeras para gravar breves observações e fazer algumas perguntas – e Gore permitiu que fosse filmado jogando futebol americano com sua família –, repórteres chamaram esses eventos por seus verdadeiros nomes: pose.
Desde o dia 7, no entanto, telespectadores receberam um surpreendente senso de acesso à história em progresso, e o envolvimento da TV não é bom ou ruim, apenas um fato da era da mídia, parte de como eleitores enxergam e dividem o futuro político.
Emissoras podem ter fornecido resultados errados duas vezes e terminado como a grande piada das eleições presidenciais norte-americanas, mas a audiência da noite eleitoral foi ótima.
A natureza abismal da corrida entre o democrata Al Gore e o republicano George W. Bush deu um bônus de audiência às principais emissoras, as quais exibiram, orgulhosas, ganhos incomparáveis à noite eleitoral frouxa entre o presidente Clinton e Bob Dole, em 1996.
Segundo matéria de Steve Gorman [Reuters, 9/11/00], as coberturas de TV aberta e a cabo somaram 61,6 milhões de telespectadores, público cerca de 70% maior que nas eleições presidenciais anteriores.
Enquanto a tensão da competição rendeu um bom drama, causou também dores de cabeça às emissoras, que anunciaram a corrida acirrada na Flórida incorretamente duas vezes durante a noite do dia 7.
Refletindo seu recente domínio no jornalismo televisivo, a NBC liderou a audiência na noite eleitoral, com 18,4 milhões de espectadores e com o maior ganho de 1996 para cá – 51%. A ABC foi a segunda colocada, com 14,8 milhões de espectadores, seguida pela CBS, com 12,9 milhões.
Cobertura pós-campanha
Os cinco dias que se seguiram às eleições – de 8 a 12 de novembro – também foram felizes às emissoras. De acordo com matéria de Martha T. Moore [USA Today, 15/11/00], a CNN atraiu 1,38 milhões de espectadores, mais de 257% que sua média; a MSNBC atraiu 284 mil, 239% mais que sua média; e a Fox atraiu 594 mil telespectadores, 122% mais.
Mais americanos parecem interessados nas eleições presidenciais hoje. Em uma pesquisa do USA Today, da CNN e do Gallup durante os dias 11 e 12 de novembro, 46% dos entrevistados estavam acompanhando a repercussão das eleições de perto. Em pesquisa similar realizada em novembro pelo Centro de Pesquisas para População e Imprensa Pew, 39% disseram o mesmo.
PÓS-CAMPANHA
De debates acerca das cédulas de Palm Beach a argumentos exaltados sobre quem deverá ser o presidente e quando, a cultura da mídia está tornando a pós-campanha bem mais empolgante que a campanha em si.
"A audiência está encantada", disse Bill O’Reilly, apresentador de um programa da Fox News. "Meus números são os maiores da história". "Normalmente", disse o apresentador de ráaacute;dio Oliver North, "tenho que esperar de 30 segundos a 1 minuto para a entrada do primeiro telefonema. Nos últimos três dias, antes mesmo de dizer uma palavra, antes de entrar qualquer música, as 10 linhas telefônicas estão ocupadas."
"Trata-se de algo maravilhoso para nós e ruim para o país, da mesma forma que a imprensa é a única a se empolgar com a queda de um avião", disse Tucker Carlson, da Weekly Standard, que também esteve nas telas.
De acordo com matéria de Howard Kurtz [The Washington Post, 11/11/00], apesar da algazarra da mídia, algumas pessoas estão esfriando a situação. Entre eles, os apresentadores do Hannity & Colmes, programa da Fox. Sean Hannity, apresentador conservador, afirmou que "direcionar a mente das pessoas ao frenesi é irresponsável". Já o apresentador liberal Alan Colmes disse que as paixões estão exaltadas porque "cada lado está muito próximo e ambos podem sentir o sabor da vitória".
De qualquer forma, para O’Reilly a história é frustrante: "Estamos presos a uma caixa cheia de números. Com Mônica Lewinsky, podia-se dizer ‘ela é uma vadia’ ou ‘ela não é uma vadia’; podia-se fazer análises psicológicas. Está é uma história unidimensional. Devemos continuar procurando novos ângulos".
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