Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Felipe Werneck

SILVIO SANTOS & SBT

"SBT volta a bater a Globo no domingo", copyright O Estado de S. Paulo, 25/12/01

"O SBT teve mais audiência do que a Globo durante toda a tarde e parte da noite do domingo. A emissora carioca só conseguiu se recuperar depois das 23h10, quando entrou no ar a final do programa No Limite 3.

Das 15h45 às 21 horas, o SBT conseguiu média de 25 pontos, no ibope, contra 24 da emissora carioca. Mas houve momentos em que a diferença foi muito grande. Das 18 às 20 horas, o Domingo Legal venceu o Domingão do Faustão com 27 pontos contra 19, em média. O pico foi às 18h43: Domingo Legal, de Gugu Liberato, chegou aos 33 pontos, contra 18 do programa de Fausto Silva.

O SBT continuou na frente entre as 20 e as 21 horas, quando o Programa Legal bateu o especial de Natal da dupla Sandy e Júnior por 31 pontos contra 19.

E seguiu vencendo: entre as 21 e as 23 horas, o programa Desafio dos Alunos Nota 10, uma atração-surpresa preparada por Silvio Santos, bateu o Fantástico por 31 pontos contra 26, em média. O SBT chegou a ter pico de audiência de 36 pontos.

A Globo só venceu o concorrente SBT com a final de No Limite 3, que começou a ser transmitido às 23h10 e obteve média de 37 pontos, contra 7 do SBT. A final de No Limite 3 chegou a ter pico de 41 pontos de audiência. Cada ponto equivale a 80 mil televisores ligados, na Grande São Paulo.

A final de No Limite 3 deveria ter sido realizada no domingo passado. A Globo adiou a exibição para fugir da concorrência com a final do programa Casa dos Artistas, do SBT. A estratégia acabou dando certo.

O resultado foi comemorado, no domingo, pelo diretor de No Limite 3, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, que havia amargado uma derrota histórica na semana anterior, quando o reality show da emissora concorrente atingiu média de 47 pontos, diante dos 17 de No Limite.

?Acreditem ou não, a mudança de data não tem relação com nada disso. O programa estava inicialmente previsto para durar nove semanas?, desconversa Boninho, ignorando a propaganda veiculada no fim de semana passado anunciando a final.

Agora, ele terá a difícil tarefa de comandar o programa Big Brother, com o qual a Globo pretende disputar audiência com a nova edição de Casa dos Artistas. ?Não sabemos ainda se haverá outro No Limite?, admite o diretor. A nova edição de Casa dos Artistas tem estréia prevista para o dia 6.

O vencedor de No Limite 3, que foi gravado na Ilha de Marajó, foi o capitão Rodrigo, que levou para casa um cheque de R$ 300 mil. ?A sorte contou mais?, disse ele, que é comandante de Operações com Cães do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Natal. A primeira reação ao saber do resultado foi dizer que vai doar parte do dinheiro à Casa de Apoio Nazinha Lamartini, uma instituição que, segundo Rodrigo, presta assistência a crianças com câncer, em Natal. ?Também vai ajudar a pagar as contas?, acrescentou.

O militar disse que pode vir a participar de outros programas do tipo, até mesmo do concorrente Casa dos Artistas, caso seja convidado: ?Depois dessa, participo de qualquer coisa.? Ele dedicou o prêmio a suas três ?famílias?:

?Minha mulher, meu filho, minha mãe e meu pai, é claro, e também à minha família PM e minha família motociclista.?

A segunda colocada, Hérica, foi mais direta: ?O programa pode me abrir algumas portas. Meu sonho é ser apresentadora de TV?, contou. Eleita a musa do programa, ela não desconversou sobre a possibilidade de vir a posar nua:

?Se for uma boa proposta, por que não?? Triatleta, a finalista levou R$ 50 mil"

"SBT aposta nas sagas mexicanas", copyright O Estado de S. Paulo, 23/12/01

"A euforia criada pela Casa dos Artistas ainda não acabou, mas a poeira abaixou o suficiente para algumas reflexões sobre a programação híbrida do SBT. Silvio Santos é único na capacidade de gerar fenômenos que, do ponto de vista formal, são inovadores. Menos atrelado a compromissos comerciais (infelizmente para o caixa da emissora), o canal tem recorrido à estratégia de modificar a grade de programação de acordo com o ?insight? do patrão, que tem como bússola os medidores de audiência.

Nos anos 90, Silvio inventou a fórmula de dividir o tempo da novela que acaba (na última semana) com a que estréia. O recurso utilizado para ?transferir? a audiência do horário para o drama seguinte tem dado certo, tanto que se tornou lei no SBT. Pícara Sonhadora, um texto mexicano encenado com elenco nacional, registrou média de 16 pontos no Ibope (cerca de 1,5 milhão de telespectadores na Grande São Paulo) e ?entregou? a mesma média para Amor e Ódio, escrita no México e estrelado por Suzy Rêgo.

O dramalhão, em que a heroína é abandonada no altar pelo noivo arrivista e busca conforto para desilusão no campo, cuidando da fazenda da família, é assinado por Inés Rodena, autora de novelas ?cucarachas? já exibidas pelo SBT: Os Ricos Também Choram, Maria do Bairro, Maria Mercedes, Marimar e A Usurpadora.

O México dá a tônica no cotidiano do SBT não só em Amor e Ódio. A novela infantil Carinha de Anjo também registra 16 pontos de média, enquanto outros três dramalhões garantem o seu ibope. Preciosa (7 pontos de média), Alma Não Tem Cor (8) e Abrace-me Muito Forte (11).

A diferença entre as produções feitas nos estúdios da Via Anhangüera e as que vêm enlatadas são pequenas. O bom é que as gravadas aqui dão trabalho para atores, diretores e técnicos brasileiros, mas a estética, com alguns mililitros de laquê e poucas gramas de pancake a menos, é quase tudo igual.

Os figurinos e cenários são horrendos, os diálogos têm uma primariedade que beira ao ?tatibitate? e a trama, essa sim, é igual à de quase todas ?made in México? já exibidas ou em cartaz. É maniqueísta, conservadora e dona de uma breguice retumbante.

O desempenho desse tipo de ficção na audiência vem mostrar que, mais uma vez, Silvio Santos conhece o público com o qual fala. Porque, com exceção de Éramos Seis (que atingiu 20 pontos de média), nenhuma outra novela escrita por brasileiros deu mais do que 9 ou 10 pontos no SBT, nem a estrelada pelo galã Fábio Jr. (Antonio Alves Taxista) e, o curioso, nem a reedição de textos consagrados tais como As Pupilas do Senhor Reitor, Sangue do Meu Sangue, Direito de Nascer ou Os Ossos do Barão.

Como o paladar de sua platéia (que se concentra em pessoas das classes C, D e E – 76%) aprova o tempero mexicano, SS investe nele conseguindo o que nenhuma outra emissora fora a Globo conquistou: uma audiência cativa. No jargão da TV, isso quer dizer que 16% da massa dos telespectadores são fiéis ao SBT no horário nobre, independentemente da novela que esteja no ar.

Aí que está, a parcela que cabe ao SBT nesse mercado de espectadores é formada por pessoas que, ao mesmo tempo aprovam atitudes ?modernas? e ousadas como o lançamento do reality show Casa dos Artistas, apóiam a volta ao passado no campo da ficção, prestigiando dramas descartados pela Globo nos anos 70, quando despediu a escritora cubana Glória Magadan."