Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fechados em seu próprio umbigo

FÓRUM DE PROFESSORES DE JORNALISMO

Enecos (*)


"O professor dialoga, não apenas dá aula. Sem diálogo ele não ensina", nos diz o professor e atual ministro da Educação, Cristovam Buarque.

"A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados", deixou registrado o mestre Paulo Freire.


Que tipo de professor, sobretudo na universidade, é capaz de discutir e refletir sobre o processo de formação educacional sem levar em conta o estudante enquanto sujeito ativo (alvo e interlocutor fundamental deste processo)? Alguns professores de Jornalismo do Brasil conseguem ? ou supõem conseguir ? a proeza.

Mais uma vez, teremos a realização do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ? a sexta edição, de 1? a 4 de maio, em Natal ? sem a participação efetiva e institucional dos estudantes de Comunicação/Jornalismo, organizados na Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos).

Um pedido formal para que a Enecos fosse incluída nos debates foi feito desde fevereiro. Somente há duas semanas recebemos a resposta, negativa, à nossa solicitação: "Os estudantes, através de suas entidades, estão convidados a participarem da solenidade de abertura do evento". A justificativa era a de que o caráter do Fórum é voltado apenas a profissionais e jornalistas.

A fundação do Fórum de Professores de Jornalismo ? organização digna de todo o louvor, daí o interesse da Enecos de dialogar em tal espaço ? tem o objetivo declarado de ser "o espaço de debates e troca de experiências entre aqueles que se preocupam com a formação profissional de jornalistas". No entanto, é impossível não questionar criticamente a posição da coordenação nacional do Fórum, que permitiu a participação dos estudantes ? também preocupados com a formação profissional ? tão somente no debate de abertura. Em que medida qualquer debate sobre o ensino superior pode ser considerado inteiro sem a participação dos estudantes?

Respeitamos a deliberação do FNPJ, mas externamos aqui nossa preocupação e nosso lamento por tal medida, na esperança de que seja repensada em ocasiões futuras. Tal postura revela um corporativismo desmedido, uma falta de sensibilidade e percepção política e uma prática que distorce o conceito de educação enquanto processo social coletivo.

Os estudantes, com "E", e não alunos (cuja etimologia indica "sem luz"), com "A", não se resignam em ser meros ouvintes dos "doutos iluminados", mas se dispõem a ser co-responsáveis pelo êxito do processo educacional.

Acerca do debate em pauta, a Enecos e o movimento estudantil de comunicação têm contribuído significativamente há muito tempo. Foi num seminário da Executiva, em 1995, que nasceu o Movimento Nacional pela Qualidade de Formação em Comunicação. Tal movimento, entre outros méritos, foi decisivo na elaboração das novas Diretrizes Curriculares para a Comunicação. Neste exato momento, a Enecos está buscando a sua rearticulação, por meio de diálogo com diversas entidades (Fenaj, Intercom, Compós, Fitert e outras). O próprio Fórum de Professores de Jornalismo foi convidado para se juntar ao movimento. Além disso, várias campanhas nacionais foram implementadas pelos estudantes ao longo dos anos; um Grupo de Estudo e Trabalho (GET) se dedica exclusivamente ao assunto; dezenas de monografias qualificadas versaram sobre o tema; documentos temáticos e projetos têm sido elaborados regularmente (como o Avaliação pra Valer!) e a interação com outras entidades da área é permanente, sobretudo nos nossos congressos, encontros, seminários e noutros espaços.

Enfim, reiteramos o grande valor do FNPJ para a discussão a que se propõe e reafirmamos a nossa disposição em contribuir organicamente com este espaço no futuro.

(*) Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social

O atraso na publicação deste texto é de minha exclusiva responsabilidade exclusiva. Assumo integralmente o erro. Qualquer tentativa de responsabilização do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ou deste Observatório da Imprensa é indevida. Feita a ressalva imprescindível, registro que fui informado que o autor do texto acima, Rogério Tomas Jr., então diretor da Enecos, participou da reunião do Fórum. Eu não participei dessa reunião, pelo mesmo motivo que me levou ao erro.